Navegar nas ondas de rádio do Clube de Radioamadores do Entroncamento
Com cerca de quatro décadas de existência, o Clube de Radioamadores do Entroncamento foi dos pioneiros em Portugal na actividade do radioamadorismo. A direcção da associação explicou a O MIRANTE o conceito da actividade e o seu contexto histórico, reconhecendo que é preciso sangue novo para a dinamizar.
O Clube Radioamadores do Entroncamento, fundado em 1984, foi das primeiras associações radioamadoras do país. José Matos é o presidente da direcção e na conversa com O MIRANTE, onde explicou o conceito da actividade e o seu contexto histórico, fez-se acompanhar por mais três elementos da direcção. José Matos é ex-militar, tem 59 anos, é natural de Ponte de Lima e foi residir para o Entroncamento em 1995, altura em que se começou a interessar pelo radioamadorismo. Flávio Soares é antigo técnico electrónico da CP e reside no Entroncamento desde 1962; os dois sócio-fundadores Manuel Silva, de 89 anos, antigo farmacêutico, e João Cruz, que se mudou para a cidade em 1975, são os três elementos que compõem a equipa.
O gosto pelo radioamadorismo começou por influência de amigos e vizinhos que, na altura, tinham pequenos rádios. Motivados pela curiosidade e pelo gosto da electrónica e das comunicações, começaram a aprender, a ouvir as comunicações e a observar como eram realizadas. José Matos acabou mesmo por seguir, dentro da carreira militar, a área das comunicações, algo que acredita ter cativado ainda mais o interesse e que o levou a conhecer o grupo na altura da sua ida para o Entroncamento.
João Cruz explica que nos anos 80 do século passado, por inexistência de telemóveis e outros meios digitais, a rádio era o principal meio de comunicação. Tinha alguns amigos com conhecimento sobre o radioamadorismo, principalmente devido às comunicações que se fazia de Portugal para Angola. Foi ganhando o gosto e de repente conseguiram juntar mais de 40 pessoas para fundar o Clube Radioamadores do Entroncamento.
José Matos admite que o radioamadorismo é um universo vasto e complexo, que engloba várias áreas como a radio-astronomia, a geografia, informática e electrónica, tornando-se um “hobby científico”. Esclarece que, de forma sucinta, a actividade baseia-se em comunicações via rádio, através de canais próprios, realizada por fonia, morse ou meios digitais, como o envio de imagens. Explica que cada indivíduo tem o seu próprio indicativo, que é a sua forma de identificação. Os dois primeiros caracteres indicam o seu país de origem, tendo também cada território a sua própria representatividade. O presidente da associação acrescenta que existe a vertente de competição, que consiste na junção de equipas em determinado espaço e, durante 48 horas, desenvolvem o maior número de contactos possível com os mais diversos pontos do globo, valendo cada um diferentes pontuações.
José Matos refere que, através dessas actividades, se identifica facilmente o principal objectivo do radioamadorismo, que passa por conseguir comunicar com o maior número de países, um desafio por vezes difícil de alcançar com países como a Coreia do Norte. O presidente da associação entende que a actividade tem pouca visibilidade e que grande parte dos radioamadores já têm idades avançadas, faltando sangue novo para dinamizar a actividade. Por isso, afirma, um dos objectivos do clube é atrair membros mais novos e que estão neste momento a definir estratégias para desenvolver actividades nesse sentido.
Apesar de cada um dos elementos ter no seu computador uma estação radioamadora, os membros do clube costumam encontrar-se na sede todas as sextas-feiras à noite para debater sobre os mais variados temas relacionados com o assunto.
Meio de comunicação para catástrofes
João Cruz recorda o contexto histórico da actividade e explica que, por funcionar de forma independente, através de baterias próprias, muitas vezes os radioamadores chegaram a servir de único meio de comunicação em caso de catástrofes ou acidentes. O sócio-fundador dá o exemplo do tsunami no Japão onde, por incapacidade de usar outros meios de comunicação, o radioamador serviu para estabelecer linhas de emergência onde eram passadas informações ou pedidos de medicamentos. Mais recentemente, a associação esteve presente como “backup” no Euro 2004 e nas Jornadas Mundiais da Juventude.