Teatro Maior de Idade em Torres Novas prova que nunca é tarde para cumprir sonhos
O MIRANTE assitiu a um ensaio da peça “Sala do Fim” do Teatro Maior de Idade, no Teatro Virgínia, onde pessoas maiores de 50 anos, sem formação, representaram o sentimento de chegada ao fim de vida. Luís Paixão e Helena Santos são dois dos 12 participantes da peça que falaram sobre a sua personagem e interesse pelo teatro.
O Teatro Maior de Idade é um projecto do Teatro Virgínia que existe há mais de uma década, destinado a pessoas maiores de 50 anos com ou sem formação e tem como objectivo manter os participantes activos na sociedade. O MIRANTE assistiu a um ensaio do grupo para a peça “Sala do Fim” que estreou ao público a 10 de Novembro. Na peça, uma criação colectiva dos encenadores Dinis e Diogo Binnema, os 12 intérpretes foram criando a peça sem guião, através do improviso, dando asas à imaginação e com foco na expressão das suas emoções.
A “Sala do Fim” é um lugar que não existe materialmente, onde as pessoas sem esperança e com vontade de desistir de vida se encontram. A peça pretende que o público perceba que é importante parar, respirar e divertir, mesmo quando se está bloqueados com problemas. As idades dos participantes do grupo do Teatro Maior de Idade ajudam a demonstrar que o avançar da idade é sinónimo de continuar à procura de um estímulo para se manterem activos, explicaram os encenadores. “O grupo foi surpreendente porque arriscam sem medo e brincam muito e isso é bom para fazer teatro”, sublinha o encenador Diogo Binnema, acrescentando que o grupo se caracteriza por um grande conhecimento cultural e teatral.
Durante os ensaios Luís Paixão, 67 anos, de Pé de Cão, concelho de Torres Novas, era um dos que mais se destacava com a sua voz grave e impactante no papel de uma personagem que se sente farta de viver e quer suicidar-se. Pertence ao Teatro Maior de Idade há três anos e diz que uma das suas paixões é a representação. A sua primeira experiência foi aos 17 anos na aldeia de Pé de Cão, onde os jovens se juntaram para criar uma peça de teatro. A partir daí, quando surgia a oportunidade, Luís Paixão aproveitava para se divertir e até chegou a participar em duas peças em França. “Uma das muitas coisas que me dá prazer no teatro é que ninguém diz ‘corta’. Quando estamos no palco só há uma oportunidade”, frisa. Antes de entrar em palco sente-se ansioso e com medo, mas depois esquece-se e diverte-se, confessa. Não se importa que papel vai interpretar, seja um assassino, palhaço ou engenheiro, o que importa é participar, refere. O teatro é também uma forma de estar em contacto com as pessoas e de ouvir os seus aplausos no final, uma das sensações de maior realização que existe, afirma.
A realização de um sonho
Helena Santos, 54 anos, de Torres Novas, é costureira e entrou para o grupo em Fevereiro para realizar um sonho que tinha na “gaveta”. As histórias antigas que a sua mãe lhe contava sobre o avô que fazia teatro amador na aldeia para animar e entreter a comunidade despertou-lhe sempre, interesse. Apesar de nunca chegar a assistir às peças do avô, que faleceu quando tinha cinco anos, as memórias das histórias que a mãe lhe contava sobre o que faziam no palco fascinaram-na e aguçaram-lhe o desejo de representar. Começou por ver teatro na televisão. Casou, teve filhos e o sonho foi para a “gaveta”, apesar de, enquanto dirigente do Corpo Nacional de Escutas, desenvolver e participar em peças de teatro amadoras feitas pelos escuteiros. A “Sala do Fim” é a primeira peça do Teatro Maior de Idade em que participa, desempenhando o papel da organizadora que vai gerindo a sala para onde as pessoas entram quando acham que é o fim da sua vida. “Sinto-me outra pessoa quando estou a representar, gosto de encarnar bem a personagem e perceber o que ela faria e quais seriam as suas expressões”, revela. Helena Santos é a mais nova do grupo e confessa que tem aprendido muito com os colegas e encenadores e ganhou um conhecimento do mundo do teatro que não tinha.