Clube dos Saberes é um projecto que faz a diferença na vida de 40 idosos de Santarém
O Clube dos Saberes é um projecto da Associação para o Desenvolvimento Social e Comunitário de Santarém criado há cerca de seis anos para dar mais vida e alegria aos 40 seniores de Tremês e outras freguesias do concelho de Santarém que participam nas actividades.
A ADSC foi criada há cerca de 30 anos e é a única instituição que desenvolve trabalho social em meio rural. Dispõe também de duas creches, em Tremês e no Verdelho, que estão lotadas.
Mário Ferreira tem 95 anos e não dispensa as actividades promovidas pelo Clube dos Saberes da Associação para o Desenvolvimento Social e Comunitário de Santarém (ADSCS), em Tremês, concelho de Santarém. Natural de Azoia de Baixo, onde vive, é o utente mais velho do Clube dos Saberes. Começou por ir com a esposa. Quando esta faleceu decidiu continuar a participar mesmo sem a sua companheira de uma vida. “Ela não iria querer que eu ficasse em casa sozinho. Passo aqui alguns dias por semana e é muito bom o convívio. Parece que rejuvenescemos”, afirma o antigo agricultor que também foi padeiro durante dez anos e caçador profissional. Em casa ocupa os tempos livres com a sua horta. Faz tudo para não estar parado em frente à televisão.
Noémia Correia, de 80 anos, e o marido José Correia, de 83 anos, são de Joaninho, freguesia de Abitureiras. Descobriram o Clube dos Saberes depois de Elisabete Paulo, animadora socio-cultural da ADSCS, os ter convidado para aparecerem num piquenique. José Correia aceitou o convite mas confessa ter ido contrariado. “Na minha cabeça só pensava que ia para um lugar cheio de velhos quando quero é ver malta jovem para me sentir mais novo. Quando lá cheguei fui surpreendido, estava tudo muito bem organizado e muito animado”, recorda.
Noémia Correia, que foi cozinheira durante 25 anos, gosta de dançar, de ir à hidroterapia e ginástica. Só não é muito apreciadora de trabalhos manuais. José Correia, que foi cobrador de bilhetes em autocarros, gosta de escrever alguns pensamentos depois de conversar com os colegas durante o dia. Retira frases de documentários que ouve na televisão e entretém-se a escrever à noite. O casal viveu durante 40 anos em Lisboa e regressou à terra natal. As saudades de Joaninho falaram mais alto na hora de decidir se ficavam na capital ou se regressavam.
A seu lado na sala do Clube dos Saberes está Celeste Colaço, de 86 anos. Viveu em França mais de 40 anos, onde trabalhou como costureira. Quando regressou a Tremês passou a frequentar o espaço com o marido, que entretanto faleceu. Aproveita os dias para costurar, fazer trabalhos manuais. “Faz sacos aos quadrados muito bonitos”, atira uma colega que está a ouvir a conversa com O MIRANTE. Celeste Colaço não dispensa as aulas de hidroterapia e o convívio com os colegas, onde aproveitam os momentos livres para colocar a conversa em dia. Estiveram três semanas de férias e muitos já estavam com saudades do encontro.
Braz Neves é o utente mais jovem. Tem 76 anos e é natural de Tremês. Trabalhou na área da hotelaria e foi dos que ajudou a fundar o Clube dos Saberes. Gosta de participar em tudo. Já emagreceu e sente-se um jovem. “Quero chegar aos 90 anos com saúde. Se ficar em casa parado morro mais depressa. Aqui estou bem acompanhado e o convívio é muito bom entre todos”, garante.
O Clube dos Saberes, que conta com 40 elementos, foi criado há cerca de seis anos pela animadora socio-cultural Elisabete Paulo. O principal propósito do projecto é que os mais velhos sejam felizes. No Clube dos Saberes há aulas de dança, expressão dramática, hidroterapia, culinária, costura, artes plásticas, entre outras actividades. Produzem um jornal por ano onde publicam, com fotografias e pequenos textos, as actividades que realizam ao longo do ano.
Trabalho social em meio rural
A Associação para o Desenvolvimento Social e Comunitário de Santarém foi criada há cerca de 30 anos para apoiar os mais idosos de Tremês e das freguesias à volta. É a única instituição que desenvolve trabalho social em meio rural. Tem duas creches, em Tremês e no Verdelho, com 32 crianças cada, que estão lotadas. A ADSCS dispõe de um programa alimentar, fazendo a distribuição de alimentos a famílias carenciadas das freguesias mais próximas. Ao todo apoiam cerca de um milhar de pessoas. No apoio ao domicílio acompanham 62 utentes e têm capacidade para 71.