A vereadora que é bombeira e não entra nas tricas políticas do executivo de Azambuja
Mara Oliveira é a vereadora da CDU na Câmara de Azambuja que dá estabilidade governativa ao PS. Não é incómoda porque, diz, está ali para trabalhar e não para fazer jogo político. É bombeira voluntária há quase 25 anos e mãe solteira, com muito orgulho.
Mara Oliveira tem 41 anos e é natural de Casais das Boiças, na freguesia de Alcoentre, onde ainda vive com o filho Afonso, de 13 anos. Estreou-se nas corridas eleitorais como cabeça-de-lista à assembleia de freguesia, mas sem sucesso. Nas últimas eleições autárquicas o desafio foi maior: concorreu, pela CDU, à presidência da Câmara de Azambuja, onde acabou por ficar como vereadora, garantindo, através de um acordo com o PS, estabilidade governativa aos socialistas, que perderam a maioria absoluta. Entre os pelouros que lhe foram atribuídos está o da Habitação Social, uma das pastas mais relevantes e que carregava há vários mandatos uma pesada dívida de rendas que em meio mandato já conseguiu reduzir. Já foi elogiada pelo trabalho que tem vindo a fazer, mas também criticada por se escudar de dar a sua opinião em assuntos polémicos debatidos nas reuniões camarárias.
Filha de pais comunistas milita no PCP há 15 anos, mas assume que nem tudo o que o seu partido diz é lei. “Também sou benfiquista e às vezes não gosto da forma como jogam”. No PCP é igual e exemplo disso é a posição do partido sobre a guerra na Ucrânia, com a qual não concorda. Começou a trabalhar aos 18 anos e estudou à noite. É psicóloga e antes de ser vereadora a tempo inteiro trabalhava nos Recursos Humanos do Agrupamento de Centros de Saúde do Estuário do Tejo. É no gabinete onde trabalha, ladeada por socialistas, que recebe O MIRANTE para uma conversa sobre o trabalho que tem vindo a desenvolver, sobre o seu percurso como bombeira e o papel de mãe solteira, o melhor, diz, que sabe desempenhar.
No ano em que tomou posse como vereadora o mapa de dívidas das rendas da habitação social ascendia aos 408 mil euros. Perdoar dívidas, como têm vindo a fazer, era a única solução para o problema?
Neste momento era a única solução possível porque a maior parte das dívidas tinha muitos anos e estava prescrita. Como tínhamos que começar por algum lado começámos a regularizar essas dívidas que já não conseguíamos cobrar. Além dessas, temos muitos acordos que já foram cumpridos e outros que estão em cumprimento. A dívida baixou consideravelmente e temos praticamente todos os moradores a pagar, mas ainda não conseguimos regularizar tudo porque não é um assunto fácil. Houve um trabalho de acompanhamento que não foi feito e não falo só do último executivo porque uma dívida dessas não se faz em quatro anos.
Há quem considere a medida injusta para quem sempre cumpriu com as suas obrigações.
Sabemos que quando há um contrato de arrendamento, seja de habitação social ou não, tem de ser cumprido. Há quem cumpra e não é justo para quem sempre pagou, é verdade, mas tínhamos que fazer alguma coisa.
Quem não estabelecer acordos de pagamento e não os cumprir vai mesmo para a rua? Não é estar a agravar um problema social?
Existe essa hipótese, de encetarmos despejos se os acordos de pagamento não forem cumpridos. Por isso mesmo é que as pessoas estão a cumprir, praticamente todas. Cerca de 5% não está a cumprir e são pessoas com quem não conseguimos chegar à fala.
Quantas pessoas tem este município em lista de espera para habitação social?
A partir do momento em que aprovamos um regulamento de habitação deixou de haver lista de espera oficial. Agora é só por concurso e ainda não abrimos nenhum porque no concelho de Azambuja não há habitação social disponível. No entanto, todos os dias há famílias que vêm à câmara pedir casa. Os senhorios estão a aumentar substancialmente as rendas e não existe capacidade para fazer face a essa subida. Desde idosos com mais de 80 anos que moram sozinhos e vão ser despejados, a famílias jovens com filhos e famílias monoparentais. Uns têm emprego outros estão desempregados, há de tudo.