Sociedade | 20-11-2023 12:00

Começar a falar da deficiência abertamente para acabar com o preconceito

Começar a falar da deficiência abertamente para acabar com o preconceito
Palestra "A (Des)construção da inclusão foi promovida pelo Centro de Integração e Reabilitação de Tomar onde se abordou a necessidade de falar de deficiência sem tabus

Biblioteca Municipal de Tomar recebeu palestra onde foram partilhadas as inquietações das instituições para pessoas com deficiência e qual o verdadeiro significado de integração. Iniciativa promovida pelo CIRE contou com o testemunho de um pai de criança autista.

A palestra “A (Des)construção da inclusão” decorreu a 8 de Novembro, na Biblioteca Municipal de Tomar Dr. António Cartaxo da Fonseca, com o objectivo de desconstruir o conceito de inclusão para ter uma sociedade mais “empática e consciente”. A palestra, promovida pelo Centro de Integração e Reabilitação de Tomar (CIRE), contou com a participação de Célia Bonet, presidente da instituição, Juliana Belo, mentora do projecto CADI, e Paulo Teixeira, enquanto pai de João, uma criança autista.
Paulo Teixeira partilhou como tem sido a vida da sua família começando por recordar o momento em que a esposa, Sílvia, deixou de trabalhar para cuidar do filho uma vez que a escola encerrava às 15h00 e não tinham quem cuidasse de João. O pai desabafou que os problemas se agravaram há cerca de um ano tendo os dois progenitores ficado bastante frágeis em termos mentais, algo que afectou o ambiente familiar. O empresário conta que a sua esposa teve a coragem de pedir ajuda e ele não hesitou em “dar a mão”. Paulo Teixeira realça que nenhum membro do casal deve deixar de cumprir os seus sonhos por ter um filho a precisar de cuidados especiais sendo necessário criar soluções que permitam a continuidade da vida do casal. Actualmente, Sílvia está a trabalhar, João está no CIRE onde tem evoluído muito e Paulo Teixeira sente que voltou a ter uma vida familiar estável.

Falar de deficiência sem tabus
Célia Bonet centrou-se nas inquietações das instituições que apoiam pessoas com deficiência começando por destacar as limitações financeiras da instituição que preside e os obstáculos na vida das pessoas que necessitam de cuidados especiais. A solução, garante, passa por começar a falar da deficiência abertamente, sem tabus ou medos, para ultrapassar o preconceito e proporcionar uma verdadeira integração das pessoas na sociedade. A dirigente acrescenta que a integração não deve ser imposta à força “como tem acontecido” em muitos casos. Apesar de concordar que uma criança ou jovem deve frequentar a escola com colegas da mesma idade, não se deve tornar uma obrigatoriedade, afirma. “As instituições como o CIRE têm mais capacidades de acompanhar crianças com dificuldades, porque têm técnicos e programas adequados à pessoa mediante as suas incapacidades”, defende. Célia Bonet explicou que a sua direcção está empenhada em requalificar e aumentar o lar com financiamento bancário uma vez que a candidatura para o Programa de Alargamento da Rede de Equipamentos Sociais (PARES) não foi aprovada e não houve abertura para lares no Plano de Recuperação e Resiliência (PRR).

Responsabilização da sociedade
Juliana Belo pretende com o projecto CADI cuidar das pessoas que não têm voz nomeadamente crianças que sofrem do espectro do autismo. Concorda que as crianças devem estar inseridas no contexto escolar até ao primeiro ciclo, independentemente da patologia, mas a partir daí a integração deve adaptar-se às condições de cada criança. Alertou também para os impactos na saúde mental das famílias que lidam com crianças e jovens com necessidades especiais reforçando a importância de apoiar e ter empatia pelos pais e crianças, bem como sensibilizar a comunidade educativa, autarquias e todos os pais.

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