Mário André: o enfermeiro desportivo de Alpiarça e a sua ligação ao mundo da banda desenhada
A primeira edição do Festival de Fanzines e Banda Desenhada de Alpiarça contou com um leque abrangente de actividades. Decorreu entre os dias 5 e 8 de Outubro no Mercado Municipal de Alpiarça, na biblioteca e na Casa dos Patudos. Mário André, antigo enfermeiro do Sporting Clube de Portugal, é um dos rostos da organização.
Alpiarça recebeu entre os dias 5 e 8 de Outubro a primeira edição do Festival de Fanzines e Banda Desenhada. Durante os dias foram expostas várias publicações de diferentes autores no Mercado Municipal de Alpiarça, na biblioteca municipal e na Casa dos Patudos. Um dos membros envolvidos no festival é Mário André, um filho da terra e autor de fanzines, trabalhos que considera o ponto de partida para os criadores de banda desenhada. Foi durante vários anos um elemento crucial no departamento de enfermaria do Sporting Clube de Portugal. O enfermeiro desportivo, aposentado desde 2015, passou a dedicar o seu tempo à banda desenhada, uma actividade que cultiva desde infância.
O autor da adaptação em banda desenhada do romance de Nuno Júdice, “Implosão”, destaca alguns autores portugueses cujo trabalho reconhece, tais como Daniel Maia, que pertence ao colectivo Tágide, ou Penim Loureiro, co-autor do livro “Umbigo do mundo”. “O meu grande amor continua a ser a execução e a concessão de fanzines e a sua divulgação fundamentalmente junto dos jovens”, refere Mário André, que já participou em festivais internacionais e conquistou várias menções.
Uma banda desenhada alternativa
Mário André explica que os “fanzines” são obras produzidas por fãs amantes de revistas que não precisam de ser exclusivamente de banda desenhada. A produção dos trabalhos envolve um processo em que uma só pessoa se torna num faz tudo. A cultura dos “fanzines” é uma cultura alternativa em que tudo é permitido e onde os produtores têm a liberdade de escolher os seus temas favoritos. Estes trabalhos podem, de acordo com Mário André, ser vendidos a um preço simbólico de modo a cobrir simplesmente as despesas de produção. Apesar de poderem ser feitos por autores amadores Mário André refere que vários autores consagrados iniciaram o seu percurso elaborando “fanzines”. Os “fanzines” servem como uma forma de gritar “liberdade”, sublinha. O que exige mais trabalho no processo de criação é a sua impressão e montagem. Os detalhes técnicos não são a componente principal dos trabalhos, mas sim a mensagem que se quer transmitir, indica.
Os “fanzines” de Mário André são assinados com a marca “Kustom Rats”. Esta marca trata-se de um “nome de guerra” que Mário André escolheu numa etapa da sua vida em que estava ligado ao estilo de vida motoqueiro. Na página de Facebook “Kustom Rats” o alpiarcense divulga o seu trabalho. O “fanzine” mais recente publicado pelo autor tem o nome “WARS” e foi produzido em co-autoria com a sua neta Caetana André.
A possibilidade de realizar um festival de fanzines foi pensada por Mário André e também pelo falecido autor Luís Meireles, poeta e coleccionador de “fanzines”, que foi homenageado no festival.
Importância do festival
Marco Fraga da Silva, vice-presidente da Associação Tentáculo, criou uma “fanzine” intitulada “Espaço Marginal” que venceu um concurso de publicações independentes do Festival Amadora BD. Segundo o membro da associação a banda desenhada envolve uma componente literária e uma componente visual que se pode aproximar do cinema e da animação. “Este tipo de festivais são extremamente importantes para que as pessoas conheçam aquilo que está a ser produzido neste momento em Portugal”, indica. A Associação Tentáculo nasceu de uma necessidade das pessoas produzirem obras e eventos. Marco Fraga da Silva é também autor do livro “Uluru”. De acordo com o vice-presidente da Associação Tentáculo, Sara Meireles, filha de Luís Meireles, cedeu temporariamente várias “fanzines”, algumas delas raras, que estiveram em exposição na Casa dos Patudos durante o festival.
A 7 de Outubro, dia com mais actividades do festival, realizou-se na Biblioteca Municipal de Alpiarça um workshop sobre a criação de jogos narrativos (RPG) conduzido por Sérgio Mascarenhas, de 59 anos, um fã de jogos narrativos e autor da publicação “Ludodrama”, uma publicação que serve de manual de orientação sobre o que são jogos narrativos e como desenvolvê-los.