Não comer carne e peixe é mais do que um estilo de vida
Alexandre Guerreiro, vegetariano desde que se lembra, já foi criticado pela sua escolha, mas prefere focar-se nas vidas animais que poupa por ano.
Diz que há cada vez mais opções vegetarianas em supermercados e restaurantes devido ao número crescente dos que optaram por este regime alimentar. Se é saudável? A nutricionista Beatriz Cardoso diz que sim, mas há cuidados a ter em conta.
Alexandre Guerreiro foi criado com uma alimentação vegetariana incutida pela sua mãe. Na infância, recorda o jovem de 22 anos, natural de Tomar, a mãe preparava-lhe uma marmita vegetariana para comer na escola, onde não havia essa opção na ementa. As outras crianças ficavam curiosas e algumas atreviam-se a experimentar, acabando por elogiar a refeição. Já do lado dos adultos, recorda, ouviu várias vezes comentários como “coitadinho, não come carne” ou “assim não tens força”, mas que não o afectaram. “Há pessoas que não têm capacidade de compreender”, afirma, com convicção.
Apesar de a sua mãe lhe ter dado sempre a escolher o tipo de alimentação que queria ter, Alexandre Guerreiro nunca equacionou deixar o vegetarianismo. Já provou carne, mas não gostou do sabor e, além disso, argumenta, através de uma alimentação vegetariana poupa mais de uma centena de vidas de animais por ano. “Não faz sentido a sociedade definir que é correcto matar uma vaca, galinha ou porco, mas [matar] um cão ou um gato ser uma atrocidade e crime”, critica, vincando que “os animais são todos iguais e não devemos escolher uns em detrimento de outros”.
Os únicos alimentos de origem animal que come são ovos e queijo. O termo utilizado é ovolactovegetariano, mas tenciona tornar-se vegan. “Não é só comer saladas. Se tivermos uma alimentação equilibrada e soubermos substituir a proteína que vão buscar à carne e ao peixe com proteína vegetal, os benefícios para a saúde são muitos. Eu, como cada vez mais pessoas que adoptam uma alimentação vegetariana, somos a prova de que não é preciso comer carne nem peixe para estar saudável”, sublinha o jovem que diz nunca ter tido problemas de saúde.
É saudável mas há cuidados a ter
A visão dada por Alexandre Guerreiro é reforçada pela nutricionista Beatriz Cardoso, que afirma que se pode excluir o consumo de carne e peixe e ser-se saudável. Mas para isso, adverte, “é importante ter em conta que ao excluir o consumo de carne é necessário haver uma compensação, ou seja, garantir que alguns nutrientes indispensáveis para a saúde continuam a fazer parte da alimentação. Neste tipo de dieta, explica, “as principais fontes de proteína são os produtos à base de soja, as leguminosas (como as lentilhas), nozes, sementes e grãos integrais. Além das fontes de proteína, a nutricionista da Scalisaúde refere a importância da ingestão de ácidos gordos essenciais, como as algas, vitamina B12, vitamina D (através da ingestão de bebidas e cremes vegetais), ferro (presente nas leguminosas e frutos secos), entre outros. Segundo Beatriz Cardoso há “cada vez mais pessoas a optar por este padrão alimentar”, e o que mais as motiva são as questões de saúde devido aos benefícios associados a este tipo de dieta, mas também ao bem-estar dos animais, motivos religiosos, espirituais ou éticos e preocupações com a sustentabilidade do meio ambiente.
“Ser vegetariano hoje é algo completamente normal e quase até tendência”, afirma Alexandre Guerreiro, que considera que há cerca de quatros anoscomeçou a existir um aumento na aceitação e interesse pelo vegetarianismo, assim como mais opções vegetarianas em supermercados e restaurantes. A estagiar num hotel na Alemanha através do programa de Erasmus, o jovem sublinha que é mais fácil ser vegetariano naquele país do que em Portugal, onde, apesar da grande evolução nos últimos anos, ainda há restaurantes que não têm opções vegetarianas, afirma, acrescentando, no entanto, que cada vez é mais fácil e acessível ser vegetariano.