Estudo aponta vulnerabilidades de Vila Franca de Xira face aos efeitos das alterações climáticas
Plano de adaptação às alterações climáticas no concelho de Vila Franca de Xira está em consulta pública e os especialistas traçam um cenário pessimista para este século com inundações, secas severas, ondas de calor e salinização das águas necessárias para as regas de cultivo.
A equipa técnica de professores universitários que elaborou o plano municipal de adaptação às alterações climáticas para o concelho de Vila Franca de Xira, documento que está actualmente em consulta pública, não tem dúvidas e traça um cenário difícil para este século considerando o concelho bastante vulnerável perante o que se perspectiva.
O documento define 15 medidas de adaptação, que se subdividem em linhas de intervenção e acções prioritárias a realizar até 2030 para que, pelo menos, os impactos não custem tanto à população a suportar. Pretende também fazer face aos riscos climáticos que irão afectar o concelho no curto, médio e longo prazo, nomeadamente: cheias rápidas e inundações; calor excessivo; secas (agrometeorológicas e hidrológicas), subida do nível médio do mar e incêndios rurais extremos.
Até final do século as mudanças climáticas em Vila Franca de Xira podem levar à subida da temperatura média anual, com aumento da frequência de situações de calor intenso e diminuição dos episódios de tempo frio, causando impactos em sectores tão diferentes como a agricultura, o desenvolvimento das espécies autóctones ou até a migração de espécies exóticas, incluindo agentes patogénicos.
Até ao final do século (2071-2100) as previsões apontam para um aumento generalizado da temperatura do ar, com subidas para médias de 18/19 graus no melhor cenário e 60 a 70 dias de calor extremo por ano no concelho, aumentando para 80 dias no pior cenário, potenciando incêndios rurais mais violentos. O número de noites de calor tropical vai aumentar até cinco vezes face ao actual, passando a ser um mínimo de 50 noites de calor extremo por ano em Vila Franca de Xira. Os dias de vento vão diminuir e vai chover cada vez menos, com um decréscimo da precipitação média anual em 10 a 15% face aos valores actuais.
Por outro lado, o número médio de dias com chuvadas extensas e repentinas vão manter-se, entre quatro a oito dias por década no caso da precipitação diária superior a 40mm (litros por metro quadrado, como aconteceu em Dezembro e Janeiro de 2022) e os 25-35 dias por década no caso dos valores superiores a 25mm.
Mais sal e menos agricultura
Todo o estuário do Tejo vai sofrer com o aumento do nível das águas do mar, que irá causar penetração das águas salinas para montante, o que irá prejudicar as actividades agrícolas e já não há como fugir a essa evidência. O clima da região já apresenta uma seca significativa, mais acentuada entre Maio e Setembro. “Espera-se que haja uma extensão e agravamento do número de dias secos e muito secos, assim como uma redução da extensão da estação húmida e da frequência dos períodos de recarga de aquíferos”, alertam os especialistas no documento a que O MIRANTE teve acesso.
As projecções apontam para reduções progressivas da produtividade agrícola em 2100, que rondarão 15% a 30% relativamente à actualidade. Tudo indica que as pastagens serão afectadas, assim como as culturas permanentes (frutícolas e vinha). As culturas de sequeiro, como os cereais, também serão condicionadas pelas alterações climáticas.
A subida do nível das águas não afectará só a agricultura: o rio vai engolir 90 centímetros à zona ribeirinha da cidade, piorando na preia-mar equinocial, estando previstas mais cheias no Tejo.