Complexo de esquerda no serviço público de saúde
Fernando Afoito é médico e foi coordenador da Saúde no distrito. Diz que as PPP mostram que é possível gerir bem o sector público da Saúde com menos gastos.
Nesta entrevista, na cozinha da sua casa em Mação, o clínico diz que as medidas das autarquias para fixar médicos não são atractivas porque não permitem perspectivar uma carreira. Critica a burocracia que inunda os centros de saúde com atestados para tudo e mais alguma coisa, a falta de qualidade dos serviços de urgências que estão cheios, não porque há muitos mais utentes mas porque a mesma pessoa tem de lá ir duas e três vezes para resolver o seu problema. Diz que as Parcerias Público-Privadas vieram mostrar que é possível gerir bem o sector público da saúde, com menos gastos mas, como aconteceu com o Hospital de Vila Franca de Xira, o país continua a ser vítima de um complexo de esquerda desde 1974 com a revolução do 25 de Abril.
Há unidades de cuidados de saúde personalizados, unidades de saúde familiar de dois tipos, cada uma com condições e remunerações diferentes. Isso é que desmotiva os médicos? Há uma zona comum, que é actualmente os médicos serem mal pagos. Conheço unidades de cuidados de saúde personalizados com mais qualidade que algumas unidades de saúde familiar e com médicos a ganharem bastante menos. São os profissionais que fazem as casas e é preciso haver algum espírito de trabalho e dedicação.
Como é que vê a saúde com a nova geração de médicos? As novas gerações de médicos pretendem ter mais tempo para eles. Pretendem viver mais a família, o lazer, e não estarem tão entranhados na profissão. Por um lado é bom. Por outro, assiste-se a uma coisa espectacular, que é o país ter um rácio de médicos por habitantes que é dos melhores da Europa e parece que não há médicos em Portugal. Se neste momento acabasse o curso e estivesse a morar em Lisboa ou no Porto certamente não viria para Mação ganhar 1.500 ou 1.800 euros, ter de me deslocar, de arranjar alojamento. Os médicos, bem como outros profissionais de saúde, não são aumentados há mais de 10 anos.