Radioamadores são uma frente desaproveitada da tecnologia nacional
Na Feira da Rádio do Ribatejo, que se realizou em Santarém, dezenas de curiosos aprenderam sobre uma actividade que perdeu importância ao longo das últimas décadas, mas que foi determinante durante o século passado. A feira contou com a presença de João Martinho, natural de Alcanena, que aos 95 anos é considerado uma referência no mundo do radioamadorismo.
A Feira da Rádio do Ribatejo é um lugar de convívio entre radioamadores e de troca, venda e compra de diferentes equipamentos utilizados por quem é apaixonado pela comunicação. É o caso do professor João Martinho, um dos radioamadores mais antigos do país, que celebrou, no dia 29 de Outubro, o seu 95º aniversário. O professor, conhecido entre os seus pares como CT1AP, sigla que remete para o indicativo do seu radioamador, esteve na feira que se realizou no Convento de São Francisco a 29 de Outubro. O MIRANTE encontrou-o junto da mesa na qual estava em exposição um emissor móvel de alta frequência construído por si nos anos 50 do século passado.
João Martinho, natural da freguesia de Espinheiro, concelho de Alcanena, começou a construir durante a sua infância e adolescência rádios de galena, um dos receptores de rádio mais simples de modulação AM que se pode construir. Era através destes rádios que escutava música e ouvia os programas da altura. A sua actividade enquanto radioamador foi desenvolvida a partir de 1951. O experiente radioamador, e referência entre os seus pares, admite que não trocava o conhecimento obtido ao longo dos vários anos de actividade por qualquer licenciatura. Apesar da idade avançada o professor e radioamador continua a utilizar o equipamento que tem em sua casa. Afirma que o radioamadorismo é uma comunidade onde a actividade deve ser propagada e trabalhada num aspecto pedagógico pelas gerações mais novas. “Os radioamadores constituem uma frente desaproveitada da tecnologia nacional”, aponta.
Uma forma de avisar dos perigos
Sílvio Leiria, 64 anos, é presidente da direcção da Associação de Radioamadores do Ribatejo, formada oficialmente em 1994. Radioamador desde os 18 anos, afirma que é preciso renovar e começar a lançar jovens no radioamadorismo para evitar a extinção da actividade. “Há muita coisa no radioamadorismo que pode ser feito pelo radioamador”, refere Sílvio Leiria, dando exemplos de equipamentos como antenas, aplicadores lineares, entre outros. O radioamadorismo é uma actividade lúdica ligada a uma técnico-científica, descreve Sílvio Leiria. Dentro do radioamadorismo existe uma diversidade de modos de comunicação que requerem especialização em diferentes tipos de comunicações, sejam elas digitais, por satélite ou outras. O presidente da direcção da associação indica que tem preferência pelas comunicações de onda curta, que são ligações de longa distância. A autonomia dos equipamentos utilizados pelos radioamadores permite que, em caso de falha de comunicação, a informação chegue ao destinatário.
Na sede da Associação de Radioamadores do Ribatejo, situada na antiga Escola Prática de Cavalaria, em Santarém, existem duas estações móveis autónomas com geradores que permitem ir para qualquer ponto do distrito e montar, com o apoio de outros radioamadores, uma rede autónoma de comunicação em casos de emergência. Sílvio Leiria refere que, no tempo anterior à existência de telemóveis, nos episódios de cheias, os radioamadores funcionavam como verdadeiras torres de controlo e avisavam as entidades responsáveis pela Protecção Civil.
Na Feira da Rádio do Ribatejo estiveram presentes radioamadores e entusiastas de diferentes localidades do país, nomeadamente do Porto, Braga, Lisboa e também da região Algarve, para além de expositores das zonas de Aveiro, Leiria e Coimbra.