Compraram casas em Vila Franca de Xira mas não as podem habitar
Em plena crise da habitação há quem já tenha pago apartamentos num novo condomínio em Vila Franca de Xira mas não os pode habitar devido a entraves burocráticos que resultaram numa embrulhada sem fim à vista.
Quando José Teles vendeu as duas casas que tinha em Lisboa para poder comprar um apartamento T3 no condomínio Villa Viva, em Vila Franca de Xira, e fugir à confusão da capital, estava longe de imaginar que a busca pela casa de sonho iria transformar-se num pesadelo. Passados dois anos desde que pagou na totalidade a sua nova casa, orçada em 265 mil euros, José Teles e outros 40 moradores continuam impedidos de poderem mudar-se para as novas habitações. As casas estão prontas mas a câmara municipal ainda não emitiu as licenças de utilização. O queixoso está a viver na casa de familiares em Lisboa, à espera que o imbróglio se resolva.
A urbanização Villa Viva, com um total de 85 apartamentos, foi construída em duas fases no antigo condomínio Bella Guarda, que esteve mais de uma década ao abandono. A primeira fase foi concluída e já tem 45 famílias a morar que se queixam do ruído excessivo da Auto-Estrada do Norte (A1) e acusam o promotor de não ter instalado as barreiras acústicas, como O MIRANTE já noticiou. Agora que a segunda fase está concluída, a câmara decidiu não emitir as licenças de utilização para as restantes 40 habitações enquanto as barreiras não forem colocadas pelo promotor. Uma situação que deixou quem já tem a casa comprada num limbo que não se sabe quando vai ficar resolvido.
“Isto é inadmissível. Sinto-me como uma arma de arremesso”, queixa-se José Teles a O MIRANTE. Todos os dias quando vai de Lisboa para o trabalho, em Alverca, lamenta a sua sorte. “Toda a gente tem o direito de reclamar do ruído mas uns não podem ser filhos e outros enteados. Quem já lá vive reclama do ruído e bem. Eu nem sequer direito ao ruído tenho. Não percebo como este presidente me manda ir viver debaixo da ponte. Estou arrependido de ter vindo para Vila Franca de Xira”, admite.
A casa “limpa e boa para a velhice” que quis comprar começou a transformar-se num problema logo na hora da compra: “quiseram metade do preço da casa logo como entrada o que me obrigou a vender as duas casas que tinha em Lisboa à pressa para vir cá fechar o negócio”, recorda José Teles. Depois vieram os atrasos na entrega das casas. “Há cinco meses que, apesar dos meus contactos com a Villa Viva, não me dizem nada”, lamenta.
O MIRANTE contactou a Villa Viva mas esta limitou-se a dizer que o assunto “não reúne consensos”, convidando o jornal a “fazer matérias sobre o problema da habitação” e que nisso poderiam colaborar.
Na última Assembleia Municipal de Vila Franca de Xira outra moradora na mesma situação, Ana Ferreira, questionou o presidente do município sobre o problema, dizendo tornar-se frustrante não ter informações. “Não é motivador para quem se encontrava entusiasmado para começar uma nova etapa da sua vida em VFX”, lamenta.
Jogo do empurra
Questionado sobre o assunto, o presidente da câmara, Fernando Paulo Ferreira, explica que a Villa Viva não é uma construção de raiz mas sim de reabilitação e conclusão de obra inacabada. Por isso tem duas fases, uma delas já com licença de utilização emitida. “Para a segunda fase foi pedido pelo construtor a licença de utilização final mas desde a licença de construção que, entre outros aspectos, ele está obrigado a colocar barreiras acústicas na auto-estrada e criar um parque infantil. O que acontece é que nem as barreiras estão colocadas nem o parque está terminado”, explica o autarca.
Como o promotor revelou dificuldades em conseguir fazer a obra rapidamente, procurou junto dos serviços municipais que pudesse apresentar uma garantia bancária para assegurar a realização das obras. O problema é que para a câmara ponderar essa solução é preciso que a Brisa, a promotora da A1, dê a autorização para as obras, explicite os termos em que os trabalhos têm de ser feitos e tipos de materiais a usar para que possa ser feito um orçamento. Uma forma de assegurar que o valor da garantia bancária do empreiteiro é suficiente para a realização dos trabalhos.
“Como este assunto começou a ser realmente trabalhado pelo construtor apenas em Setembro e ele estava com dificuldade em abordar a Brisa sobre isto, a câmara promoveu uma reunião entre ele e a Brisa para chegarem a acordo quanto à obra a realizar”, explica o autarca, que diz agora aguardar pelos desenvolvimentos.
A Brisa, recorde-se, já tinha respondido a um morador descartando a responsabilidade da colocação das barreiras acústicas naquela zona, devido ao facto do licenciamento da edificação ser posterior à entrada em exploração do sublanço de Vila Franca de Xira.