FC Alverca recusou pedidos de autarcas de VFX e nunca entregou documentação

Dois anos depois, os autarcas de Vila Franca de Xira nunca viram uma linha do polémico protocolo assinado entre o FC Alverca e o SL Benfica mas os apoios financeiros públicos continuam. Ex-presidente confirma que o documento nunca chegou a entrar no gabinete.
Dois anos depois, a direcção do Futebol Clube de Alverca (FCA), presidida por Fernando Orge, continua sem enviar para a Câmara de Vila Franca de Xira uma cópia do acordo assinado entre o clube e o Sport Lisboa e Benfica (SLB) apesar de continuar a receber anualmente mais de 50 mil euros de dinheiros públicos.
A informação é confirmada a O MIRANTE por Alberto Mesquita, ex-presidente do município, que diz ter saído de funções sem nunca ter recebido no gabinete uma cópia do documento ou sequer uma explicação do que este contemplava por parte dos dirigentes do clube. Isto apesar de toda a polémica que se gerou na altura, inclusive, com outros dirigentes associativos do concelho a considerar toda a situação como sendo reveladora de falta de transparência.
O que se sabe é que o protocolo celebrado entre o SL Benfica e o FC Alverca visava estreitar a relação entre as estruturas do futebol de formação dos dois clubes com a intenção de potenciar o intercâmbio de jovens atletas, a partilha de conhecimentos e a realização de jogos de treino e preparação. Os autarcas queriam saber até que ponto o SLB poderia beneficiar da utilização de campos de jogos e outras infraestruturas usadas hoje pelo FC Alverca e que foram parcialmente financiadas por dinheiro municipal. O FC Alverca evocou cláusulas de confidencialidade para não revelar o seu teor aos autarcas e o SLB seguiu a mesma receita.
Questionado por O MIRANTE o actual presidente da Câmara de Vila Franca de Xira, Fernando Paulo Ferreira, sacudiu o assunto dizendo desconhecê-lo em concreto por se ter ter tratado de uma matéria acompanhada pelo anterior executivo. Por isso, diz, nada tem a dizer sobre ele.
“Uma falta de respeito”
Já Carlos Patrão, que na altura era vereador do Bloco de Esquerda e foi uma das figuras que pediu para consultar o documento, diz que o facto da direcção de Fernando Orge nunca ter entregue uma cópia do protocolo à câmara não é surpresa e é revelador do carácter dos dirigentes. “Sempre protestei contra isso, uma vez que a câmara é um dos grandes financiadores do FC Alverca em várias áreas. Se todos pagamos temos o direito de saber”, continua a defender.
Contactado por O MIRANTE, Carlos Patrão, que é hoje um dos rostos do movimento cívico Ciradania, considera também que a postura de Fernando Orge neste assunto configurou uma falta de respeito e de transparência perante uma instituição que apoia o clube. “Parece que estão a esconder alguma coisa”, critica.
Já sobre Fernando Paulo Ferreira preferir manter-se à margem da situação, Carlos Patrão é crítico, rematando que o actual presidente da câmara não pode ter essa atitude. “A câmara é um órgão e há o dever de solidariedade institucional. Não se pode demitir de tudo o que a câmara fez no passado, até porque é da mesma força política do anterior presidente e o actual executivo continua a apoiar e a financiar o FCA”, remata.
A O MIRANTE o clube diz que além do que já foi esclarecido junto das entidades competentes à data dos acontecimentos nada mais tem a comentar sobre o assunto.
FC Alverca é o que mais recebe da câmara
Este ano, recorde-se, entre 121 associações do concelho de Vila Franca de Xira apoiadas pelo município na sua actividade regular pelo Programa de Apoio ao Movimento Associativo, o clube liderado por Fernando Orge voltou a ser o que levou mais dinheiro público. Foi um encaixe de 52.795 euros, um valor bem acima de outras associações do sector social, que apoiam idosos, crianças e produzem actividades culturais, que receberam verbas entre os 110 euros e os 35 mil euros.