No lagar de Manuel Almeida ainda se produz azeite à moda antiga
Na aldeia de Póvoa do Conde, em Santarém, há um lagar de azeite que terá mais de um século. Manuel Almeida comprou-o e reactivou-o há quarenta anos. Desde então, no Outono, produz-se ali azeite com recurso a métodos ancestrais que envolvem velhas mós de pedra para esmagar a azeitona. Já não haverá muitos assim no país, diz o proprietário.
As últimas semanas foram de grande azáfama no lagar de Manuel Almeida, na aldeia de Póvoa do Conde, freguesia de Abitureiras, concelho de Santarém. A campanha deste ano não foi das melhores em quantidade mas mesmo assim deu que fazer ao proprietário do lagar e aos três homens que ali trabalharam horas a fio para extrair o precioso líquido do fruto da oliveira. No velho lagar ainda se produz azeite à moda antiga, sendo evidência disso as duas grandes pedras de moagem de azeitona, compradas pelo proprietário na Benedita e que pertenciam a um lagar semelhante.
Nascido e criado na Póvoa do Conde, Manuel Almeida, que cumpre 77 anos de vida no próximo mês, adquiriu o lagar, que estima ter mais de um século, por 1.100 contos há cerca de quatro décadas, quando estava desactivado e a necessitar de obras. A intenção era fazer do espaço estábulo de novilhos para engorda, mas mudou de ideias e decidiu reactivar o velho lagar e experimentar a actividade, após investir na recuperação do imóvel e na compra de equipamento. Pouco sabia de lagares de azeite, admite, mas a verdade é que a ideia vingou e com a imprescindível ajuda e mestria de quem domina o processo continua a fabricar azeite, que diz ser menos ácido devido ao método utilizado. A produção já foi mais rentável, conta, “mas sempre dá alguma coisa”. Processa ali entre 5 a 10 toneladas de azeitona por dia, consoante o ano é de abundância ou não. Uma tonelada de azeitona rende entre 130 a 150 litros de azeite.
Depois de ressuscitar o lagar, quando ainda era carteiro dos Correios em Santarém, Manuel Almeida tirava habitualmente férias na época da campanha do azeite. Férias a sério, daquelas em que se desliga do trabalho e da rotina, diz que raramente as gozou. Olha com orgulho para o lagar que recuperou e foi adaptando às novas exigências, para cumprir as apertadas regras que regulam a actividade. Muitos velhos lagares ficaram pelo caminho, outros modernizaram o processo de fabrico (como o lagar vizinho da Póvoa do Conde), o de Manuel Almeida ficou a meio termo, aliando métodos ancestrais à evolução da tecnologia e das boas práticas ambientais.
“É pena que estas coisas acabem”
Quando lhe perguntamos se ali ainda se produz azeite à moda antiga, garante que sim e que já há poucos lagares assim no país. “É pena que estas coisas acabem”, desabafa num sussurro. Para já não pensa cessar actividade nem tem ideias muito firmes sobre o futuro do negócio no dia em que se retirar. O único filho vive em Santarém e tem o seu emprego.
No longo intervalo de tempo entre campanhas do azeite, Manuel Almeida dedica-se à agricultura e à criação de gado. Tem 36 ovelhas, produz hortícolas, azeitona e fruta e diz que anda sempre entretido. Para trás ficaram 36 anos como carteiro nos Correios em Santarém. Separava a correspondência e fazia os giros pela cidade. Distribuiu muitas vezes O MIRANTE, diz.
Quando o nosso jornal esteve no lagar de Manuel Almeida, na sexta-feira, 17 de Novembro, a campanha de 2023 estava perto do fim. Não havia tractores ou carrinhas para descarregar azeitona, embora ainda houvesse diversas caixas cheias de azeitona a aguardar a entrada no processo, que começa com a limpeza e separação das folhas de oliveira e outros resíduos que venham juntos. Daí até à prensagem dos capachos - discos em fibra têxtil onde se coloca a massa moída da azeitona - para extracção do azeite, tudo decorre num espaço coberto não muito grande, pouco iluminado, onde o ruído da maquinaria, activada por um sistema hidráulico, dificulta a conversa. Durante meia dúzia de semanas os homens trabalharam no duro, por vezes de noite e de dia, para dar escoamento à azeitona que foi chegando, proveniente de produtores da zona mas também de outros concelhos, como Rio Maior e Almeirim. Agora, é tempo de dar descanso às velhas mós de pedra, até ao Outono do próximo ano.
Torres Novas com programa para assinalar Dia Mundial da Oliveira
Visita guiada ao museu e degustações de azeites são algumas das actividades gratuitas que o município de Abrantes está a preparar para comemorar o Dia Mundial da Oliveira.
A Câmara de Torres Novas é uma das 53 entidades do país que aderiu às comemorações do Dia Mundial da Oliveira, assinalado a 26 de Novembro e que é dedicado aos valores da paz, da sabedoria e da esperança. O convite para assinalar esta data comemorativa, instituída pela UNESCO em 2020, partiu da equipa portuguesa do projecto europeu OLIVE4ALL.
As comemorações, que vão ter lugar no Museu Agrícola de Riachos, arrancam pelas 15h30 com a intervenção do consultor do Projecto Ouro Líquido - municípios de Alcanena e Torres Novas, Luís Duarte Melo, subordinada ao tema “Valorizar o Olival e o Azeite e Potenciar o Olivoturismo”. Seguir-se-á, pelas 16h00, uma prova de diferentes azeites orientada por Ana Fernandes, da Riazor – Azeites e Óleos Vegetais, SA, e às 17h00 vai decorrer uma visita ao Museu Agrícola de Riachos orientada por Mafalda Borralho, com destaque para o espólio ligado à olivicultura e extracção de azeite. A última actividade, uma degustação da tiborna à lagareiro confeccionada pelo Núcleo de Arte de Riachos e Museu Agrícola de Riachos, está marcada para as 17h30.
O município vai ter como parceiros a Junta de Freguesia de Riachos, o Museu Agrícola de Riachos, o Núcleo de Arte de Riachos, a Associação para a Promoção e Desenvolvimento dos Produtos de Torres Novas e a Riazor - Azeites e Óleos Vegetais, SA. A participação nas actividades é gratuita, mas sujeita a inscrição até ao próximo dia 23 de Novembro através do link: https://forms.gle/wBzMvw1edr1PdGMF9.