Túnel ferroviário em VFX implicaria demolição da Fábrica das Palavras e elevados riscos geotécnicos
Mais de 500 milhões de euros é o custo estimado para enterrar a linha de comboio entre Alhandra e Vila Franca de Xira. De acordo com a Infraestruturas de Portugal esta solução implicaria a demolição do edifício da Fábrica das Palavras, alteração profunda do Jardim Constantino Palha e riscos acrescidos tendo em conta as cheias e o risco sísmico.
A demolição do edifício da Fábrica das Palavras e de grande parte das casas na Travessa da Indústria e Rua do Cais, em Vila Franca de Xira, são implicações directas do enterramento da linha ferroviária no troço Alverca-Castanheira do Ribatejo, para implementar a linha de alta velocidade. A documentação facultada pela Infraestruturas de Portugal (IP) explica o que está em causa se a opção for enterrar a linha de comboio, uma solução defendida por movimentos de cidadãos e autarcas, em vez do projecto de quadruplicação da actual Linha do Norte.
Caso a opção seja a construção de um túnel a nascente do actual canal da Linha do Norte, a IP diz que é necessário demolir a Fábrica das Palavras, deitar abaixo grande parte do conjunto habitacional da Travessa da Indústria e Rua do Cais, demolição dos Armazéns Robalo e Pollux e afectação profunda do Jardim Municipal Constantino Palha e relocalização do coreto.
Durante as obras seria também afectado o largo do cais e da marina e à entrada da cidade e teriam de ser eliminados mil metros de passeio pedonal ribeirinho. Além disso, os pilares da Ponte Marechal Carmona teriam de ser reforçados, com as consequentes restrições do tráfego rodoviário durante a obra. As linhas de água poderiam ser afectadas incluindo a ribeira de Povos, cuja restituição, na sua maioria, só será possível com recurso a conjuntos de grupos elevatórios, e poderia ser também afectada a Praça de Touros Palha Blanco.
Na última reunião do executivo da Câmara de Vila Franca de Xira, foi adiada a votação da moção da Coligação Nova Geração sobre o reforço do serviço sub-urbano, o novo canal de alta velocidade e a quadruplicação de via em Vila Franca de Xira. Os autarcas de todas as forças partidárias decidiram voltar a falar sobre o tema numa reunião de câmara extraordinária que ainda não foi marcada.
Túnel em leito de cheia
implica riscos elevados
A solução do enterramento da linha de comboio apresenta riscos elevados. A IP sublinha que as empreitadas subterrâneas são estruturas extremamente complexas sendo difícil determinar um custo realista sem estudos mais detalhados. A estimativa da empresa aponta para 500 milhões de euros (projecto e obra) e um prazo de execução superior a 52 meses.
Em termos geotécnicos, a IP refere que os solos em causa são pouco resistentes e com um nível freático elevado e variável. O risco é maior porque os solos estão numa zona sísmica em que é necessário implementar medidas de mitigação face à proximidade ao rio Tejo. Existe ainda potencial perda de equilíbrio por impulsão e rotura hidráulica do terreno e a necessidade de serem efectuados trabalhos fluviais.
A nível hidrológico, a IP recorda que a obra de um túnel em leito de cheia implica um elevado risco para a exploração ferroviária, perante a eventualidade da ocorrência de fenómenos extremos de precipitação. Atendendo ao registo histórico do local, entre os quais se destacam as cheias de 1967 e 1983, o risco ainda é maior.
A IP defende por isso que a quadruplicação da linha entre Alhandra e Vila Franca de Xira é a melhor solução. Esta opção permite duplicar a oferta de comboios sub-urbanos entre Lisboa e Castanheira do Ribatejo/Azambuja e oferecer um horário mais cadenciado. A empresa pública garante que aumenta a oferta do serviço regional no Entroncamento e Tomar e nas horas de ponta vão circular mais 18 comboios: oito sub-urbanos, três regionais, dois de longo curso e cinco de alta velocidade.
A quadruplicação da linha não bloqueia o acesso ao rio, de acordo com o estudo, e todas as passagens superiores rodoviárias e pedonais ao caminho-de-ferro serão mantidas ou substituídas melhorando as suas condições de acesso. É mantido todo o traçado do caminho ribeirinho entre Alhandra e Vila Franca de Xira e serão criadas zonas verdes numa área estimada de 104 mil metros quadrados.
Corte de árvores em Alhandra e demolições em VFX
Na vila de Alhandra o projecto proposto pela IP refere que a Av. Afonso de Albuquerque mantém o actual passeio junto aos edifícios, assim como as faixas de rodagem, estando prevista uma redução da largura do passeio adjacente à via férrea. Naquele passeio serão abatidas 160 árvores (área estimada de 13.500 m2) e não é afectada a “Escola das Meninas”. Não se prevêem demolição de habitações. A passagem superior rodoviária na zona da Cimpor será demolida e construída uma nova no mesmo sítio.
Na cidade de Vila Franca de Xira está prevista uma redefinição do Jardim Constantino Palha, a estudar com a câmara, ficando o coreto no mesmo local. Não haverá qualquer afectação da Fábrica das Palavras nem da passagem superior pedonal adjacente. Implicará a demolição, na zona do cais, de oito edificações para quadruplicação do canal ferroviário e para garantir o acesso a veículos de emergência. Serão viabilizadas uma nova zona da verde e de lazer, a sul da Fábrica das Palavras, e uma nova passagem superior pedonal para acesso ao Largo 5 de Outubro.
Estacionamento aumenta com a quadruplicação da linha
A IP garante que o número de lugares de estacionamento não diminui e até poderá aumentar. Com a quadruplicação da linha, Alhandra passa de 416 lugares de estacionamento para 646 lugares (+55%) e Vila Franca de Xira passa de 372 para 751 lugares (+100%). As intervenções propostas para criação de estacionamentos serão articuladas com a autarquia.