“Concelho da Golegã estava a precisar de mudança”
António Camilo vai completar dois anos como presidente da Câmara da Golegã e quer continuar no cargo durante muitos anos. Uma conversa sobre o percurso de um homem que se diz do povo e que tem na família o seu porto de abrigo.
Turismo, educação e habitação são os principais desafios que tem pela frente, sem esquecer muitos outros, como tornar a Feira Nacional do Cavalo auto-sustentável. Uma conversa sobre o percurso de um homem que se diz do povo e que tem na família o seu porto de abrigo.
António Camilo é um homem tranquilo, de fácil trato, e gosta de olhar nos olhos das pessoas quando fala com elas. O seu aspecto físico, corpulento, contraria o que é em termos emocionais: uma pessoa que assume ter muitas fragilidades, embora as tente ultrapassar diariamente com força de vontade e com a procura incessante de ser um melhor pai e homem de família. Tem quatro filhas, duas delas gémeas. A conversa com O MIRANTE começa com um desabafo incomum para alguém que é presidente da Câmara da Golegã há dois anos, embora leve mais de uma dezena enquanto autarca, oito dos quais como presidente da Junta da Golegã: uma das suas filhas sofre de problemas graves de saúde e passar a mensagem de que a saúde mental é a doença do futuro tem sido uma das suas missões enquanto representante político.
António Camilo nasceu em Angola, onde viveu até aos 16 anos. Os seus pais eram fazendeiros. Quando veio para Portugal, contra a sua vontade, foi estudar para Aveiro onde viveu em casa de uma tia. Um ano depois chegou ao Ribatejo quando um dos seus irmãos comprou o café/restaurante Santo António, onde trabalhou enquanto estudava. Antes de ir para a tropa, o seu tio, que era presidente da Câmara de São João da Pesqueira, proporcionou-lhe um estágio naquele município. Conheceu a primeira mulher, casou, e entrou na câmara da Golegã em 1980 na área da dactilografia. Mais de quatro décadas depois, e após cumprir funções sobretudo na área administrativa e finanças, é eleito presidente do município por um movimento independente, embora apoiado pelo PSD. Pelo meio foi dirigente em várias associações do concelho, destacando-se a presidência do Futebol Clube Goleganense e a direcção dos bombeiros voluntários.
Diz que não tem arrependimentos e que dorme descansado durante a noite. A presidência da autarquia deu-lhe alguns quilos a mais, que anda a tentar perder com uma alimentação mais equilibrada. Não se descai muito em relação à sua vida amorosa actual, embora revele que tem alguém “muito especial” que lhe dá muita força para encarar o dia-a-dia.
A conversa com O MIRANTE decorreu no seu gabinete, situado paredes-meias com o salão nobre do edifício dos Paços do Concelho, às 11h00 de uma quarta-feira…
Como tem sido o seu dia? É engraçado, julgo ser a primeira vez que me perguntam isso numa entrevista. Os meus dias são muito repetitivos nos últimos dois anos. Levanto-me todos os dias por volta das 06h30 e meto o correio em dia, olhando para alguns emails e respondendo a outros. Procuro estar todos os dias às 8h00 no estaleiro para dar uma palavra aos funcionários que vão para a rua. Muitas vezes dou-lhes referências de coisas que têm para fazer porque recebi mensagens de munícipes a alertarem-me. Por volta das 9h chego ao gabinete, embora nunca marque reuniões para antes das 10h00 de forma a ter tempo de planear o dia.
Hoje, por exemplo, tem a agenda preenchida? Já estive na Azinhaga e Golegã a acompanhar o projecto “Just a Change”, uma associação de voluntários que recupera habitações para atribuir a famílias carenciadas. Tenho uma reunião com a Casa do Povo do Pombalinho; vamos lá almoçar para ouvir e perceber quais as dificuldades. À tarde tenho de assinar despachos da divisão financeira e vou reunir com algumas colectividades. Gosto é de estar com pessoas.os cargos.
A ponte da Chamusca é uma aberração
Como é que olha para o problema da ponte da Chamusca? É um entrave para o desenvolvimento da região. É um tema debatido em 90% das nossas reuniões da CIMLT. A minha opinião é a mesma: façam uma ponte onde quiserem, junto à Chamusca, em Constância, em Abrantes, mas façam-na e retirem o trânsito pesado desta. A ponte da Chamusca é uma aberração, aliás, nem devia existir algo parecido no mundo civilizado em que vivemos. Acho que há falta de vontade política do Estado para alterar o cenário e melhorar a vida das populações e das acessibilidades em vários concelhos.
O funcionário que fez frente ao presidente da câmara
Foi funcionário da câmara durante 40 anos. Há algum momento que queira partilhar? Trabalhei sempre com os presidentes de câmara, respeitei todos e dei-me sempre ao respeito. Trabalhava na parte de administração, finanças e contabilidade, e sei perfeitamente como se faz um orçamento de câmara. Acho que não ter rabos de palha e ser uma pessoa consensual é uma das coisas de que mais me orgulho.
Como ganhou confiança para fazer frente a um dos seus mentores? O José Veiga Maltez [anterior presidente de câmara] tem um feitio muito próprio. Posso partilhar que votei nele uma vez nas várias que se candidatou à câmara. Considero que um dos seus maiores defeitos enquanto liderou esta autarquia foi escutar pouco a opinião dos outros. Depois também o vi, e não fui só eu, demasiado acomodado ao cargo e pensei que o concelho da Golegã estava a precisar de uma grande mudança.