Sociedade | 07-11-2023 12:00

Escolas de Almeirim estão diferentes sem telemóveis

Escolas de Almeirim estão diferentes sem telemóveis
Directora do Agrupamento de Escolas de Fazendas de Almeirim, Conceição Pereira, no espaço dos cofres para telemóveis

Há mais barulho, mais diversão, mais socialização nas escolas do concelho de Almeirim desde que o presidente da câmara impulsionou a proibição do uso de telemóveis, excepto para fins pedagógicos a pedido do professor.

A maior parte dos alunos deixaram de levar telemóvel e os que levam cumprem as regras e só houve sete casos de desrespeito às normas. As coisas estão mesmo diferentes nos recreios e imagine--se que agora até se joga matraquilhos.

Os recreios das escolas de Almeirim estão mais barulhentos. Mas é por uma boa causa. Os alunos passaram a conviver mais uns com os outros depois de, neste ano lectivo, se ter proibido na prática o que já estava previsto nos regulamentos escolares desde 2012, que é a utilização dos telemóveis nos intervalos e no período de almoço. A medida, impulsionada pelo presidente da câmara, Pedro Ribeiro, foi bem acatada pelos estudantes a avaliar pelos desvios detectados à regra. No Agrupamento de Fazendas de Almeirim só um aluno foi apanhado a usar o telemóvel e no Agrupamento de Almeirim há a registar meia dúzia de situações.
As situações detectadas nos agrupamentos de escolas não foram graves e implicaram apenas que os pais tivessem de se deslocar às escolas para recolherem os aparelhos que tinham sido confiscados. Como foi a primeira vez não se aplicaram outras sanções, porque à segunda vez, alerta o director do Agrupamento de Almeirim, José Carreira, dá uma suspensão como castigo. O dirigente recorda que a sua maior preocupação, que se tinha acentuado no ano anterior, eram os alunos da Escola dos Segundo e Terceiros ciclos Febo Moniz. Os alunos quando terminava a aula saíam das salas já com o telemóvel na mão e nem comiam. Ficavam espalhados pelo recinto isolados, sem interagirem, e mesmo quando iam para o bar sentavam-se às mesas, em grupos, mas sem conviverem, completamente viciados nos jogos e outras aplicações.
O sistema implementado em Almeirim, que se praticavam em algumas escolas, poucas, mas não numa dimensão concelhia, em todos os estabelecimentos de ensino, não quer dizer que os professores ou os directores são contra as tecnologias. A directora do Agrupamento de Fazendas de Almeirim, Conceição Pereira, explica que os professores podem inclusivamente, por razões pedagógicas, dizerem aos alunos para levarem os telemóveis para a aula para um determinado trabalho. “Nos recreios já não temos uma imagem degradante que era ter miúdos colados aos ecrãs sem socializarem”, alegra-se a dirigente. E há mais mudanças. O município instalou matraquilhos gratuitos nas escolas, além de fornecer jogos como xadrez, damas e outros.
Na EB 2/3 Salgueiro Maia de Fazendas de Almeirim dos 333 alunos a grande maioria deixou de levar telemóveis para a escola. Os 15% que ainda se fazem acompanhar com os aparelhos têm de os deixar num cofre fechado com um código de segurança, um por cada turma, e só são devolvidos após o último tempo de aulas. Em Almeirim os cofres também têm pouca utilização e há um compromisso de honra entre a direcção, professores e alunos em que estes podem ter os aparelhos nas mochilas desde que desligados, o que tem sido respeitado. Exemplo de que a medida foi bem acatada, apesar de ter havido inicialmente algumas resistências dos pais, é a do aluno de Fazendas de Almeirim que desrespeitou as regras. Conta Conceição Pereira que a mãe quando foi à escola receber o telemóvel do filho pediu desculpa pela situação.

A resistência de alguns pais, o papel do presidente da câmara e os dados preocupantes
O papel do presidente da câmara, que deu a cara pelo modelo e promoveu a sua aplicação, movimentando os responsáveis e sensibilizando os pais, facilitou bastante o trabalho aos directores das escolas. José Carreira admite que assim não sentiu tanta pressão apesar de revelar que chegou a ter alguns comentários e algumas tentativas de subverter as regras por parte de alguns pais chegando a haver um encarregado de educação que ameaçou apresentar uma queixa na GNR contra si. A nova realidade só foi possível depois de os conselhos gerais dos agrupamentos terem deliberado nesse sentido, movidos por evidências assustadoras.
No Agrupamento de Fazendas de Almeirim um inquérito revelou que mais de 80% dos alunos adormecia com os telemóveis e a horas tardias. O director do Agrupamento de Almeirim recorda que na sessão do Parlamento dos Jovens, sobre o tema da saúde mental na juventude, foram vários os alunos a reconhecerem que passavam demasiado tempo no telemóvel. E admitiram que por via disso tinham dificuldades em adormecer e falta de concentração. “A escola não se preocupa apenas com a educação, mas também com a saúde”, realça José Carreira.

Sandra Paulino e o filho Duarte estão satisfeitos com a proibição dos telemóveis nas escolas

Duarte já nem sente muita falta do telemóvel

Duarte Paulino frequenta o 7º ano da Escola de Fazendas de Almeirim. Considera-se um aluno sociável e que não é muito dependente das tecnologias, mas admite que costumava levar o telemóvel para a escola para jogar nos intervalos. Desde o início do ano lectivo diz que não leva o aparelho e que até já nem sente tanta falta dele. A mãe do aluno de 12 anos, Sandra Paulino, enfermeira na pediatria do Hospital de Santarém, intervém para dizer que assim os miúdos aprendem a gerir as emoções e a saberem esperar pela altura a que chegam a casa para falarem com os pais.
Para Sandra, que considera que a dependência das tecnologias provoca problemas nas crianças como a obesidade, a medida não só está a servir para combater o isolamento das crianças e adolescentes, o vício, a falta de socialização, mas também é boa para “educar” alguns pais. A enfermeira diz que agora sente que os miúdos, que os colegas do filho, já conversam mais, já interagem.
Duarte, que joga basquete em Santarém, diz que está a gostar da forma como agora convive com os colegas na escola. Isso está a fazer, entende a mãe, que os miúdos ultrapassem a dificuldade em falar com os adultos e deixem de ser tão fechados no seu mundo. Também tem ajudado a fazer com que os pais interfiram menos nos pequenos problemas dos seus filhos que, em muitos casos, passavam a vida a ligar-lhes por coisas de somenos importância. “Toda a gente ficava nos blocos a usarem os telemóveis, agora já vão mais para o pátio”, remata o aluno.

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