José Júlio tem um braço amputado e toca em três bandas filarmónicas da região
José Júlio tinha o sonho de entrar na banda da Marinha na década de 80, mas o acidente de trabalho que lhe amputou um dos braços fez com que deixasse de cumprir com os requisitos.
O MIRANTE assinala o Dia Mundial da Música, que se celebra a 1 de Outubro, com o testemunho de um sonhador que nunca atirou a toalha ao chão perante as adversidades.
José Júlio, 63 anos, é um dos elementos mais acarinhados de algumas bandas filarmónicas do concelho de Azambuja e do concelho do Cartaxo há quase meio século. À quarta-feira e ao sábado junta-se com os colegas de Vale do Paraíso; à quinta-feira, maioritariamente quando lhe é solicitado, vai até Pontével; à sexta-feira ensaia naquela que chama a “banda-mãe”, a da Filarmónica Recreativa de Aveiras de Cima.
A 7 de Junho de 1979 José Júlio teve um acidente de trabalho quando trabalhava numa construcção civil com um dumper que o atingiu e deixou soterrado com um metro e meio de terra. Chegou ao Hospital de Vila Franca de Xira com o braço esquerdo preso por poucos centímetros de pele e o diagnóstico foi imediato: tinha de ser amputado.
O músico, natural de Aveiras de Baixo, sonhava ingressar na banda da Marinha na década de 80, mas não cumpriu os requisitos por ter o braço amputado. O primeiro instrumento que tocou foi o fliscorne, da família dos trompetes, mas com um som mais grave, na banda de Azambuja; agora toca trompete, emprestado pela Filarmónica de Aveiras de Cima, porque o seu primeiro, comprado meses antes do acidente, já não está capaz. Depois do acidente bastou uns meses para voltar à banda e mais tarde só se afastou uns anos por desavenças com o maestro à época.
Retomou a vida no escritório da empresa onde trabalhava, a empresa faliu e foi para o desemprego. Depois trabalhou numa cooperativa agrícola e em Setembro de 1994 tornou-se guarda nocturno da Escola Secundária Alves Redol, em Vila Franca de Xira, função que desempenhou durante 26 anos até se reformar. Reformou-se aos 60 anos, com 42 anos de descontos, e aufere uma reforma de 450 euros. Com a esposa doente e baixos rendimentos é obrigado a trabalhar no campo. Este ano fez a vindima e a poda seguindo-se a apanha da azeitona. Também faz alguns biscates porque, como gosta de afirmar, não é homem para estar parado muito tempo e algum dinheiro extra ao final do mês é sempre uma mais valia para governar uma casa de família.
A Filarmónica Recreativa de Aveiras de Cima é o lugar onde alivia o stress, convive e se diverte quando não está em casa a jogar computador ou a ver televisão. No regresso a casa do ensaio só ouve bandas filarmónicas e orquestras sendo a Orquestra James Last, da Alemanha, a de eleição. O trompete anda sempre no banco do pendura a fazer-lhe companhia e ainda tem sonhos por concretizar, nomeadamente o de montar um “cavalinho” e tocar sousafone, um instrumento que ascende aos milhares de euros, motivo pelo qual ainda não concretizou esse sonho.
José Júlio já participou em dezenas de festas nas aldeias, vilas e cidades da região e é quase sempre um dos mais acarinhados pelo público que assiste. Gosta de se meter com as pessoas e assume nunca sentiu qualquer preconceito, também porque gosta de olhar para a vida com leveza e positivismo.