Moradores querem solução para os maus cheiros da Greif
Fábrica da Póvoa de Santa Iria tem sido alvo de reclamações ao longo dos anos por causa do mau cheiro. Moradores estão cansados e querem uma solução definitiva. A empresa diz que os odores se devem a um pico de produção. Agência Portuguesa do Ambiente garante estar a acompanhar o assunto e a impor medidas adicionais.
Os moradores da Póvoa de Santa Iria que residem junto às instalações da fábrica da Greif voltaram a reportar maus odores provenientes da empresa. A situação é recorrente e costuma acontecer ciclicamente. Rui Lopes conhece bem o problema. Reside na Praceta Sacadura Cabral há 33 anos. Na cozinha não pode ter a janela aberta e mesmo fechada o cheiro entranha-se na garganta. “Desde que me levanto até meio da tarde é um cheiro insuportável. Isto é um caso de saúde pública. Quem me garante que estes químicos não fazem mal à saúde?”, questiona.
Na mesma praceta reside há 16 anos Alcina Soares. Todos os dias sente o mau cheiro no ar, principalmente da parte da manhã quando apanha transportes públicos. Em casa não abre as janelas. Se a situação não for resolvida os moradores ponderam avançar com um abaixo-assinado dirigido às entidades fiscalizadoras. Já em 2022 os moradores tinham denunciado o problema a O MIRANTE. Na ocasião referiram ser um odor tóxico e que nem sequer se conseguia estar nas esplanadas dos cafés junto à fábrica.
Rui Lopes já enviou reclamações para a Junta de Freguesia da Póvoa de Santa Iria e Forte da Casa. Segundo a presidente do executivo, Ana Cristina Pereira, são recebidas queixas esporádicas dos moradores que são reencaminhadas para a Greif. “Fizeram um investimento de meio milhão de euros numa máquina para filtrar os odores. A fábrica tem obrigação de preservar o meio ambiente onde está inserida. Não queremos o encerramento da empresa mas queremos solução para os maus cheiros”, diz Rui Lopes.
A Câmara de Vila Franca de Xira garante que os serviços monitorizam todas as indústrias existentes no concelho, sempre que existe alguma participação relativamente a questões de salubridade. “Ainda que estas matérias não sejam da competência directa do município, as mesmas são sempre remetidas à Agência Portuguesa do Ambiente e à IGAMAOT, no âmbito das suas competências e responsabilidades. No corrente ano apenas foi recepcionada uma queixa relativamente a laboração da empresa Greif, a qual deu entrada nos serviços na semana transacta, sendo que a queixa terá o encaminhamento já mencionado”, diz a autarquia.
Greif admite que pode ter sido uma situação pontual
A Greif diz que algum mau cheiro que possa ter sido sentido se deveu a um pico de produção e que em Novembro e Dezembro de 2022 foi feita a manutenção anual ao RTO (Regenerative Thermal Oxidizer), equipamento que permite reduzir a emissão de odores em larga escala, instalado na fábrica há cerca de sete anos. “Foram substituídas todas as cerâmicas, tendo sido colocada cerâmica nova com vista a aumentar a capacidade do RTO, o que se veio a verificar. No ano de 2023 reduzimos a nossa produção em 30% (deslocalização para Espanha), e passámos a laborar com menos um turno, situação essa que aliada à intervenção de monta feita no RTO no final de 2022, fez com que o RTO passasse a ter capacidade para a absorção dos odores de toda a produção, tornando desnecessária a instalação de um segundo RTO – podemos afirmar que com o aumento da capacidade do actual RTO e a redução da produção, o actual RTO tem capacidade para absorver os odores provenientes da laboração da fábrica”, disse a empresa ao jornal.
A Greif diz que instalou uma nova tubagem que passou a reencaminhar a maioria dos efluentes gasosos para o RTO e que se preocupa em escolher matérias primas que tenham ausência de impacto na saúde dos trabalhadores e população. “Não podemos deixar de afirmar que também temos como postulado a manutenção dos postos de trabalho, e queremos continuar a contribuir para o índice de empregabilidade do país, e em particular da comunidade onde nos encontramos”, declara a empresa.
APA impôs medidas
A unidade industrial fabrica embalagens metálicas pesadas efectua a reparação e manutenção de produtos metálicos, utilizando solventes orgânicos para o revestimento de superfícies metálicas, havendo, consequentemente, emissão de Compostos Orgânicos Voláteis (COV) para a atmosfera.
A Agência Portuguesa do Ambiente (APA) esclarece que a Greif Portugal Lda é abrangida pelo regime PCIP-Prevenção e Controlo Integrados da Poluição desde Outubro de 2009, quando foi emitida a primeira decisão de licenciamento ambiental. “A APA tem conhecimento das reclamações ocorridas e, desde então, no âmbito do acompanhamento do licenciamento ambiental, tem imposto um conjunto de medidas adicionais a este operador”, diz.
A APA acrescenta que a última reclamação recepcionada foi em Junho de 2022 e que a mesma foi remetida à IGAMAOT, tendo em conta que a APA não tem competências de inspecção/ fiscalização.