Projecto Bata Branca está em risco em Benavente
Médicos do projecto Bata Branca em Benavente preferem dar consulta nos concelhos onde recebem mais à hora. Misericórdia de Benavente defende como solução imediata uma comparticipação financeira do município.
Benavente corre o risco de ficar sem médico ao abrigo do projecto Bata Branca, que resulta de um acordo estabelecido entre a Administração Regional de Saúde (ARS) de Lisboa e Vale do Tejo e a Santa Casa da Misericórdia de Benavente. De acordo com o provedor da Misericórdia, Norte Jacinto, os médicos preferem dar consultas noutros municípios onde são melhor remunerados. O provedor diz que a ARS não actualiza há cinco anos os valores pagos à instituição ao abrigo do protocolo e por isso até ao final do ano a solução imediata passa pela Câmara de Benavente. “O que está a ser pago aos médicos é insuficiente e temos transmitido isso à câmara. A ARS também tem conhecimento mas não me responderam”, disse a O MIRANTE.
A ARS transfere para a Misericórdia de Benavente 27 euros por cada hora de trabalho do médico. A instituição paga ao clínico 22 euros e fica com cinco euros para fazer face às despesas. Norte Jacinto defende que esta verba de cinco euros deve ser paga pela câmara, tal como acontece com o Bata Branca no município de Azambuja e que conta com comparticipação financeira da autarquia. “Não temos margem nem é nossa obrigação usar verbas da instituição para a saúde. Se não tiver médicos não posso continuar com o acordo”, reitera o provedor.
O presidente da Câmara de Benavente, Carlos Coutinho, explica a O MIRANTE que os serviços jurídicos estão a avaliar a possibilidade de ser a autarquia a suportar o valor através das Instituições Particulares de Solidariedade Social (IPSS). O autarca admite que a situação tem sido difícil no concelho mas lamenta que a proposta da câmara não tenha sido aceite pelo ministro da Saúde. “Estávamos dispostos a suportar financeiramente as retribuições da Unidade de Saúde Familiar de modelo A para modelo B. O ministro achou que não devíamos ir por aí porque iam deixar de existir esses modelos. O Bata Branca é uma consulta de recurso mas não temos o fundamental que é ter um médico com a proximidade ao utente”, diz.
Santo Estêvão sem médico
A Misericórdia de Benavente tem há vários anos um acordo com a ARS para colocação de médicos no Serviço de Atendimento Permanente (SAP) de Benavente. Norte Jacinto diz que a escassez de médicos também afecta esta valência, que está a ser colmatada com médicos da instituição. Trata-se de clínicos que prestam serviço um ou dois dias por semana, consoante a sua disponibilidade. Neste momento a Extensão de Saúde de Santo Estêvão está sem médico depois de a médica ter desistido.
O provedor relata também o caso recente de uma médica cubana que não quis colectar-se e que, por isso, ao fim de um ano de serviço a instituição pagou cerca de 20 mil euros à Segurança Social e a médica foi para Espanha.
Norte Jacinto conta ainda que a GNR foi chamada ao Centro de Saúde de Benavente para identificar um médico. A Guarda foi chamada por um utente por alegadamente não ter sido atendido. O provedor diz que esta situação se deve sobretudo à decisão tomada pela anterior directora do Agrupamento de Centros de Saúde do Estuário do Tejo ter permitido que utentes de outros concelhos, como Vila Franca de Xira e Azambuja, pudessem recorrer ao SAP.