Sociedade | 13-09-2023 18:00

Tomar ansiolíticos e antidepressivos durante muito tempo pode levar à demência

Tomar ansiolíticos e antidepressivos durante muito tempo pode levar à demência
Marta Silva, psicóloga clínica e neuropsicóloga, defende que ansiolíticos e antidepressivos devem ser tomados em situações agudas e durante pouco tempo

Isolamento, tristeza acentuada, perda de prazer em actividades que antigamente eram importantes para o adolescente são sinais a que se deve dar atenção. O suicídio é a segunda causa de morte em adolescentes em Portugal.

Os idosos não gostam da solidão mas não têm medo da morte. O que os assusta é o sofrimento que pode acontecer com a degradação do corpo. Uma entrevista com a psicóloga clínica e neuropsicóloga Marta Silva, a propósito do Dia Nacional do Psicólogo que se assinala a 4 de Setembro.

Tomar ansiolíticos e antidepressivos durante muitos anos seguidos pode levar a situações demência e a processos de degradação cognitiva. O alerta é de Marta Silva, psicóloga clínica e neuropsicóloga, há cinco anos, que trabalha em Unidade de Cuidados Continuados e dá consultas em Almeirim nos Consultórios Médicos do Jardim. “Os fármacos podem ser úteis em fases agudas mas não temos que tomar medicamentos durante anos porque a medicação torna-se desadequada ao longo do tempo, o que geralmente leva a processos de degradação cognitiva. É um problema sério que deve ser combatido”, refere a psicóloga, acrescentando que os fármacos camuflam o sintoma mas não estão a resolver o problema que tem que ser trabalhado desde a sua origem.
O suicídio nos jovens é a segunda causa de morte em Portugal. Marta Dias explica que na adolescência há uma fase de descoberta de quem somos, que relação temos com os pais, familiares e amigos. A aceitação do corpo, da própria imagem, não é fácil uma vez que não existe maturidade num adolescente para se aceitar como é. “Pode haver um nível menor de tolerância à frustração, talvez porque ouviram menos nãos dos pais, mas nessa fase existem sempre problemas de auto-estima e aceitação. São factores de risco a que os pais devem estar atentos”, realça a psicóloga.
Isolamento, tristeza acentuada, perda de prazer em actividades que antigamente eram muito importantes para o adolescente. Estes são sinais a que todos devem estar atentos assim como a ideias relacionadas com a morte. “Estes são sinais de alerta para ter em consideração na altura de procurar ajuda”, refere. A psicóloga diz ainda que na transição da vida de estudante para a vida adulta também podem existir períodos de frustração. “Os jovens fazem planos para o futuro, criam expectativas e muito provavelmente idealizaram que aos 30 anos teriam uma casa, um carro, um emprego estável, filhos. Chegar a essa idade e não atingir esses objectivos pode levar a um processo de auto-destruição a que os mais próximos devem estar atentos para ajudar”, realça.
Marta Silva considera que já não existe tanto o estigma de que quem procura o psicólogo tem uma doença mental. A pandemia ajudou a combater essa ideia, embora nos meios mais pequenos ainda haja quem vá a outra localidade para os vizinhos não saberem. “Devemos procurar o psicólogo quando sentimos que todos os recursos que utilizamos sozinhos não estão a funcionar, quando andamos às voltas e não resolvemos o problema. É normal não conseguirmos ver o problema sozinho e não há que ter vergonha de pedir ajuda”, sublinha.
A psicóloga tem mais mulheres do que homens a procurarem a sua consulta. “Os homens, regra geral, de uma faixa etária a partir dos 40 anos, aprenderam que não podem chorar e que não existem problemas emocionais ou fragilidades. No entanto, seria extremamente importante que pedissem ajuda porque vão acumulando problemas e emoções e se não conseguem resolvê-los a vida torna-se mais difícil”, alerta. Marta Silva diz que para os mais jovens já está normalizado que uma ida ao psicólogo pode ajudar a vida mental de cada um.
Os casos que mais mexem consigo são os pacientes com doenças neurodegenerativas como, por exemplo, esclerose lateral amiotrófica ou esclerose múltipla. “Nestes casos há um processo de regressão a nível físico em que apoio a pessoa mas são situações muito impactantes. Tem que existir um grande apoio psicológico nas pessoas que sofrem de doenças neurodegenerativas”, sublinha.

Idosos sentem a solidão e têm medo do sofrimento antes da morte

Os problemas das pessoas mais velhas são a solidão, o medo do sofrimento e do processo de degradação física, com perda de capacidades. “É isso que mais as assusta. Quando são o apoio dos familiares ficam preocupados como é que a família vai ficar quando já não estiverem cá. E também há o exemplo contrário, que é sentirem que já não estão cá a fazer nada e sentem-se um fardo para a família. Muitos não têm medo da morte mas sim do sofrimento que pode causar”, explica Marta Silva, acrescentando que quando se reformam há a probabilidade de existir uma depressão porque deixam de ser activos de um dia para o outro após uma vida sempre a correr.
A maioria dos problemas dos adultos que procuram Marta Silva é sobre relacionamentos amorosos. Também existem pacientes com depressão, perturbação obsessiva compulsiva ou ataques de pânico. A psicóloga refere que após a pandemia continuam a surgir dificuldades de relacionamentos sociais ou interacções amorosas feitas pessoalmente. “As interacções foram mudando durante a pandemia, o relacionamento passou a ser mais virtual e algumas pessoas desaprenderam a interagir cara a cara. Se somarmos a isto pessoas já com dificuldades do ponto de vista relacional e com baixa auto-estima há que voltar ao processo anterior à pandemia, mas nem sempre é fácil”, sublinha a psicóloga.

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