Joselda Serras tem 93 anos e é a artesã mais antiga do Entroncamento
Nasceu no concelho de Sardoal, mas mudou-se para o Entroncamento há cerca de quatro décadas. Joselda Serras aprendeu o ofício de artesã muito cedo, fazendo sobretudo trabalhos como cachecóis, camisolas e naperons, mas ficou conhecida pelos seus bonecos de lã. Actualmente o artesanato é um dos seus passatempos enquanto está no centro de dia.
Joselda Serras de Almeida é muito acarinhada pela sua alegria e boa disposição, mas é sobretudo conhecida por ser a artesã mais antiga do concelho do Entroncamento. Com 11 anos aprendeu a fazer os primeiros trabalhos em lã com a mãe que, segundo conta a O MIRANTE, de umas simples meias rotas fazia trabalhos artísticos muito complexos. A influência de uma das suas grandes referências na vida ditou-lhe o destino; desde que começou a aprender com a mãe nunca mais parou e dedicou toda a sua vida, que já vai com 93 anos, ao artesanato.
Já fez tantos bonecos de lã que lhes perdeu a conta; convidada a puxar pela memória, garante que já vai nas centenas, mas que a maior parte dos seus trabalhos foi doando a amigos e familiares, tendo ficado com poucas unidades em sua casa. Joselda de Almeida explica ao nosso jornal que houve uma altura em quis doar todos os trabalhos à Câmara do Entroncamento, mas como sentiu pouco interesse por parte do município, resolveu oferecer as suas obras a algumas crianças que conhecia. “Acabou por ser mais bem entregue. Gosto muito de ver uma criança com um sorriso de orelha a orelha e um brilho nos olhos por ter um ‘brinquedo’ novo. Também são as crianças que agradecem com mais genuinidade”, sublinha.
A artesã chegou a expor e vender algumas peças em algumas feiras semanais e mensais, nomeadamente a do Entroncamento, Vila de Rei e Celorico de Basto. Com o avançar da idade, e por já não ter a mesma destreza que tinha há uns anos, decidiu deixar de fazer do artesanato uma profissão. Há cerca de dois anos o artesanato passou a ser uma forma de lazer e de passar o tempo, realidade a que se adaptou com muita facilidade, tirando, admite, mais proveito agora do que antigamente. Mesmo não exercendo profissionalmente, acrescenta, o artesanato continua a assumir um papel com muito valor e de enorme importância na sua vida. Questionada sobre o que faz dela uma referência no artesanato e uma figura respeitada, a resposta surge com convicção: “acredito que um bom artesão precisa de prática, repetição, talento, mas sobretudo tem que ser criativo; tem de ser capaz de olhar para um objecto simples e idealizar algo mais complexo”, refere.
Actualmente, Joselda de Almeida passa os tempos livres no Centro de Dia do Lar dos Ferroviários, no Entroncamento, sempre com novelos de lã e algumas agulhas por perto; quem visitar a instituição deverá encontra-la no jardim a fazer tricô. Às vezes, conta, aventura-se e tenta ensinar o ofício aos outros utentes ou até mesmo familiares de utentes, mas até agora não conseguiu pegar o “bichinho” a nenhum, afirma, em jeito de brincadeira.
Agora em jeito de crítica, Joselda Serras acredita que podia haver muito mais apoio ao artesanato local por parte do município. Explica que, no seu caso, foram escassos os apoios e que, salvo os transportes para as feiras mais distantes, como o caso de Celorico de Basto, a Câmara do Entroncamento pouco contribuiu para o desenvolvimento do artesanato no concelho e para que os artesãos tivessem condições para desempenhar o seu trabalho e colocar à disposição das pessoas a sua arte.