Sociedade | 25-11-2023 10:00

José Teles esteve mais de nove meses à espera de autorização para se reformar

José Teles esteve mais de nove meses à espera de autorização para se reformar
Médico José Teles esteve mais de nove meses à espera de autorização para se reformar

José Teles, 67 anos, entregou os papéis para se reformar em Novembro do ano passado e deveria estar reformado desde Janeiro deste ano, mas só em Outubro é que surgiu a confirmação da sua aposentação. O clínico, que trabalhou durante 36 anos no Couço, concelho de Coruche, lamenta que a profissão de médico tenha perdido o ‘status’ que tinha há décadas, acrescentando já não existir o respeito que existia, o que, afirma, acaba por prejudicar o atendimento aos utentes.

José Teles, 67 anos, esteve mais de nove meses à espera da confirmação da sua aposentação. O médico que trabalhava nas Unidades de Saúde Familiar do Couço e de Coruche entregou os papéis para se reformar em Novembro de 2022 e deveria estar reformado desde Janeiro deste ano, mas esteve nove meses e meio à espera da tão aguardada autorização, que chegou apenas em Outubro. Em conversa com O MIRANTE admitiu que desde que se reformou saiu-lhe um peso de cima. “Foram tempos de grande ansiedade. Estive de baixa cerca de dois meses porque já não aguentava mais. Tenho problemas de saúde e já não tinha condições para ir da minha casa, em Salvaterra de Magos, até Coruche ou ao Couço, que é ainda mais longe”, confessa José Teles que já tem dificuldade em conduzir de noite.
Agora tem mais tempo para a família, em particular para os netos, para cuidar do jardim ou estar simplesmente a ler um livro ou um jornal. Como O MIRANTE noticiou em Julho deste ano José Teles confessava estar cansado de enviar emails para as entidades responsáveis e descobriu que ninguém tinha mexido no seu processo de aposentação até então. Após ter sofrido um enfarte em 2019 e ter sido diagnosticado com um tumor no intestino em 2021, do qual está recuperado, o médico decidiu, no início de Agosto, colocar um atestado médico e não voltar a trabalhar até chegarem os papéis da reforma. O que só aconteceu em Outubro, mês em que comemorou 67 anos de idade.
“Estou muito mais cansado. A minha cardiologista aconselhou-me a ficar de baixa porque a minha saúde já não é o que era. Não quero morrer agarrado a um estetoscópio”, afirmva em conversa com O MIRANTE em Julho deste ano. Desde Março de 2023 que a previsão da sua reforma era de oito dias. Ao dia 20 de cada mês José Teles aguardava a confirmação da sua reforma, que tardou em aparecer. O clínico, que trabalhou durante 36 anos no Couço, concelho de Coruche, lamenta que a profissão de médico tenha perdido o ‘status’ que tinha há décadas, acrescentando já não existir o respeito que existia, o que, afirma, acaba por prejudicar o atendimento aos utentes.
O médico recordou o dia em que uma utente entrou no seu gabinete, sem bater à porta, quando estava a atender outra pessoa, aos gritos a pedir que lhe passasse uma receita. Pela atitude desrespeitosa da senhora, José Teles decidiu não passar a receita. Umas semanas depois recebeu uma carta da Ordem dos Médicos com uma queixa dessa senhora. “Respondi à Ordem a perguntar onde fica a impunidade dos doentes e o seu respeito pelos médicos”, contou.
O mais curioso da história é que, mais tarde, a mesma senhora foi bater à porta de sua casa, em Salvaterra de Magos, para ir buscar a filha, que era colega do seu filho. “A senhora pediu-me desculpa e a menina continuou a frequentar a nossa casa”, refere.
José Teles é de opinião que Coruche é o único concelho do sul do distrito de Santarém que funciona bem em termos de saúde e que não tem falta de médicos. “Porque é que isso acontece? Porque as USF modelo B ganham mais, embora tenham muitos objectivos a cumprir sobretudo avaliações técnicas e formações”, vinca.

Médicos são mal remunerados
O médico explica porque há mais falta de médicos no sul do país. “A zona norte tem critérios de avaliação diferentes da zona sul. Facilitam muito mais no norte do que no sul nos exames de saída da especialidade, ou seja, as notas no norte são sempre melhores do que no sul. O que faz com que, quando abrem vagas, os médicos do norte ocupem parte da zona sul até onde lhes interessa, mas assim que podem regressam ao norte. Os ordenados são miseráveis e os médicos não têm interesse em ficar longe de casa”, sublinhou.
José Teles considera que nos meios rurais só se justifica existir medicina privada quando os centros de saúde funcionam mal, o que diz não ser o caso do concelho de Coruche. Nos meios mais pequenos como o Couço, José Teles teve três tipos de doentes: os que o viram crescer, os que andaram consigo na escola e os que viu nascer. Muitas foram as vezes, nos anos 80 e 90, que ia a casa dos doentes e, caso percebesse que tinham dificuldades económicas, não cobrava a consulta. Muitas foram as oferendas que os doentes fizeram questão de lhe dar, sobretudo no Natal.

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