Sociedade | 18-11-2023 07:00

Hoje é mais fácil viver com diabetes

Hoje é mais fácil viver com diabetes
Liliana Mira é diabética há 19 anos e já esteve em coma diabético duas vezes

Liliana Mira reside em Torres Novas, tem 35 anos e é diabética há 19 anos. Hoje reconhece que é mais fácil viver com diabetes, mas nem sempre aceitou bem a doença que descobriu depois de perder mais de 20 quilos. A propósito do Dia Mundial da Diabetes conta a O MIRANTE como é viver com uma doença silenciosa.

Liliana Mira tinha 16 anos quando descobriu que sofria de diabetes tipo 1 e que iria passar a ser totalmente dependente da administração de insulina, hormona que o seu pâncreas deixou de conseguir produzir. Os sintomas, conta, começaram durante a pausa lectiva de Verão, período em que perdeu cerca de 20 quilos. Como trabalhava num café e restaurante, chegando a passar dez horas em pé, associou a perda de peso ao trabalho até que o teste da glicemia no centro de saúde, a 23 de Setembro de 2004, detectou níveis de glicemia acima dos pré-estabelecidos, num valor superior a 599, que lhe ditaram o diagnóstico.
Apesar de não ter uma resposta concreta foi-lhe explicado que a diabetes tipo 1 está relacionada com uma doença do sistema auto-imune que poderá ter-se desenvolvido devido a uma bactéria que se alojou na parte do pâncreas - o órgão responsável pela produção de insulina -, danificando-o quando teve uma pneumonia em Junho. Após o diagnóstico a rotina passou a ser picar-se ao acordar e antes de cada refeição para medir os níveis de glicemia e a fazer contas à quantidade de hidratos de carbono que ia ingerir para administrar a quantidade certa de insulina. Apresentar uma visão turva (níveis altos de glicemia) ou trémula (níveis baixos) são alguns dos sinais a que tem de estar atenta.
No início, Liliana Mira aceitou bem a doença, mas depois de alguns meses começou a sentir-se diferente e “esquisita” na escola, onde mais ninguém tinha diabetes. Tinha de comer sempre no refeitório, fazer as contas da porção de hidratos de carbono que ingeria, sentia-se muito magra e com alguma queda de cabelo. “Pensei que conseguia viver sem nada disto, deixei de administrar insulina e deu mau resultado”, conta, acrescentando que foi internada com valores muito elevados de glicemia até voltar a estabilizar. Depois começou a ser acompanhada psicologicamente pela Associação Protectora dos Diabéticos de Portugal (APDP) - onde continua a ser seguida - até aceitar a doença.

Doença exige alimentação controlada e com regra
Actualmente é menos complicado lidar com a doença por causa do sensor que se coloca no braço, que fornece os valores de glicemia, e a bomba infusora de insulina, à qual Liliana Mira chama o seu “pâncreas artificial”. A bomba de insulina, que utiliza desde 2019, inclui um comando, um cateter, uma cânula e um aparelho onde leva um cartucho com insulina que, em simultâneo com a informação que Liliana Mira lhe dá sobre o que come, ajusta, consoante as necessidades, a administração de insulina antes de cada refeição. Acorda e passa o sensor, mas não deixa de picar o dedo para obter valores mais precisos. “Faz-se uma vida muito melhor”, frisa, referindo que até já existem algumas roupas de desporto adaptadas para levar o aparelho, que só pode retirar para tomar banho, ir ao mar na praia ou para fazer determinados exames, e tem de mudar o cateter de três em três dias em casa, processo que aprendeu numa formação da APDP. “Eu fazia entre seis a nove injecções de insulina e, neste momento, faço uma picada de três em três dias que é o cateter”, explica.
Apesar de ser mais fácil lidar com a doença Liliana Mira continua a não sair de casa sem a bolsa onde leva pacotes de açúcar, o comando da bomba, tiras para picar o dedo, o picador, pilhas para a bomba e comando, um cateter, insulina e a cânula caso aconteça alguma coisa. Tem também a caneta e insulina em cartucho caso a bomba avarie. Embora requeira muito cuidado, a diabetes, afirma, não a proíbe de comer fora ou em épocas festivas, mas exige-lhe uma alimentação controlada e com regra.

Duas vezes em coma diabético

Liliana Mira já passou por momentos complicados como nas duas vezes que entrou em coma diabético. Em 2008 quando teve uma recaída e tentou viver sem insulina novamente provocando uma hiperglicemia (valores altos). Em 2018 quando entrou em coma por hipoglicemia (valores baixos) devido ao rebentamento de um género de “bolsas” na barriga onde a insulina se acumulava devido aos longos anos de administração de insulina nessa zona com canetas. Liliana Mira deitou-se com a glicemia a 200 depois de comer um iogurte natural. Quando acordou estava no hospital depois do seu companheiro a ter encontrado gelada e obter um valor de 17 após picar-lhe o dedo sendo que os valores normais são entre 80 e 120. “Devia ter feito uma correcção e não fiz. Deitava-me muitas vezes com valores entre 200 a 250 para poder dormir até mais tarde sem precisar de comer nada. Cheguei a fazer esses testes e acordava com glicemia de 100, o que é óptimo depois daquelas horas todas. Naquele dia não correu bem”, recorda.

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