Sociedade | 03-11-2023 07:00

Julgamento do acidente que vitimou Sara Carreira com versões que geraram indignação

Santarém recebe mediático julgamento onde três dos quatro arguidos estão acusados de homicídio por negligência, entre os quais o cantor Ivo Lucas e a fadista Cristina Branco.

O condutor do veículo que deu origem ao acidente que vitimou Sara Carreira negou estar a circular a cerca de 30 quilómetros por hora como referem os peritos, mas sim a 80 quilómetros por hora. O arguido, acusado de um crime de homicídio por negligência grosseira, falava, no Tribunal de Santarém, na primeira sessão do julgamento do caso do acidente que provocou a morte da cantora Sara Carreira, em 5 de Dezembro de 2020.
Paulo Neves disse discordar dos resultados da perícia, que concluiu que circularia a uma velocidade entre os 28 e os 32 quilómetros por hora na Auto-estrada 1 (A1), na zona de Santarém, na altura em que o carro da segunda arguida, Cristina Branco, embateu na sua viatura. “Sobre a velocidade tenho muitas dúvidas”, disse, defendendo que estaria a circular entre os “70 a 80 quilómetros por hora”.
Já sobre a taxa de alcoolemia, disse “ter que aceitar” o resultado do teste, que acusou uma taxa de álcool de 1,18 gramas por litro de sangue (acima do permitido por lei – 0,5 gramas por litro), explicando ter estado a lanchar com dois colegas e ter “comido queijo e bebido vinho”, sem conseguir especificar a quantidade. No entanto, o arguido disse estar consciente da sua condução. “Estava plenamente consciente do que estava a fazer”, afirmou Paulo Neves ao Tribunal de Santarém, no dia 24 de Outubro.

Cristina Branco ficou “confusa e em estado de choque”
Segundo a descrição do acidente, a viatura de Cristina Branco embateu, cerca das 18h30, no veículo de Paulo Neves, que circulava na faixa da direita, alegadamente a uma velocidade inferior à mínima permitida por lei (50 Km/h) e depois de ter ingerido bebidas alcoólicas. A viatura de Cristina Branco embateu, de seguida, na guarda lateral direita, rodando e imobilizando-se na faixa central da A1. Apesar de ter ligado as luzes indicadoras de perigo, a fadista, que abandonou a viatura na companhia da filha, foi acusada pelo Ministério Público de não ter feito a pré-sinalização de perigo.
A fadista de Almeirim contou ao tribunal: “vi umas luzes mesmo em frente ao meu carro, pus a mão no peito da minha filha, travei e disse “vamos bater”. Cristina Branco explicou à juíza Marisa Dias Ginja que a sua preocupação foi “colocar a filha em segurança”, no separador central da A1 e que não colocou o triângulo de sinalização do acidente porque se encontrava “confusa e em estado de choque” e porque “estavam carros a circular”, entre os quais recorda a passagem de um camião.
A primeira sessão do julgamento foi marcada pela audição de Ivo Lucas, namorado da cantora, que conduzia o carro em que ambos circulavam e que está acusado também de um crime de homicídio por negligência grosseira. Num testemunho emotivo, o terceiro arguido a ser ouvido pelo tribunal recordou que ele e Sara Carreira se deslocavam do Porto com destino à Charneca da Caparica, onde a cantora deveria jantar com a mãe, e seguiriam para um fim-de-semana com amigos, em Salvaterra de Magos.
Ivo Lucas afirmou que vinham a conversar e que só se apercebeu de “um vulto” no mesmo momento em que Sara Carreira “gritou ‘cuidado’” tendo embatido de seguida na viatura de Cristina Branco. A fadista tinha já testemunhado que havia visto o carro do casal “sobrevoar” o local onde se encontrava com a filha, embater no separador e capotar várias vezes.

Ivo Lucas: “Não sabia onde estava, não sabia o que tinha acontecido”
Já Ivo Lucas disse não se ter apercebido do impacto e só ter consciência a partir do momento em que se encontrava “a atravessar a estrada, sem t-shirt e com o braço todo desfigurado”. “Não sabia onde estava, não sabia o que tinha acontecido e não sabia da Sara”, recordou, acrescentando que, dois anos depois do acidente, as suas memórias continuam a ser apenas ‘flashes’ que não consegue “ordenar cronologicamente”.
No acidente esteve ainda envolvido Tiago Pacheco que seguia pela via central da A1 e que, segundo a acusação, não reduziu a velocidade, mesmo apercebendo-se que passava por um acidente, não conseguindo desviar-se da viatura de Ivo Lucas (que ocupava parcialmente aquela faixa), onde este ainda se encontrava, bem como Sara Carreira. Este foi o último arguido a falar ao tribunal tendo também discordado da velocidade que a acusação alega que ia [entre 146,35 e 155,08 Km/h].
O condutor alegou que circulava a “85/86 quilómetros por hora” poucos minutos antes do embate e que não terá travado ao passar pelo acidente por não ter “sentido a necessidade de abrandar”. Tiago Pacheco disse ainda não ter visto qualquer sinalização de acidente e só se ter apercebido de “luzes laranja” na faixa direita da A1, tendo passado pelo meio dos carros acidentados “passando por cima de destroços” e acabando por embater com o seu carro na viatura conduzida por Ivo Lucas.

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