Sociedade | 06-11-2023 10:00

Caso de bullying em Benavente teve final feliz mas é preciso continuar a dar o exemplo

Caso de bullying em Benavente teve final feliz mas é preciso continuar a dar o exemplo
Daniel Teixeira foi o mentor da iniciativa de combate ao bullying na Escola Duarte Lopes

Há um ano os alunos de uma turma da Escola Básica 2,3 Duarte Lopes, em Benavente, raparam o cabelo como manifestação de solidariedade para com um colega que sofria de bullying.

António Branco nunca mais foi alvo de represálias na escola mas o professor Daniel Teixeira considera que é preciso continuar com o movimento. O Dia Mundial do Combate ao Bullying assinalou-se a 20 de Outubro.

António Branco, aluno da Escola E B 2,3 Duarte Lopes, em Benavente, nunca mais sofreu de bullying por parte dos colegas. O aluno sofria em silêncio com os comentários que faziam por causa da falta de cabelo provocada pela alopecia que lhe foi diagnosticada aos quatro anos. O MIRANTE acompanhou há um ano a iniciativa “todos são Antónios e Antónias” em que os colegas rapazes raparam o cabelo e as meninas andavam de cabelo apanhado como manifestação de solidariedade para com o colega.
Apesar da repercussão que o caso teve a nível nacional o professor Daniel Teixeira lamenta que depois o assunto tenha caído no esquecimento. “Entraram todos para o quadro de valor e na entrega dos diplomas da escola a iniciativa nem sequer foi lembrada. O que fizemos foi viral e bonito naquele momento. Mas o que as pessoas não percebem é que o António era um exemplo daquilo que acontece com muitos outros meninos. O que interessava era o António e a desgraça do António e não o exemplo”, refere o docente.
Para o aluno, a iniciativa foi o remédio para deixar de se sentir isolado. Na altura até chegou a dar autógrafos. Mas, segundo o professor, continuam a haver quezílias e problemas de bullying no primeiro ciclo. “A incidência e a frequência são bullying. O andar sistematicamente a enxovalhar alguém. Na pré-adolescência os alunos fazem bullying aos colegas por serem pobres e por perceberem que têm necessidades. Depois temos o bullying encapotado que é, por exemplo, numa aula colocarem de parte um colega. Cabe aos professores perceber estas situações e integrá-los”, relata o docente.
Um ano após o caso de António Branco ser conhecido a dinâmica dos bonés com a letra A, acessório usado como forma de solidariedade, começou a desvanecer-se. “O que acho é que não temos força suficiente ou quem nos ajude a ramificar as acções, mesmo aqui na escola. Quando fui à televisão para falar disto tive de pôr um dia de férias e fui com os alunos. Se fosse rico formava outra escola. Disse isto ao director depois de uma reunião em que fui chamado por ter estado exposto e por exigir materiais para os alunos à escola e à câmara municipal. Felizmente tivemos ajuda de particulares”, conta Daniel Teixeira.

“Os meninos não merecem a mesma escola chata que eu tive”
Com mestrado em inovação pedagógica, Daniel Teixeira defende que a escola deve fazer mexer os alunos para que os jovens não sejam meros espectadores. Hoje em dia não basta estar entre quatro paredes, numa percentagem tão grande de tempo, como a escola obriga. Por isso foi criado o projecto Do Tamanho do Mundo. O objectivo é inventar “tudo e mais alguma coisa” que implique atracção pela escola. Tudo pode começar na aula, ou fora dela, em qualquer disciplina. “Às vezes tenho vontade de chorar porque os meninos não merecem a mesma escola chata que eu tive, até porque eles têm os meios que nós não tivemos. A escola não pode ficar desfasada do que eles são. O professor é o menos culpado nisto. Podíamos fazer muito mais se as coisas se encaminhassem nesse sentido”, reitera Daniel Teixeira.
Através Do Tamanho do Mundo os alunos já construíram uma estrutura lúdico-pedagógica, pontos de socialização e manilhas no pátio da escola. Num sábado a comunidade escolar pintou no chão frases positivas para controlar a indisciplina e o bullying. Memorial ao aluno, jogos e um caricódromo foram outros dos projectos executados, todos com ajuda de empresas e particulares, além das entidades oficiais como a Junta de Freguesia de Benavente e Câmara de Benavente.
O futuro passa por conseguir ter na parede da escola imagens de linguagem gestual e alargar os pontos de convívio. Até lá o professor Daniel Teixeira, que dá aulas na Duarte Lopes há 17 anos, vai continuar a pensar fora da caixa. “Escusam de me convidar para um seminário chato. Vou se puder levar os meninos todos, conversar debaixo de uma árvore a ouvir os pássaros com os alunos ou outras iniciativas que não sejam mais do mesmo”, diz.

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