Alberto Amado corta barba e cabelo em Riachos há mais de sete décadas
Conhecido por Alberto barbeiro começou a aprender o ofício há mais de setenta anos em Riachos, a vila do concelho de Torres Novas onde, aos 83 anos, mantém as portas da barbearia abertas.
Carlos Alberto Amado, mais conhecido por Alberto barbeiro, é, aos 83 anos, um dos barbeiros tradicionais mais antigos de Riachos. Na profissão que exerce com gosto há mais de 70 anos muito mudou. O uso da navalha com lâminas descartáveis substituiu a navalha que se afiava com afinco e e os géis de barbear tiraram o lugar ao sabão em pó que noutros tempos ensaboava os rostos mais ou menos barbudos dos clientes. Hoje são poucos os que lhe pedem para cortar a barba, porque a deixam crescer ou a fazem em casa. Antigamente, quando se apresentavam em fila à porta da barbearia, sobretudo às quartas-feiras e aos sábados, não havia grandes modas. “Cortavam, faziam bigode ou pêra. Agora a maioria usa barba”, vinca o barbeiro com quem O MIRANTE se pôs à conversa a propósito do Dia Mundial da Barba que se assinalou no sábado, 2 de Setembro.
Apesar da redução drástica de clientes, a simpatia, profissionalismo e paixão pela profissão continuam a marcar a relação que mantém com aqueles que ainda procuram os seus serviços. Alguns, nota, são-lhe fiéis desde o início do seu percurso como barbeiro. Entre esses está Simão que viaja propositadamente de Abrantes a Riachos. “É um barbeiro daqueles à antiga, profissional e educado. Até sinto que o estou a atraiçoar se for a outro lado”, confessa o cliente.
Fez-se barbeiro por acaso
Alberto Amado deixou a escola aos 10 anos para vender jornais por sugestão de um barbeiro que tinha estabelecimento aberto junto à estação de comboios de Riachos. Como a família vivia com dificuldades, dava a volta a Riachos descalço para vender jornais a ganhar 50 escudos por mês. O rumo mudou quando num dia em que a barbearia estava repleta de clientes, Alberto Amado agarrou a oportunidade e experimentou o ofício. A partir daí passou a ir para a barbearia todos os dias para aprender com aquele que chama de “o grande mestre Abílio”. Na altura, fazer a barba custava 15 tostões.
Dos 15 aos 19 anos, trabalhou em várias barbearias em Torres Novas e Riachos e, em 1959, voltou a trabalhar na barbearia que foi a sua casa mãe. Aos 20 anos foi para a tropa durante 33 meses e quando voltou para Riachos casou e abriu, em 1963, o seu estabelecimento por conta própria perto do centro da vila: a Barbearia Desportiva. Na mesma rua existiam mais dois barbeiros, mas a concorrência não era um problema porque não faltava clientela.
Em 1978 começou a trabalhar no Campo Militar de Santa Margarida como barbeiro onde esteve durante 22 anos, sem nunca deixar o seu estabelecimento que tinha mudado para um quarto na sua casa em Riachos. O carro militar passava às 07h30 para levar o barbeiro que voltava ao final da tarde para abrir as portas da sua barbearia onde os fregueses o esperavam. Alberto acredita, sem falsa modéstia, que é o barbeiro mais internacional da região pois cortou cabelo e barba a militares de todos os pontos do país, e a americanos, ingleses, italianos, franceses e canadianos. “Enquanto puder vou continuando, gosto de servir os clientes”, termina o barbeiro que apesar da dificuldade em andar não larga o ofício.