Sociedade | 31-10-2023 07:00

Moradores da Adanaia acusam Cimpor de destruir caminho e impedir acessos

Moradores da Adanaia acusam Cimpor de destruir caminho e impedir acessos
Thomas Gugg, suíço a trabalhar em Portugal há vários anos, anda regularmente de bicicleta no local com os amigos e também ficou incrédulo quando viu a situação

População usava os caminhos para praticar caminhadas, trail e andar de bicicleta e num espaço de poucos meses viram-se impedidos de aceder a locais na zona de Alverca que consideram ser património público. Empresa cimenteira refuta, diz que agiu dentro das normas e que vedou o perímetro de uma zona de pedreira por razões de segurança.

Um grupo de moradores da Adanaia, Alverca, está a preparar uma exposição para enviar à Direcção-Geral do Património Cultural (DGPC) queixando-se de uma alegada destruição e impedimento de acesso a locais históricos das Linhas de Torres Vedras por parte da empresa cimenteira Cimpor, de Alhandra.
Isto depois da empresa, que explora uma pedreira na Serra de A-de-Formoso - e que tem sido notícia por causa dos rebentamentos que provocava na vizinha aldeia de A-dos-Melros - ter alegadamente destruído por terraplanagem uma parte do antigo caminho militar que unia os fortes 5 ao 120 das Linhas de Torres e ter também vedado o acesso a essas estruturas que antigamente se fazia por trilhos existentes na serra.
A população está indignada com a situação, diz que se trata de uma postura de abuso por parte da empresa e queixa-se da Câmara de Vila Franca de Xira estar a ser conivente com a situação não salvaguardando convenientemente os interesses da comunidade. Alguns moradores já escreveram à autarquia alertando para a situação mas receberam como resposta que os fortes estão em propriedade privada e que, por isso, a empresa dona dos terrenos teria o direito de os vedar.
“Usávamos os caminhos para praticar trail e BTT e eram caminhos de acesso de A-do-Mourão para os fortes. O que mais custa é que era uma servidão pública, já aqui estava há muitos anos”, explica José Carlos, morador, lembrando que tudo aconteceu pouco depois do abaixo-assinado dos residentes de A-dos-Melros a pedir o fim dos rebentamentos na pedreira.
“Aqui temos um caminho militar que passa junto do forte 119 e dos dois moinhos das Sernadas e que ia sair dentro de A-dos-Melros. Antes do Verão a Cimpor começou a explorar a pedreira deste lado da serra e vedaram isto tudo. Deixaram uns fortes do lado de dentro da vedação e com as máquinas destruíram parte dos caminhos militares”, lamenta a O MIRANTE outro morador, Sérgio Oliveira, que durante anos ali passava de bicicleta.

Cimpor evoca segurança
Contactada por O MIRANTE, fonte oficial da Cimpor diz ter agido de acordo com as normas estabelecidas pela Direcção Geral de Energia e Geologia (DGEG), que determinou que todo o perímetro da pedreira fosse vedado por motivos de segurança e de forma a evitar a entrada de pessoas estranhas. A empresa entende, no entanto, que a vedação que foi instalada “não impede o acesso a nenhum dos fortes e está colocada uma distância de 50 metros” em conformidade com a legislação aplicável a estes monumentos. Já sobre o que aconteceu ao caminho militar, a empresa diz “não se relacionar com qualquer potencial destruição” evocada pelos moradores, que continuam a prometer levar a queixa até à DGPC.
“Alguma coisa não está bem quando isto é caminho militar património nacional e o município desconhece que foi vedado. O que queríamos é que o caminho fosse reaberto”, pede José Carlos. Os moradores lamentam também que um percurso pedonal criado pela câmara municipal há alguns meses, que ligava o Monumento a Hércules, em Alhandra, a São Romão (PR1) tenha sido também ele eliminado recentemente. “Ninguém está contra a empresa, ela é importante para o concelho, mas degradar o património é que não pode ser permitido, não podem chegar aqui e rebentar com isto tudo. Que mantenham as coisas como estavam é o que pedimos e que respeitem este património que é de todos”, apela Sérgio Oliveira.
Contactada por O MIRANTE, a Câmara de Vila Franca de Xira alinha pela mesma resposta da empresa, de que os espaços foram vedados por motivos de segurança e dizendo desconhecer qualquer dano infligido ao património. Sem entrar em detalhes confirma, no entanto, estar a analisar “a implementação de um percurso alternativo ao PR1” que ali existia.

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