Um fisioterapeuta tem de ser muito criativo
Assinalou-se a 8 de Setembro o Dia Mundial da Fisioterapia.
A data alerta para a importância da fisioterapia na saúde e pretende divulgar a profissão. O MIRANTE esteve à conversa com a fisioterapeuta Vera Magalhães, que lamenta a falta de profissionais no Serviço Nacional de Saúde. Com um percurso de 18 anos defende maior autonomia profissional numa altura em que cada vez mais pessoas procuram um fisioterapeuta para prevenir doenças.
O paradigma da fisioterapia mudou. Inicialmente associada à massagem a fisioterapia agora é valorizada como uma parte essencial do campo médico, com fisioterapeutas a serem cada vez mais vistos como parceiros no processo de recuperação dos pacientes. A opinião é de Vera Magalhães, da Póvoa de Santa Iria, que começou a trabalhar como fisioterapeuta ainda estava a terminar a licenciatura, há 18 anos. “Temos formação nas áreas da músculo-esquelética, neurologia, saúde da mulher e geriatria. Os clínicos começam a ver-nos como parceiros. Temos uma Ordem dos Fisioterapeutas e temos de mostrar que desempenhamos um papel crucial na sociedade”, explica a O MIRANTE.
Apesar da evolução positiva as pessoas ainda têm tendência para validar com o médico os tratamentos. Mas os fisioterapeutas têm capacidade e formação necessária para avaliar e prescrever tratamentos directamente. Este passo permitiria uma maior eficiência no atendimento aos utentes. “O maior desafio da profissão é a falta de autonomia que temos. Gostava de olhar para trás daqui a uns anos e dizer que finalmente podemos prescrever um raio-x”, diz.
As patologias mais comuns e que levam as pessoas a recorrer a um fisioterapeuta são os pós-operatórios especialmente cirurgias ao joelho. Mas os casos de ortopedia também são frequentes e as queixas relacionadas com a coluna. A sociedade está cada vez mais atenta e preocupada e por isso quando uma pessoa identifica alguma sintomatologia procura um fisioterapeuta para ser avaliada. Actualmente, e em comparação com o passado recente, a maioria das grávidas também já frequenta os cursos de preparação para o parto e pós-parto que são ministrados por fisioterapeutas que ensinam técnicas e exercícios adaptados a esta fase da vida da mulher.
A fisioterapia trabalha na prevenção e na promoção da saúde e não apenas na doença. Por isso muitas pessoas recorrem ao fisioterapeuta por prevenção como, por exemplo, quem trabalha muitas horas sentado ao computador.
Segundo Vera Magalhães, as pessoas estão cada vez mais informadas e por isso não confundem especialidades. “A acupunctura e osteopatia podem ser um complemento à fisioterapia. A osteopatia vai ser um curso com licenciatura e vamos ter pessoas mais credenciadas nessa área. Não é um problema porque em conjunto podemos trabalhar em prol do doente”, considera a fisioterapeuta.
Faltam fisioterapeutas no SNS
Os casos neurológicos ou relacionados com traumatismos são os que mais marcam a profissional de saúde. O caso de um rapaz de 18 anos que ficou paraplégico na sequência de um acidente de mota foi um deles. Vera Magalhães recorda com carinho todo o trabalho que fez e que permitiu que o jovem, dentro das suas limitações, conseguisse regressar a casa e ter o máximo de autonomia.
Nas suas memórias estão presentes os dois primeiros bebés a quem fez ginástica respiratória. Ainda era estudante. Agora já tratou centenas de crianças. Quando começou a carreira havia pouca oferta de trabalho e muitos fisioterapeutas. Neste momento nos hospitais públicos há poucos profissionais a trabalhar para a procura existente. “Um fisioterapeuta no Serviço Nacional de Saúde faz o trabalho de mais três. Mas a culpa disto é nossa porque bem ou mal vamos fazendo mas temos de mudar esse paradigma. Para o trabalho ser bem feito precisamos de tempo para tratar com qualidade e isso não acontece porque vamos colmatando as falhas”, alerta.
Vera Magalhães orgulha-se de ter tempo para os seus pacientes. O trabalho é personalizado e adaptado à condição individual de cada um. Uma escolha que a deixa feliz e valorizada enquanto fisioterapeuta. Acompanha estudantes do 1º ao 4º ano porque o curso de fisioterapeuta implica fazer estágios curriculares em clínica ou a nível particular. Mas o plano curricular devia ser revisto porque a parte da terapia manual está a desaparecer aos poucos, o que não devia acontecer. “As nossas mãos são a nossa arma. Há cada vez mais clínicas convencionadas e que trabalham com auxiliares de fisioterapia. São eles que fazem a terapia manual e os currículos têm-se desviado dessa componente porque há quem a faça. Mas se queremos qualidade temos que ser nós a avaliar e a fazer com as nossas mãos”, enfatiza.
Fazer a diferença
Um fisioterapeuta tem de ser muito criativo, principalmente quem trabalha na área particular. As sessões não são todas iguais e por exemplo nos tratamentos feitos aos utentes dos lares e em domicílios o fisioterapeuta recorre aos materiais que existem (banco, cadeira, almofada…).
Nestes contextos é importante ensinar os cuidadores informais e envolvê-los na recuperação do doente. O estímulo para quem está a recuperar, por exemplo, de um Acidente Vascular Cerebral tem de ser contínuo e não acabar após a sessão de fisioterapia.
No Dia do Fisioterapeuta Vera Magalhães recebe mensagens dos pacientes e considera que os marcou de qualquer forma. Trata-se de uma profissão próxima, de toque, e por isso criam-se laços. É isso que passa aos alunos. Fazer a diferença na vida das pessoas. “Podemos ter as melhores técnicas e conhecimento, mas se não tivermos uma boa relação terapêutica e gostar do que fazemos não há resultados”, conclui.