Sociedade | 04-11-2023 21:00

Viver a crédito é uma péssima opção e um inimigo da poupança

Viver a crédito é uma péssima opção e um inimigo da poupança
Rui Alves Veloso vive em Castanheira do Ribatejo e diz que o concelho de Vila Franca de Xira tem uma localização invejável do ponto de vista económico

Tentar recorrer ao crédito para fazer face a despesas permanentes significa, quase sempre, adiar o problema, que voltará com maior dimensão. A propósito do Dia Mundial da Poupança, que se assinala a 31 de Outubro, O MIRANTE conversou com Rui Alves Veloso, natural de Alhandra, especialista em assuntos económicos e editor geral da RTP.

Mesmo que o ordenado mensal pareça curto quando entra na conta a melhor dica de poupança é pagar a si primeiro colocando de lado um valor fixo como se fosse uma despesa regular. Pode custar no imediato mas é a melhor forma de conseguir meter algum dinheiro de lado para uma emergência.
A dica é deixada a O MIRANTE por Rui Alves Veloso, especialista em assuntos económicos e editor geral da RTP. Natural de Alhandra e residente em Castanheira do Ribatejo, o jornalista explica que há várias formas de poupar, por exemplo, gastando apenas a água necessária ou ter o cuidado de apagar as luzes que não estão a ser usadas e aproveitar da melhor forma as promoções nos supermercados. Há, no entanto, um método que pode ser mais vantajoso.
“A prática mais comum das famílias é pagar as contas, gastar em alguns extras e pôr de lado o que eventualmente sobre. Muitas vezes pouco ou nada. Com o método ‘pague-se a si mesmo’ a ideia é que quando se recebe o ordenado põe-se logo de lado uma determinada quantia fixa todos os meses, depois paga-se as contas obrigatórias como a casa, alimentação, luz ou água. Os extras são feitos ou adquiridos em função do que possa sobrar”, explica. O método implica disciplina mas é uma boa prática para quem esteja disposto a abdicar de determinadas necessidades imediatas, até mesmo de alguns prazeres no presente, em nome de um futuro financeiro mais desafogado.
Também ele já começou a poupar em casa. “Se tiver de cortar é no que é mais supérfluo”, confessa Rui Alves Veloso. No seu entender, a sociedade já vem interiorizando, desde a crise de 2008, que não se pode gastar mais do que aquilo que se recebe mas ainda faltam estímulos à poupança em Portugal, admite, incluindo políticas que levem as famílias a poupar e instrumentos que estimulem as poupanças. E a literacia financeira é fundamental na opinião do especialista.
“Se desde novos formos tomando contacto com os termos mais relevantes das questões financeiras estaremos mais preparados para lidar com as dificuldades, fazendo escolhas mais acertadas, evitando erros desnecessários e tendo uma postura mais preventiva em relação a potenciais fraudes”, refere a O MIRANTE.

“Viver a crédito é sempre uma péssima opção”
Um dos erros mais comuns é recorrer ao crédito num período de dificuldade. O especialista avisa que essa é a pior opção que se pode tomar. “Viver a crédito é sempre uma péssima opção. Vamos sempre pagar mais, em muitos casos muito mais, por aquilo que consumimos porque ao custo vão sempre somar-se juros. E mais cedo ou mais tarde a conta vai aparecer. Tentar recorrer ao crédito para fazer face a despesas permanentes significa, quase sempre, adiar o problema, que voltará com maior dimensão”, avisa.
Questionado sobre se o actual momento inflacionário poderá afectar os níveis de poupança das famílias, Rui Alves Veloso admite que isso poderá acontecer. “É evidente que quem tem poucos rendimentos tem mais dificuldades em poupar, até porque muitas vezes o dinheiro não chega para as coisas básicas. Mas a poupança está muitas vezes apenas associada à confiança ou à falta de confiança para gastar”, regista.
Segundo o especialista, quando há uma percepção de crise as poupanças aumentam mesmo que os rendimentos diminuam. No caso de Portugal há uma evidência: poupamos quando temos receio do futuro e gastamos mais quando estamos mais confiantes. “Por exemplo, em 2012, no pico do resgate da troika, a taxa de poupança das famílias em Portugal aumentou para 10,2% do rendimento disponível. E nesse período até houve corte de salários e subsídios no sector público, remunerações menores no sector privado e agravamento de impostos que afectaram o rendimento”, nota.
As recomendações internacionais avisam que o nível de poupança mensal deve ser de pelo menos 20% do rendimento, idealmente 30%. “Há uma regra conhecida por 50/30/20: 50% do rendimento para despesas fixas de primeira necessidade; 30% para outras despesas não essenciais, como roupa nova ou umas férias, e 20% para poupar ou investir em produtos de poupança, como, por exemplo, planos poupança reforma ou certificados de aforro”, conclui.

Contra aeroporto em Alverca

Rui Alves Veloso vive no concelho de Vila Franca de Xira desde que nasceu e é aí que tem os amigos e família. “Continua a ser um local viável para morar em relação a Lisboa”, confessa, elogiando a tranquilidade e boa localização como as mais valias do concelho. “Tenho uma especial paixão por Alhandra: será sempre a minha terra onde quer que vá morar”, admite o jornalista que não gosta de ver a estagnação económica e a falta de planeamento em várias áreas que tem existido no concelho. Se pudesse tomar uma medida para melhorar o dia-a-dia do concelho criaria uma equipa permanente de pessoas bem preparadas, com experiência, que teria a missão de atrair investimento empresarial para o concelho.
“Vila Franca de Xira tem uma localização invejável. Tem de ser possível colocar o concelho no radar dos investidores, nacionais e internacionais, nos diferentes sectores de actividade. Também avançaria com medidas urgentes e abrangentes para re-dinamizar o centro de localidades como Vila Franca de Xira e Alhandra”, refere.
A O MIRANTE, Rui Alves Veloso diz ter dúvidas que Alverca fosse boa solução para o aeroporto complementar à Portela. “A União de Freguesias de Alverca e Sobralinho tem quase 37 mil habitantes e uma forte densidade populacional com acessos rodoviários muito estrangulados. Penso que a cidade perderia mais do que ganhava”, defende.

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