Desfalque na Agromais é de 4,9 milhões segundo auditoria
Cooperativa, que deixou que um funcionário desfalcasse as contas ao longo de 12 anos, só espera conseguir recuperar um milhão de euros do que foi retirado pelo responsável financeiro.
Entretanto o presidente da direcção, Luís Vasconcellos e Souza, saiu do cargo ao fim de largos anos, deixando a instituição entregue a Mário Antunes, director-geral da Agrotejo.
O desfalque do entreposto comercial agrícola Agromais, em Riachos, é de quase 4,9 milhões de euros apurados pela auditoria externa às contas entre 2009 e Julho de 2022, que está concluída. Deste valor, a maior cooperativa de agricultores de cereais e hortícolas do país só conseguirá recuperar um milhão de euros. Isto se conseguir vender pelo valor das avaliações os bens imóveis e móveis que foram arrestados na sequência de uma declaração ao Ministério Público do funcionário que fez o desfalque. As contas foram apresentadas aos associados numa assembleia-geral pouco participada e na qual o presidente, Luís Vasconcellos e Souza, comunicou a renúncia ao cargo, sendo agora substituído interinamente por Mário Antunes, director-geral da Agrotejo, da qual a cooperativa é associada.
No relatório de contas a direcção da Agromais fala em “movimentos bancários sem qualquer consubstanciação de negócio ou de transação”. No documento sublinha-se existir “de forma clara indício de fraude/abuso de confiança” do ex-responsável financeiro, Nuno Rodrigo de Oliveira, que ao longo de 12 anos movimentou o dinheiro da cooperativa sem qualquer controlo. A detecção do desfalque, de exactamente 4.892.813 euros, coincidiu com o período em que as contas começaram a ser verificadas por outro elemento da empresa de contabilidade que presta assessoria técnica à Agromais.
No início, Luís Vasconcellos e Souza, que deixou de prestar esclarecimentos a O MIRANTE, dizia que o desfalque era de dois milhões de euros. Nuno Oliveira, funcionário há 22 anos na cooperativa e que estava na contabilidade há 15 anos, fez várias operações para encobrir a apropriação de dinheiro. A direcção justificou que o suspeito elaborava documentos falsos para não se dar por falta do dinheiro, como empolar o valor das compras feitas pela Agromais. O funcionário apropriou-se do dinheiro através de cheques que depositava em contas pessoais e passou o dinheiro por várias contas conseguindo manter o esquema durante 12 anos.
Recurso do caso TVT onde Agromais ficou a arder com 1,7 milhões
A Agromais esqueceu-se durante 14 anos de pedir o reembolso das acções que tinha no Terminal Multimodal do Vale do Tejo (TVT). A cooperativa não seguiu o exemplo de outros accionistas que conseguiram reaver o dinheiro e quando recorreu à justiça, em 2021, o tribunal foi taxativo: o caso está prescrito. Mesmo assim a cooperativa decidiu recorrer para o Tribunal da Relação de Évora justificando-se com um parecer de “um reputado jurisconsulto”, não divulgando quem é.
O Juízo Central Cível de Santarém apurou que a Agromais, que era uma das maiores accionistas do terminal, foi notificada em 2007 pela Caixa Geral de Depósitos da venda das acções, que tinha dado como garantia, para liquidação de um empréstimo que o TVT tinha ficado a dever. A empresa Rianova, outra das maiores accionistas, conseguiu recuperar o dinheiro porque interpôs uma acção judicial dentro dos prazos tendo conseguido os seus intentos ao invocar o enriquecimento do TVT que entretanto tinha dado a volta às dificuldades e estava numa boa situação financeira.
A Agromais prosseguiu uma postura passiva considerando que bastava o facto de figurar na contabilidade do TVT, um saldo a seu favor, no valor das acções, para recuperar o dinheiro. Esse saldo esteve reflectido durante anos e entretanto desapareceu dos relatórios de contas do terminal, que passou para as mãos da Medway Terminals SA. Apesar disso, a empresa garante que nunca reconheceu ter uma dívida à Agromais e acha estranho que a cooperativa, ao longo de 14 anos, nunca tenha interpelado o TVT para qualquer pagamento.