Sociedade | 17-10-2023 10:00

Cercipóvoa aposta na inclusão e abre portas à comunidade

Cercipóvoa aposta na inclusão e abre portas à comunidade
Jorge Becker trabalha na carpintaria com os utentes desde 2009

As portas da Póvoa de Santa Iria abriram-se para acolher os colaboradores da seguradora Metlife. Através de grupos de trabalho, os utentes deram a conhecer as suas capacidades criativas e manuais. Um dia diferente para todos que contribuiu para a inclusão social.

Apanhar azeitonas das oliveiras através do método tradicional de varejamento para depois adoçá-las é uma das actividades que faz parte de um novo projecto da Cercipóvoa, entidade que dá resposta a cidadãos portadores de deficiência. O dia a dia dos utentes da instituição da Póvoa de Santa Iria foi dado a conhecer aos funcionários da empresa de seguros MetLife que escolheu a Cercipóvoa para a sua actividade social trimestral. Através da criação de cinco grupos de trabalho os visitantes conviveram com os utentes nas áreas criativa e desportiva – jogo de boccia, lavagem de carros, carpintaria, jardinagem e artes criativas.
No grupo da jardinagem os utentes ensinaram a tirar folhas dos ramos de oliveira que depois vão a secar e posteriormente são ensacadas para fazer chá. As árvores encontram-se dentro das instalações da Cercipóvoa e é este grupo de 12 utentes que diariamente se encarrega de cuidar dos espaços verdes da instituição. Envasamento de plantas, regar a relva e as flores e utilizar a caixa de compostagem para fazer fertilizante natural são algumas das tarefas dos utentes que foram dadas a conhecer às visitas.
Na sala de artes criativas, em meia hora fizeram-se anjos em cerâmica para depois perfumar. Maria João, animadora sociocultural na Cercipóvoa há 26 anos, conta que estes trabalhos são vendidos para casamentos e baptizados. São utilizados vários tipos de materiais, a maioria reciclados. Colares, pulseiras e enfeites de Natal são elaborados pelos utentes e depois vendidos em feiras de artesanato. A verba angariada serve para comprar mais material e assim alimentar o ciclo em que todos se sentem úteis.
“O objectivo desta iniciativa é trazer a sociedade para a instituição e permitir a interacção com os utentes. Eles têm de perceber que existe mundo para além da Cerci. É fundamental para eles ter um dia diferente e que permite que se libertem”, explica o presidente da instituição, José Gonçalves.
Da parte dos visitantes, Joaquim Leitão, agente exclusivo da MetLife e responsável pela organização do evento, espera que os colaboradores da empresa saiam mais ricos desta experiência. “Espero que as pessoas fiquem mais abertas e disponíveis para a diversidade. Olhar para pessoas especiais, que à luz dos nossos chavões têm algum tipo de limitação, mas percebermos que temos mais limitações que eles, de outro sentido. Trabalhamos com pessoas e por isso vai ter um impacto positivo no nosso trabalho”, considerou o responsável.

Adaptar o trabalho
Jorge Becker trabalha na Cercipóvoa desde 2009 e está diariamente com 12 utentes na carpintaria. No dia a dia trabalham para as encomendas externas que podem ser requisitadas por qualquer pessoa. Naquela zona são restaurados móveis e outros são feitos de raiz. A matéria-prima é reutilizada e aproveitada. “O meu maior desafio é adaptar o trabalho às capacidades deles. Temos o problema do estigma social, em que as pessoas vêm cá fazer encomendas e desconfiam da equipa. Mas no final ficam admirados com a perfeição dos trabalhos”, conta o mentor.
Através da repetição de tarefas os utentes vão aperfeiçoando o oficio e até já trabalham para todo o mundo. “Temos uma senhora que nos encomenda ninhos para combater a lagarta do pinheiro. Os ninhos albergam o chapim-real, o único pássaro que mata a lagarta do pinheiro. Os ninhos vão para todo o mundo e são fabricados aqui”, conta.
O objectivo da Cercipóvoa é aumentar a capacidade de resposta para mais 30 utentes na valência de lar residencial. Os lugares destinam-se a utentes que já estão no centro de actividades ocupacionais da instituição e que com o avançar da idade necessitam de ir para o lar. “Se tivéssemos cem vagas estavam completas. Todos as semanas temos pedidos de integração de pessoas. Os utentes que cá estão são dos municípios de Vila Franca de Xira, Arruda dos Vinhos e Loures”, segundo José Gonçalves.

Maria João ajuda na confecção de anjos em cerâmica perfumada
Utentes e colaboradores externos passaram um dia diferente na Cercipóvoa

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