Sociedade | 06-09-2023 15:00

Gestão público-privada em Alpiarça acaba com abandono de paul com nove mil anos

Gestão público-privada em Alpiarça acaba com abandono de paul com nove mil anos
O ministro do Ambiente, Duarte Cordeiro, com a presidente da Câmara de Alpiarça, Sónia Sanfona, e os proprietários da Quinta da Atela, Anabela Tereso e Fernando Vicente

Câmara de Alpiarça e Quinta da Atela vão gerir a recém-criada Reserva Natural do Paul da Gouxa, uma importante área natural alagada com características raras na Europa, e que esteve até agora ao abandono. A constituição da reserva de 140 hectares aprovada pela Comissão Europeia é uma garantia de salvaguarda de um património com nove mil anos de material vegetal e uma zona de grande importância ambiental.

A reserva natural do Paul da Gouxa, em Alpiarça, que guarda material vegetal desde há nove mil anos, e que foi aprovada em Março pela Comissão Europeia, vai ter uma gestão bipartida entre a Câmara de Alpiarça e a Quinta da Atela, propriedade onde se situa a maior parte da área constituída por uma turfeira rara na Europa. A presidente da autarquia, Sónia Sanfona, que assinou o protocolo com a entidade privada, na sexta-feira, 25 de Agosto, salienta que este é um culminar de um sonho que contraria a dificuldade que é conseguir-se alinhar interesses que “muitas vezes vão contra aquilo que a própria economia vai gerando”.
Dos cerca de 140 hectares da reserva, dos quais 90 hectares estão ocupados pela turfeira, 75% situam-se em terrenos da quinta e os restantes pertencem ao município. Para Sónia Sanfona o protocolo de gestão tem as condições para dar maior grandiosidade a esta área ambiental importante e garantir a sua preservação. Anabela Tereso, proprietária da Quinta da Atela, mostra-se satisfeita por ser possível recuperar área muito importante para o eco-sistema, que “desempenha um papel fundamental no combate às alterações climáticas”. A empresária garante que está disponível para ajudar no que for preciso.
O ministro do Ambiente e da Acção Climática, que esteve na apresentação da reserva e na assinatura do acordo de gestão, defendeu que zonas húmidas com as características da Reserva Natural do Paul da Gouxa são habitats prioritários. “Sabemos que estes habitats têm que ser protegidos, pelas suas características do ponto de vista da preservação da biodiversidade e preservação do carbono armazenado”, referiu.
A constituição da reserva foi sustentada por uma investigação de Ana Mendes, bióloga da Universidade de Évora. O Paul da Gouxa, além do material vegetal de extrema importância (ver caixa), aloja diversas espécies animais, como corujas das torres, mochos-galegos, milhafres pretos, águias de asa redonda, águias calçada, bufos-reais, raposas, lontras, papalvos, doninhas, ginetes e saca-rabos. É também um importante refúgio migratório de aves e de nidificação.

Um caso raro na europa

A importância a nível europeu do Paul da Gouxa deve-se ao facto de ter uma turfeira em zona de água com uma profundidade de cerca de nove metros, quando na Europa o que é frequente é terem três a quatro metros. A investigadora da Universidade de Évora, Ana Mendes, explica que o que torna este local tão especial é ter acumulado material vegetal de há nove mil anos a esta parte.
A investigadora sublinha que as turfeiras “encontram-se a latitudes mais a Norte ou também em zonas tropicais” e que consistem numa zona alagada em que o material vegetal fica preservado pela água, afunda-se e fica acumulado em profundidade. Ana Mendes ficou surpreendida com as características do Paul da Gouxa, sobretudo por ser tão antigo e por ter “uma acumulação extraordinária” em comparação com as existentes no norte europeu.
Para a bióloga há uma responsabilidade muito grande na preservação desta área, porque, explica, “se há evaporação de água e se este material vegetal deixa de ter esta cobertura de água, o carbono que está ali acumulado desde há nove mil anos começa a ser libertado para atmosfera. Em contexto de alterações climáticas, aquilo que não queremos é precisamente que isto aconteça”, referiu em declarações à TSF.
O paul contém também a maior mancha continental de salgueiro-negral. Há estimativas que apontam para que esteja acumulado no paul cerca de um milhão de toneladas de carbono, o que faz desta turfeira uma importante aliada na luta contra as alterações climáticas.

Câmara de Alpiarça quer transformar parque de campismo em eco-resort

A Câmara de Alpiarça pretende transformar o parque de campismo municipal, que está encerrado ao público, num eco-resort sustentável. A informação foi dada pela presidente do município, Sónia Sanfona durante a apresentação do projecto da Reserva Natural do Paul da Gouxa. A intenção é criar ligação entre o eco-resort e a Reserva Natural do Cavalo do Sorraia e a Reserva Natural do Paul da Gouxa. Como O MIRANTE noticiou, o Parque de Campismo de Alpiarça está encerrado desde Julho deste ano depois da concessionária que estava a explorar o espaço ter solicitado a antecipação do termo do contrato. A informação foi dada em sessão camarária pela presidente do município que esclareceu que era incomportável para a concessionária que estava a explorar o espaço continuar a pagar rendas quando já existiam algumas em atraso. “Antes da pandemia a situação já era difícil e depois da pandemia ainda foi mais difícil retomar os clientes habituais que deixaram de vir. A senhora solicitou-nos a antecipação do termo do contrato e chegamos a entendimento sobre o pagamento das rendas”, esclareceu a autarca.
Sónia Sanfona esclareceu que o município tem recebido algumas propostas de pessoas que querem investir. “Se as propostas não forem ao encontro daquilo que pretendemos, avançamos nós com o projecto e vamos avançar, dentro das nossas possibilidades financeiras, no sentido de requalificar o parque”, sublinhou. Sónia Sanfona acrescentou ainda que estão a contar ter o parque de campismo, transformado em eco-resort, a funcionar no próximo ano. “O município não tem condições para o abrir porque não tem pessoal para garantir o funcionamento nem temos condições para recuperar um conjunto de infraestruturas que lá estão e não estão funcionais. O parque não tem condições para ter lá pessoas”, garantiu.
O Parque de Campismo de Alpiarça esteve encerrado entre 2002 e 2009. Voltou a abrir após um investimento de mais de 95 mil euros, mas em 2016 voltou a encerrar como parque de campismo. Reabriu como equipamento turístico, mas entretanto estava novamente a funcionar como parque de campismo.

Município vai colocar painéis fotovoltaicos nos edifícios municipais

A Câmara de Alpiarça avançou com uma hasta pública para concessionar a colocação de painéis fotovoltaicos nas coberturas dos edifícios municipais. “Vamos poder aceder a auto-consumo e vamor poder fornecer energia limpa a toda a população do concelho”, afirmou a presidente do município, Sónia Sanfona. Além disso, a Câmara de Alpiarça já celebrou protocolo com a Agência Portuguesa do Ambiente (APA) para reabilitação ambiental da Albufeira dos Patudos e da zona envolvente. “É um espaço que, apesar de não ser utilizado para consumo humano nem animal, é um espelho de água que é uma referência na região. Estamos a preparar tudo para avançar com a sua limpeza uma vez que nunca foi feita desde a sua construção”, acrescentou.

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