Sociedade | 01-11-2023 10:00

Menopausa aumenta risco de doença cardiovascular, hipertensão e diabetes

Menopausa aumenta risco de doença cardiovascular, hipertensão e diabetes
Carla Carregueira teve que retirar os órgãos reprodutores por ter endometriose e por isso entrou na menopausa aos 47 anos

A menopausa é um período difícil na vida de uma mulher uma vez que envolve uma grande alteração hormonal, habitualmente entre os 45 e os 55 anos.

Nesta fase da vida da mulher aumentam os riscos cardiovasculares, associados a hipertensão arterial, diabetes e aumento de peso. O MIRANTE conta a história de Carla Carregueira, que entrou em menopausa devido a um problema de saúde, a propósito do Dia Mundial da Menopausa que se assinala a 18 de Outubro.

O ciclo menstrual e os órgãos reprodutores de Carla Carregueira sempre foram normais até ao parto da filha mais nova, altura em que contraiu uma bactéria. Depois de ter alta hospitalar ficou internada por se ter queixado de dores insuportáveis. “Quando foi do parto do meu filho mais velho tive dores mas nada comparadas com o tipo de dores que tive quando nasceu a Maria Inês”, conta a lojista de Santarém a O MIRANTE. A bactéria alojou-se no colo do útero e entretanto os médicos resolveram o problema, mas Carla Carregueira, na altura com 40 anos, confessa nunca mais ter ficado bem.
As dores menstruais, que nunca tinha tido, passaram a ser intensas. Carla Carregueira admite que deixou arrastar o problema durante cerca de seis anos sem procurar ajuda médica. Até que, há três anos, decidiu procurar o médico de família tendo feito vários exames que não detectaram nada. A lojista insistiu e o médico de família encaminhou-a para a especialidade de ginecologia do Hospital Distrital de Santarém. “Não gostei da atitude do médico que me disse que o meu problema era psicológico e deveria procurar ajuda especializada. Eu sabia que alguma coisa não estava bem com o meu corpo”, afirma.
Voltou a falar com o médico de família que a encaminhou para o Hospital de Vila Franca de Xira onde, conta Carla Carregueira, a médica diagnosticou-lhe endometriose. A ginecologista pediu para que fizesse uma ressonância magnética e só aí é que detectaram vários miomas nos órgãos reprodutores. A médica avançou logo para cirurgia para retirar as trompas de Falópio. “A médica explicou-me que os miomas eram grandes e que seriam retiradas as trompas para eu não entrar logo na menopausa. A médica achou que ao retirar as trompas eu iria ficar bem”, recorda.
No entanto, as dores continuaram e a ginecologista perguntou se Carla Carregueira estava disposta a tirar tudo sabendo que iria entrar numa menopausa precoce e que teria que estar preparada física e psicologicamente. Em Outubro do ano passado fez a cirurgia e desde essa altura que entrou numa fase diferente da sua vida. O facto de tirar os órgãos reprodutores não lhe fez confusão. Começou a ter afrontamentos, cansaço extremo e mudanças de humor. “O que ainda não consigo lidar é com o facto de ter sido sempre uma pessoa animada, extrovertida e disposta a divertir-me. Agora sinto que o meu corpo não acompanha a minha personalidade porque estou sempre muito cansada”, confessa.
Começou a fazer tratamento de reposição hormonal há cerca de um mês e refere que ainda não sentiu alterações. Sente que os afrontamentos não são tantos ao longo do dia e têm menos intensidade. Carla Carregueira acha que tomou a melhor opção ao fazer a cirurgia e espera que as coisas melhorem. O que lamenta é a falta de libido sexual que a menopausa lhe trouxe. “Tenho muita sorte com o meu marido porque é muito compreensivo e tem-me ajudado a ultrapassar o problema. Tenho desejo sexual mas durante o acto sexual tenho algumas dores que acredito que vão passar com a reposição hormonal”, refere.

José Fonseca Moutinho, ginecologista, explica que a menopausa é um período difícil na vida de uma mulher

Menopausa interfere muito com vida sexual da mulher

A menopausa é um período difícil na vida de uma mulher pois existe uma grande alteração hormonal. Os níveis de estrogénio baixam muito e todos os órgãos que necessitam dessa hormona ficam mais frágeis como a vagina, a mama, a pele e o cabelo, por exemplo, e leva a um envelhecimento gradual. A explicação é dada a O MIRANTE pelo ginecologista José Fonseca Moutinho. Umas mulheres sofrem mais do que outras mas todas sentem bastante esta fase.
A menopausa surge entre os 45 e os 55 anos e é determinada geneticamente. O seu aparecimento pode ser antecipado dois anos em casos de mulheres que fumam, bebem álcool e têm uma alimentação descuidada. É um processo lento que vai acontecendo aos poucos durante cerca de cinco anos, tempo para a mulher se adaptar às alterações do seu corpo. Os primeiros sintomas normalmente são os afrontamentos e suores nocturnos. Nesta fase da vida da mulher aumentam os riscos cardiovasculares, associados a hipertensão arterial, diabetes e aumento de peso.
“Há mulheres que encaram este processo com naturalidade e suportam melhor do que outras que se sentem muito afectadas, não só física como psicologicamente. Há alguns séculos as mulheres não chegavam à menopausa e não se colocava este problema. Com o aumento da esperança média de vida tem que se saber lidar com esta fase”, explica o ginecologista.
José Fonseca Moutinho, que dá consultas na clínica Sentidos, na Golegã, explica que está cientificamente determinado que só as mulheres com sintomas de menopausa beneficiam da terapêutica hormonal. A secura vaginal é outro dos problemas com que as mulheres se debatem durante a menopausa. “Em muitas mulheres a menopausa interfere bastante com a vida sexual. Se a mulher não se sente bem com ela própria não vai ter desejo. Mas existem mulheres em que pode aumentar o desejo sexual. Como os níveis de estrogénio baixam e as hormonas masculinas se mantêm iguais pode aumentar a líbido”, esclarece o médico, acrescentando que a idade em que se tem a primeira menstruação (menarca) não influencia nada com a idade da menopausa.

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