Inês Henriques anuncia final de carreira
Foram quase três décadas a competir ao mais alto nível na marcha atlética. Inês Henriques, atleta olímpica de Rio Maior, é o rosto da superação mas, aos 43 anos, entendeu que chegou a hora de colocar um ponto final na carreira. Vai continuar a correr por desporto mas quer ter mais tempo para a família e, quem sabe, ser mãe.
Nasceu no Dia do Trabalhador, 1 de Maio, em 1980 e a sua carreira no atletismo sempre foi pautada pelo esforço, talento e dedicação que a levaram a conquistas impensáveis quando começou a dar os primeiros passos na marcha atlética sob orientação do treinador Jorge Miguel, um fazedor de campeões. Inês Henriques sabe o que custa a vida. Na sua juventude trabalhou na apanha do tomate e noutros afazeres agrícolas. A atleta olímpica, licenciada em Enfermagem, continua a rapariga simples de Estanganhola, em Rio Maior, onde continua a viver numa casa com jardim e quintal. A conversa decorreu nas instalações do Centro de Alto Rendimento de Rio Maior, a sua segunda casa, tendo como contexto a sua despedida da alta competição. Uma decisão que tomou com a consciência de quem tem a missão cumprida. Representou Portugal em três olimpíada e em diversos campeonatos do mundo e da Europa. Para a história ficam os inúmeros títulos nacionais e internacionais em marcha atlética. Em 2017 foi a primeira campeã do mundo dos 50 Km marcha feminina com recorde homologado oficialmente e, no ano seguinte, foi campeã da Europa da mesma distância. Inês Henriques foi distinguida com o Prémio Personalidade do Ano atribuído por O MIRANTE em 2018. Só teve um clube em toda a carreira: o Clube de Natação de Rio Maior.
Chegou a hora de pôr fim a uma longa carreira como atleta de alta competição. E agora? Agora é viver a vida de forma diferente. Acabou este ciclo de atleta de alto rendimento mas espero continuar a correr e a sentir-me bem. Vou continuar a fazer algumas provas amadoras enquanto tiver vontade.
O que é que já mudou de relevante na sua vida desde que tomou essa decisão? Estive de férias e depois foi o meu namorado que me puxou para ir correr, pois estava a ser difícil voltar, mas ele ajudou-me nisso. Tenho treinado e feito corrida por prazer. Tenho feito as provas das freguesias de Rio Maior e ainda não mudei completamente o chip. Por vezes forço demais mas tenho estado mais tranquila. Quando comuniquei pessoalmente a minha decisão ao presidente do Comité Olímpico e ao presidente da federação, e posteriormente à administração da Desmor, senti um alívio…
O que lhe disseram? Compreenderam. As razões são bastante fortes. Foi a retirada da prova de 50km marcha, depois estava com o objectivo dos 35km, mas no final de Março disseram que afinal seria uma estafeta mista de aproximadamente quatro vezes 10km, com um homem e uma mulher, e coloquei logo de parte. Isso não é para quem treina para longas distâncias. Ainda tentei motivar-me para os 20km, mas por já estar há tantos anos a fazer ritmos mais baixos o meu corpo não estava a aceitar ritmos elevados.
Vai aproveitar para dar umas facadinhas na dieta que até agora não podia dar? Gosto de manter uma alimentação saudável. Às vezes sim, mas quero manter o meu corpo minimamente aceitável. Pequena e gorda não (risos)…