O país não tem falta de médicos, estão é mal distribuídos
As Unidades Móveis de Saúde podem ser uma solução para a falta de médicos em meios mais rurais.
“Há demasiados médicos nos meios urbanos e poucos no meios rurais”, referiu o responsável da Comissão de Utentes da Saúde do Médio Tejo durante uma manifestação em Santarém, no dia em que o Serviço Nacional de Saúde assinalou o 44º aniversário.
As Unidades Móveis de Saúde podem ser uma boa solução para chegar às aldeias mais periféricas e com menos população do distrito de Santarém pois é mais fácil uma equipa médica deslocar-se às aldeias do que os utentes deslocarem-se às vilas e cidades, até porque não existe uma boa rede de transportes públicos no distrito. A opinião é de Manuel Soares, responsável pela Comissão de Utentes da Saúde do Médio Tejo (CUSMT), que organizou uma manifestação, juntamente com a CGTP-Intersindical, na tarde de sábado, 16 de Setembro, no Jardim da Liberdade, em Santarém.
Na acção em defesa do Serviço Nacional de Saúde (SNS) estiveram mais de meia centena de pessoas, muitas ligadas à CDU, que protestaram contra a falta de médicos sobretudo nos meios rurais onde a população, na sua grande maioria idosa, não tem acesso a médico de família. Manuel Soares diz a O MIRANTE existirem duas realidades no distrito de Santarém: os utentes que têm médico de família, mas que não está disponível por motivos diversos; e os que não têm médico de família atribuído, mas têm acesso a cuidados de saúde através de profissionais contratados.
“Em Paialvo, concelho de Tomar, a médica está de licença de maternidade. Oficialmente a população tem médico de família mas na realidade não tem acesso a cuidados de saúde. Estas situações têm que ser resolvidas. As pessoas precisam de consultas e medicação e não podem ter que ir de madrugada para a porta dos centros ou extensões de saúde para apanhar uma consulta de recurso”, critica o dirigente, acrescentando que existem cerca de 100 mil utentes no distrito de Santarém sem médico de família.
Apesar de Portugal ter dos rácios mais elevados de médicos na União Europeia, Manuel Soares considera existir uma má gestão dos recursos humanos. “Há demasiados médicos nos meios urbanos e poucos no meios rurais”, critica. Questionado com o facto de haver vagas para médicos para os meios rurais, Manuel Soares fala nas assimetrias salariais, tanto no distrito como a nível nacional. “Enquanto prestadores de serviços, nos centros de saúde os médicos ganham 20 euros por hora. Se o trabalho for em hospital já recebem 30 euros por hora. Isto faz com que trabalhar em hospitais e meios urbanos seja mais atractivo mesmo com os incentivos dos municípios”, lamenta.
“Projecto Bata Branca é apenas um remendo”
Em relação à extinção da Parceria Público Privada (PPP) que existia na gestão do Hospital de Vila Franca de Xira, que teve sempre muitos elogios por parte dos utentes, Manuel Soares não é da mesma opinião. O responsável da CUSMT garante que a realidade não era como se fazia crer. “Tenho testemunhos de utentes que não estavam satisfeitos”, disse, não respondendo sobre o facto de actualmente a unidade hospitalar ser referida como tendo menor qualidade no atendimento.
Quanto ao facto de organizarem uma acção de protesto em conjunto com a CGTP, Manuel Soares limita-se a dizer que a CUSMT valoriza as iniciativas realizadas por todas as entidades em defesa do SNS “como garante de cuidados de qualidade e proximidade”. Na sua opinião, o projecto Bata Branca que vai iniciar em vários concelhos do distrito de Santarém é apenas um remendo e vai ser um projecto residual, que não vai chegar a toda a população.