O “Rui dos Nós” de Salvaterra de Magos e os trabalhos em corda
Rui Dias nasceu em Odivelas e é o fundador da Associação de Artesãos Ternura Popular, de Salvaterra de Magos. Executa todo o trabalho em corda e especializou-se em arte equestre para segurar o negócio, argumentando que as obrigações que o Governo impõe aos artesãos deixam muitos de corda ao pescoço.
Rui Dias, também conhecido no concelho de Salvaterra de Magos por “Rui dos Nós”, tem 53 anos, formou-se em arte de marinheiro e faz trabalhos de artesanato que vão desde trelas a cabeções para cavalos. Natural de Odivelas, mudou-se em 2006 para os Foros de Salvaterra quando ficou desempregado. Há cerca de uma década fundou a Associação de Artesãos Ternura Popular a partir de um grupo que se juntava no Mês da Enguia em Salvaterra de Magos, quando a feira ainda era no Cais da Vala.
Rui Dias está ligado ao associativismo desde a escola, foi um dos fundadores das primeiras associações de trabalhadores-estudantes na década de 90 e sentiu que devia puxar pelo concelho. Em assembleias chegou a reunir à volta de meia centena de artesãos e agora são 24 os sócios activos dos concelhos de Salvaterra e Benavente. Tanto Rui Dias como Ivânia Silva, actual presidente da associação, referem que a grande culpada foi a pandemia, que reduziu para um quarto o número de sócios activos. “Na pandemia ninguém falou do artesão, lembraram-se dos músicos e dos actores e mesmo assim foi ao fim de algum tempo. Os feirantes também ninguém falou deles, a não ser para proibir as feiras”, desabafa Rui Dias.
O artesão admite que a associação não tem conseguido cumprir em pleno os objectivos a que se propôs, nomeadamente proteger juridicamente os artesãos a nível fiscal: “as obrigações que o Governo nos impõe são um bocado desfasadas da realidade do artesão. Ao fim do mês tem de se pagar 20 euros no mínimo e de três em três meses esse valor é actualizado consoante a facturação”, revela. Além de artesão, Rui Dias realiza limpezas em terrenos e é vendedor imobiliário.
O artesanato tornou-se profissão em 2015 e procurou especializar-se na área equestre com um curtidor que conheceu num dia parado de feira. Continuou a usar cordas náuticas que defende serem mais macias e o trabalho mais desafiante que teve foi a encomenda de 40 cabeções para uma princesa do Dubai que se dedica a provas de apresentação de Lusitanos, um total de oito horas de trabalho e 100 metros de corda. Outra das encomendas desafiantes foi a de uma trela para levar sete beagles à caça. “Quem não fizer o artesanato com paixão e o fizer por dinheiro nota-se na peça, porque falta qualquer coisa”, explica. O preço dos seus trabalhos varia entre os 3 e os 45 euros. “Ninguém valoriza o artesanato, não é só o meu”, reforça.
Os 10 anos da associação
A Associação de Artesãos Ternura Popular celebrou o décimo aniversário no domingo, 5 de Novembro, com os trabalhos de três dezenas de artesãos. Passaram pelo pavilhão da comissão de festas de Marinhais mais de meia centena de pessoas e o evento superou as expectativas da presidente da associação, Ivânia Silva, de 38 anos, artesã de costura criativa com um talento inato para os quadros em ponto-cruz. A Associação de Artesãos Ternura Popular tem uma parceria com a Federação Portuguesa de Jogos Tradicionais de modo a divulgar e preservar a cultura e tradições e proporcionar um espaço lúdico que atraia visitantes. A associação está sediada numa das salas da Escola Nova, em Marinhais, e qualquer pessoa pode inscrever-se. Na ficha de inscrição é perguntado o interesse em participar em feiras de artesanato e a associação promove formações na área, assim como em marketing e vendas.