Sociedade | 25-09-2023 07:00

Testemunha relata momentos agonizantes de idosos esfaqueados pela filha no Porto Alto

Testemunha relata momentos agonizantes de idosos esfaqueados pela filha no Porto Alto
Tânia Ferrinho à saída do tribunal onde optou por não prestar declarações

Testemunha ouvida no primeiro dia do julgamento de Tânia Ferrinho contou que encontrou a mãe da acusada deitada sob uma poça de sangue a tentar arrastar-se para debaixo de uma cama. Uma familiar garantiu que os “pais amavam a filha”. Julgamento da mulher transgénero arrancou no dia 13 de Setembro.

No primeiro dia do julgamento de Tânia Ferrinho, a mulher transgénero de 43 anos acusada de ter matado os pais à facada no Porto Alto, concelho de Benavente, uma das testemunhas ouvidas no Tribunal de Santarém relatou os momentos agonizantes vividos pelos pais depois de terem sofrido várias facadas no corpo. As vítimas, Carlos e Maria Cristina Ferrinho, faleceram dois e três meses após o crime ocorrido a 10 de Outubro de 2022, no primeiro caso devido aos ferimentos causados pelas 17 facadas que levou.
A testemunha, um homem que estava a realizar obras num dos apartamentos do prédio, contou que depois de ouvir gritos desceu as escadas e encontrou Carlos Ferrinho no hall do prédio “a sangrar muito”. Nesse momento encontrava-se no local um vizinho, também ouvido nessa primeira audiência, tendo o trabalhador ido buscar toalhas numa tentativa de estancar as várias hemorragias. “Estava em choque o senhor, não tinha reacção; havia muito sangue”, afirmou.
Do interior do apartamento onde as vítimas moravam com a arguida a testemunha relatou ter ouvido a mãe de Tânia Ferrinho gritar que ia morrer. “Quando entrei ela [a arguida] correu para o quarto”. Num outro quarto da habitação a testemunha disse ter encontrado Maria Cristina sem roupa, apenas com uma fralda posta, a tentar arrastar-se para debaixo da cama. “Estava deitada e tinha uma poça de sangue em volta dela”, disse, contando que Tânia Ferrinho saiu do seu quarto a afirmar que já tinha chamado socorro e a acusar o seu pai de ser o autor do ataque à mãe.
Tânia Ferrinho, acusada de homicídio qualificado pela morte do pai e de homicídio qualificado na forma tentada pelos ferimentos causados à mãe, decidiu não prestar declarações em tribunal, tendo ouvido esta e as restantes testemunhas arroladas com ar calmo e com um rosto sem expressão. Na maior parte do tempo olhava, escrevia e virava as páginas de um bloco de notas que tinha pousado nas pernas. Não tentou cruzar olhares com as testemunhas, incluindo a prima em terceiro grau, mas houve um momento em que se voltou para trás para olhar para duas familiares que assistiam à audiência.

“Eram dois pais que amavam a filha”
Essa prima em terceiro grau, que já tinha sido testemunha num outro julgamento no qual Tânia Ferrinho foi acusada do crime de violência doméstica contra os progenitores, confirmou que eram constantes os conflitos entre os três. Apesar dos comportamentos agressivos de Tânia “eram dois pais que amavam a filha”, assegurou.
Questionada pela procuradora do Ministério Público acerca da reacção da família à transição de género de Tânia Ferrinho, que nasceu com genitália masculina, esta testemunha disse que “foi sempre aceite” por todos. “Uma das preocupações da mãe foi contar a outros elementos da família, incluindo a mim [e perguntar] se eu aceitava ou a ia colocar de parte. Nunca foi colocada de parte por ninguém. Todos a aceitavam da mesma forma”, afirmou. Porém a testemunha contou, em resposta a uma questão colocada pela advogada da arguida, que na altura do crime já tinha deixado de frequentar a casa onde Tânia morava com os pais por não se sentir bem-vinda.
Além destas testemunhas foram ouvidas nesta primeira audiência de julgamento, uma inspectora da Polícia Judiciária, dois elementos da GNR, um vizinho, uma psicóloga do Instituto Nacional de Medicina Legal, e o psiquiatra e o endocrinologista do Hospital Júlio de Matos que acompanharam Tânia Ferrinho durante alguns anos, nomeadamente no decorrer da sua transição de género.
Em resposta às questões colocadas pela defesa e pela presidente do colectivo de juízes o psiquiatra fez referência à medicação para a depressão que a arguida fazia e a um surto psicótico ocorrido em 2013. A psicóloga indicou ainda que Tânia Ferrinho tem tendência para agir de forma impulsiva e dificuldade em estabelecer vínculos afectivos.

Discussão por causa de dinheiro antecedeu esfaqueamento
Na manhã de 10 de Outubro de 2022 Tânia Ferrinho, que não trabalhava há vários anos, terá pedido dinheiro aos pais que recusaram atender ao pedido da filha. A discussão foi ouvida por vizinhos. Horas depois a GNR foi ao local entregar a Carlos e Maria Cristina Ferrinho o estatuto de vítimas, referente a mais uma queixa de violência doméstica. Nesse momento, Tânia Ferrinho, afirmaram os militares ouvidos, encontrava-se bastante exaltada. Cerca de meia hora depois voltaram a deslocar-se ao local, na sequência de um alerta para mais uma situação de violência doméstica. Quando chegaram já encontraram Carlos Ferrinho no átrio com ferimentos no peito e nas costas e Maria Cristina no quarto, ferida. Tânia Ferrinho foi detida nesse dia e encontra-se desde 12 de Outubro em prisão preventiva.

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