Sociedade | 30-09-2023 12:00

Indemnização trouxe paz de espírito à família de Tofu mas as marcas ficam para sempre

Indemnização trouxe paz de espírito à família de Tofu mas as marcas ficam para sempre
Gonçalo Neves, também conhecido por Tofu, é totalmente dependente dos pais com quem vive em Alpiarça

Gonçalo Neves, também conhecido por Tofu, ficou paraplégico há 12 anos na sequência de um acidente de viação.

Caso arrastou-se na justiça e os pais, desgastados com todo o processo, aceitaram a indemnização de cerca de um milhão de euros, um valor abaixo do que foi inicialmente estabelecido pelo tribunal. Pais dizem que dinheiro lhes trouxe sossego e paz de espírito, mas a vida anterior ao acidente é irrecuperável.

A indemnização à família de Gonçalo Neves, que sofreu um acidente de viação e ficou em estado vegetativo devido a um traumatismo crânio-encefálico, trouxe sossego e paz de espírito, mas as marcas dessa noite trágica, que lhes mudou a vida, são impossíveis de apagar. Em Maio de 2021 receberam uma indemnização de cerca de um milhão de euros depois de terem chegado a acordo com a empresa do camião que embateu no carro de Gonçalo Neves na madrugada de 1 de Setembro de 2011, na Estrada Nacional 3, no Cartaxo, num processo que demorou dez anos a ficar resolvido.
Os pais de Tofu, Sandra Martins e Óscar Neves, pagaram as dívidas que contraíram para cuidar do filho depois de terem vendido todos os bens e hipotecado a casa de família. Além disso, estão a construir uma casa térrea em Almeirim que será totalmente adaptada à condição de Gonçalo Neves e vão vender a casa de Alpiarça onde vivem há 22 anos. “Com o dinheiro da indemnização conseguimos ter mais tranquilidade e estamos a fazer tudo para quando não estivermos cá a Inês, irmã do Gonçalo, possa cuidar dele sem dificuldades financeiras”, explica Sandra Martins a O MIRANTE.
Óscar Neves confessa que comprar um automóvel adaptado para a cadeira de rodas do filho deu-lhes mais liberdade porque não podiam sair de casa em família. “O ano passado levamos o Gonçalo à praia, onde já não íamos há 11 anos. Foi uma sensação indescritível. Agora já não estamos dependentes de bombeiros para irmos ao médico ou ao hospital”, afirma. No entanto, confessam, as limitações continuam. Gonçalo é totalmente dependente dos pais. A vida é igual mas Tofu passou a ter fisioterapia todos os dias e o objectivo é dar-lhe o maior conforto possível.
Os pais confessam que nenhum dinheiro do mundo lhes traz o filho de volta. “Preferíamos ter a vida anterior ao acidente do Gonçalo do que o dinheiro da indemnização. Só quem passa por isto é que percebe a dificuldade do nosso dia-a-dia. Não podemos programar nada porque não sabemos como o Gonçalo vai acordar. É um dia de cada vez e aproveitar todos os momentos”, sublinham. Sandra Martins recorda que a indemnização que pediram em tribunal era mais elevada do que o valor que receberam, mas estavam tão saturados e queriam virar a página que acabaram por aceitar. “Foi um processo judicial muito desgastante com mais recuos do que avanços e que nos deixou emocionalmente muito em baixo. Só queríamos que o processo terminasse. Fez-se a justiça possível”, reforça.

Processo arrastou-se em tribunal
Depois de dez anos à espera de justiça os pais do jovem Gonçalo Neves aceitaram a proposta de indemnização da seguradora. Em 2017 houve uma decisão do Tribunal do Cartaxo no sentido de atribuir uma indemnização de mais de um milhão de euros à família do jovem, residente em Alpiarça. Entretanto houve recursos e novas diligências, com o processo a ameaçar arrastar-se na justiça. Em Fevereiro de 2021 a seguradora propôs o pagamento de uma indemnização com um valor abaixo do que já havia sido estabelecido pelo tribunal, que a família aceitou.
Sandra Martins diz que se deixassem correr o recurso e o Tribunal da Relação confirmasse a sentença da primeira instância ainda poderia haver outro recurso para o Supremo Tribunal, Tribunal Constitucional e Tribunal Europeu, arrastando ainda mais o processo. Recorde-se que houve uma sentença proferida em 2017 em que o juiz condenou a companhia de seguros da empresa de camionagem a pagar uma indemnização de mais de um milhão de euros mas a família residente em Alpiarça nunca chegou a ver, nessa altura, um cêntimo a que tinha direito.

Tofu sonhava com carreira militar

Gonçalo Neves, que celebra 33 anos a 29 de Setembro, sofreu, a 1 de Setembro de 2011, um grave acidente de automóvel tendo ficado em estado vegetativo devido a um traumatismo crânio-encefálico. Os pais nunca desistiram de recuperar o filho e procuraram respostas clínicas em Portugal e em Espanha. O jovem esteve cerca de três anos numa clínica em Santiago de Compostela tendo apresentado algumas evoluções. Tiveram que regressar a Alpiarça quando as poupanças acabaram.
Tofu era militar voluntário desde Abril de 2011 e queria entrar para a Academia Militar. No final de Agosto de 2011 foi passar uns dias a casa. Na noite do acidente resolveu ir com um amigo ao Cartaxo mas no regresso, cerca da uma da madrugada, na Estrada Nacional 3, na zona de Vila Chã de Ourique, tiveram um acidente de automóvel que envolveu um camião. O amigo partiu apenas um dedo tendo o embate com o veículo pesado sido todo do lado de Gonçalo Neves, que conduzia a viatura.

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