A história de superação de Ricardo Santos que esteve seis anos internado devido a um acidente
Ricardo Santos, 29 anos, foi vítima de um acidente de viação aos quatro meses de idade e passou a infância internado em Alcoitão, de onde só saiu aos seis anos. O MIRANTE conta a história do funcionário da Câmara do Cartaxo que trabalha como recepcionista mas é filho e neto de vendedores de farturas.
Ricardo Santos é natural do Cartaxo e sofreu um acidente de viação aos quatro meses de idade que o deixou para sempre numa cadeira de rodas. O jovem, actualmente com 29 anos, seguia numa carrinha com a mãe, vendedora de farturas, que estava de regresso a casa depois de uma noite de trabalho. A viatura despistou-se embatendo contra uma árvore. O irmão ficou bem, mas Ricardo Santos sofreu lesões ao nível da coluna tendo abandonado o hospital apenas aos seis anos de idade. Ricardo Santos conta a O MIRANTE que esteve no Centro de Recuperação de Alcoitão e ia a casa só na altura do Natal e noutras épocas festivas. Já foi operado à coluna duas vezes e várias vezes às pernas, que se partiam com regularidade ao vestir-se.
Ricardo Santos é independente e determinado. Estudou nas escolas do Cartaxo, formou-se em Técnico de Contabilidade e trabalha como recepcionista na câmara municipal há cinco anos. O negócio de farturas da mãe valeu-lhe protagonismo na cidade, no concelho e na região, mas diz não ter sido capaz de dar continuidade ao negócio que vem da sua avó materna. Esteve cerca de quatro anos no negócio das farturas, a tratar dos trocos e a assegurar a venda de pipocas, e de seguida procurou o programa para a integração de pessoas com deficiência no mercado de trabalho. Ainda assim, quando tem férias da câmara municipal ajuda a mãe nas festas como aconteceu este Verão.
O seu dia de trabalho na câmara é passado essencialmente ao telefone. “Levo com tudo e alguns munícipes queixam-se dos seus problemas de uma forma muito agressiva. Já estou a rezar por causa da Feira dos Santos”, afirma, entre risos, referindo-se à feira que se realiza em Novembro na cidade, onde a mãe marca presença há décadas com a roulotte de farturas.
Ricardo Santos diz que andar de cadeira de rodas “não é impedimento para nada”. Recentemente foi às festas de Vila Chã de Ourique, freguesia vizinha, em cadeira de rodas, percorrendo cerca de três quilómetros, mas em tempos chegou a fazer 120 por semana. Embora tenha tirado a carta de condução ainda não foi possível comprar um carro. Depois do trabalho tem o hábito de ir às compras para a família, estando a viver com a mãe, os sobrinhos, a irmã e o cunhado numa casa adaptada às suas necessidades e perto da câmara. Costuma ir ao café com os amigos jogar setas, não tem companheira e está focado em ascender em termos profissionais, quem sabe ocupar um cargo de contabilidade dentro da câmara municipal. Sair do país não está fora dos planos. A sua viagem de sonho é a Itália e a única vez que viajou para fora foi em criança, para ir buscar uma roulotte com a mãe a Sevilha.
Cartaxo é uma cidade inclusiva
Ricardo Santos afirma que na sua época a Escola Secundária do Cartaxo já possuía um elevador e rampas de acesso aos edifícios. As obras de requalificação da Escola Secundária do Cartaxo, inauguradas na terça-feira, 12 de Setembro, possibilitam a que jovens como Ricardo Santos possam ter acesso a todo o estabelecimento de ensino, o que não acontecia em espaços como o campo de futebol. As casas-de-banho adaptadas são também uma novidade que vem facilitar o dia-a-dia destes alunos. No caso do seu local de trabalho a câmara municipal dispõe de uma rampa de acesso ao edifício e elevador em alternativa às escadas sendo que, além do jovem, há uma funcionária mais velha que também se desloca em cadeira de rodas. O jovem funcionário da câmara descreve o Cartaxo como uma “cidade bonita, que já foi melhor, mas que aos poucos está a ganhar rumo”. Quanto ao presidente da câmara, João Heitor, descreve-o como um “bom presidente, atencioso e atento às necessidades da população”. No que diz respeito a cuidados médicos, recorre a Santarém ou a Alcoitão, onde foi acompanhado na infância porque, como refere, desistiu de telefonar para o Centro de Saúde do Cartaxo.