Sociedade | 27-09-2023 07:00

A história de superação de Ricardo Santos que esteve seis anos internado devido a um acidente

A história de superação de Ricardo Santos que esteve seis anos internado devido a um acidente
Ricardo Santos trabalha como recepcionista na Câmara do Cartaxo, num edifício adaptado às suas necessidades

Ricardo Santos, 29 anos, foi vítima de um acidente de viação aos quatro meses de idade e passou a infância internado em Alcoitão, de onde só saiu aos seis anos. O MIRANTE conta a história do funcionário da Câmara do Cartaxo que trabalha como recepcionista mas é filho e neto de vendedores de farturas.

Ricardo Santos é natural do Cartaxo e sofreu um acidente de viação aos quatro meses de idade que o deixou para sempre numa cadeira de rodas. O jovem, actualmente com 29 anos, seguia numa carrinha com a mãe, vendedora de farturas, que estava de regresso a casa depois de uma noite de trabalho. A viatura despistou-se embatendo contra uma árvore. O irmão ficou bem, mas Ricardo Santos sofreu lesões ao nível da coluna tendo abandonado o hospital apenas aos seis anos de idade. Ricardo Santos conta a O MIRANTE que esteve no Centro de Recuperação de Alcoitão e ia a casa só na altura do Natal e noutras épocas festivas. Já foi operado à coluna duas vezes e várias vezes às pernas, que se partiam com regularidade ao vestir-se.
Ricardo Santos é independente e determinado. Estudou nas escolas do Cartaxo, formou-se em Técnico de Contabilidade e trabalha como recepcionista na câmara municipal há cinco anos. O negócio de farturas da mãe valeu-lhe protagonismo na cidade, no concelho e na região, mas diz não ter sido capaz de dar continuidade ao negócio que vem da sua avó materna. Esteve cerca de quatro anos no negócio das farturas, a tratar dos trocos e a assegurar a venda de pipocas, e de seguida procurou o programa para a integração de pessoas com deficiência no mercado de trabalho. Ainda assim, quando tem férias da câmara municipal ajuda a mãe nas festas como aconteceu este Verão.
O seu dia de trabalho na câmara é passado essencialmente ao telefone. “Levo com tudo e alguns munícipes queixam-se dos seus problemas de uma forma muito agressiva. Já estou a rezar por causa da Feira dos Santos”, afirma, entre risos, referindo-se à feira que se realiza em Novembro na cidade, onde a mãe marca presença há décadas com a roulotte de farturas.
Ricardo Santos diz que andar de cadeira de rodas “não é impedimento para nada”. Recentemente foi às festas de Vila Chã de Ourique, freguesia vizinha, em cadeira de rodas, percorrendo cerca de três quilómetros, mas em tempos chegou a fazer 120 por semana. Embora tenha tirado a carta de condução ainda não foi possível comprar um carro. Depois do trabalho tem o hábito de ir às compras para a família, estando a viver com a mãe, os sobrinhos, a irmã e o cunhado numa casa adaptada às suas necessidades e perto da câmara. Costuma ir ao café com os amigos jogar setas, não tem companheira e está focado em ascender em termos profissionais, quem sabe ocupar um cargo de contabilidade dentro da câmara municipal. Sair do país não está fora dos planos. A sua viagem de sonho é a Itália e a única vez que viajou para fora foi em criança, para ir buscar uma roulotte com a mãe a Sevilha.

Cartaxo é uma cidade inclusiva
Ricardo Santos afirma que na sua época a Escola Secundária do Cartaxo já possuía um elevador e rampas de acesso aos edifícios. As obras de requalificação da Escola Secundária do Cartaxo, inauguradas na terça-feira, 12 de Setembro, possibilitam a que jovens como Ricardo Santos possam ter acesso a todo o estabelecimento de ensino, o que não acontecia em espaços como o campo de futebol. As casas-de-banho adaptadas são também uma novidade que vem facilitar o dia-a-dia destes alunos. No caso do seu local de trabalho a câmara municipal dispõe de uma rampa de acesso ao edifício e elevador em alternativa às escadas sendo que, além do jovem, há uma funcionária mais velha que também se desloca em cadeira de rodas. O jovem funcionário da câmara descreve o Cartaxo como uma “cidade bonita, que já foi melhor, mas que aos poucos está a ganhar rumo”. Quanto ao presidente da câmara, João Heitor, descreve-o como um “bom presidente, atencioso e atento às necessidades da população”. No que diz respeito a cuidados médicos, recorre a Santarém ou a Alcoitão, onde foi acompanhado na infância porque, como refere, desistiu de telefonar para o Centro de Saúde do Cartaxo.

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