Sociedade | 29-11-2023 07:00

“Vou reformar-me quando trabalhar começar a ser um sacrifício”

“Vou reformar-me quando trabalhar começar a ser um sacrifício”
O médico Fausto Pereira foi homenageado pelos mais de 40 anos de trabalho ao serviço da comunidade. Recebeu a placa de homenagem ao lado dos seus netos

O médico Fausto Pereira nasceu há 70 anos numa aldeia perto da Figueira da Foz.

Como os seus pais eram ferroviários viveu em várias localidades desde Bragança ao Algarve, até ir parar ao Entroncamento antes de ingressar na universidade. Começou a trabalhar a 2 de Janeiro de 1979 no antigo Hospital de Torres Novas tendo conciliado sempre essas funções com as de médico de Medicina Geral e Familiar no Entroncamento. A comunidade homenageou-o pelos mais de 40 anos ao serviço da população do Entroncamento, numa cerimónia emocionante.

Na última Passagem de Ano havia dificuldades em completar a escala de médicos para essa noite sempre tão movimentada. Até que Tiago Pereira, director do serviço de Urgência do Centro Hospitalar do Médio Tejo, arranjou a solução: ele próprio fazia o serviço de VMER (Viatura Médica de Emergência e Reanimação) e o seu pai, Fausto Pereira, estaria na Urgência do Hospital de Torres Novas. Este foi apenas um dos muitos episódios que Casimiro Ramos, presidente do conselho de administração do CHMT, viveu com Fausto Pereira e recordou-o na homenagem feita ao médico na manhã de sábado, 18 de Novembro, no Cine-Teatro São João, no Entroncamento.
Mais de duas centenas de colegas, amigos e família fizeram questão de marcar presença na homenagem ao médico, considerado como um exemplo de cidadania e também apelidado por muitos como um pai. “Muita gente cresceu com o Dr. Fausto, muitos começaram a ser acompanhados por ele dentro da barriga da mãe e continuam a ser acompanhados ao longo da vida e os seus filhos também. Muitos confessam que o Dr. Fausto foi pai de muita gente enquanto profissional e como pessoa. Conseguirmos na vida sermos pai de muita gente é um privilégio que não está ao alcance de qualquer um”, afirmou Casimiro Ramos acrescentando que o médico é uma referência pelo exemplo que dá nos dias de hoje, em que há falta de referências de valor e formas de estar.
Fausto Pereira nasceu há 70 anos numa aldeia do concelho da Figueira da Foz. Como os seus pais eram ferroviários viveu em várias localidades desde Bragança ao Algarve, até que foi viver para o Entroncamento antes de ingressar na universidade. Estudou na Faculdade de Medicina de Lisboa tendo feito os primeiros três anos no Hospital de Santa Maria. O resto do curso foi feito na Universidade Nova. Começou a trabalhar a 2 de Janeiro de 1979 no antigo Hospital de Torres Novas. Nessa altura também começou a trabalhar como médico de Medicina Geral e Familiar no Entroncamento tendo sempre conciliado os dois trabalhos.
O médico partilhou também, num pequeno vídeo sobre a sua vida, que tinha outra paixão: ser engenheiro naval, mas a sua mãe não deixou porque tinha que estar muito tempo no mar. O primeiro paciente que atendeu no Hospital de Torres Novas tinha diabetes descompensada. “O chefe de urgência naquele dia era o Dr. Cabanita, que foi muito importante para mim porque ajudou-me muito. Ao início sabemos algumas coisas téoricas mas muito pouco de prática e de lidar com o doente. Eu não estava a conseguir ajudar o doente e esse médico ajudou-me muito e também me ensinou muito”, recorda.

Fausto Pereira é mais do que um médico
Um dos impulsionadores da homenagem a Fausto Pereira foi o cardiologista Jorge Guardado. O médico, que tem uma clínica em Riachos, sublinhou que Fausto Pereira é alguém que, do ponto de vista humano e cívico, tem tido uma postura de grande envergadura e consistência na região. “É mais do que um médico. Ultrapassa o domínio da competência que tem naquilo que faz, tem sobretudo competências humanas, de comunicação, altruísmo e generosidade. Sabe que o paciente precisa de ajuda e não se limita a prescrever uma receita. Ouve o paciente, ausculta e trata dele com cuidado”, referiu Jorge Guardado.
Durante quase duas horas foram muitos os testemunhos de colegas de trabalho. No final da cerimónia Fausto Pereira subiu ao palco para agradecer a “generosidade” da homenagem. “Sinto-me lisonjeado, rico e feliz por algo que os amigos, colegas, a comunidade me quiseram proporcionar. Normalmente estas iniciativas ou são esquecidas ou são a título póstumo e eu queria estar presente para desfrutar da homenagem”, disse com bom humor arrancando gargalhadas e uma ovação da plateia. Fausto Pereira confessa ter optado por Medicina Geral e Familiar no Entroncamento para estar presente na vida dos seus filhos. Garante que se vai reformar quando trabalhar for um sacrifício ou “quando um colega me pegar na mão e disser que já chega”, afirmou emocionado.
O seu filho, Tiago Pereira, seguiu as suas pisadas e é actualmente director do serviço de Urgência do Hospital de Torres Novas. “Os meus netos, João Maria, Maria Manuel e Maria Inês, disseram-me muitas vezes que tinham que falar com o meu chefe, que é o meu filho, para eu não ir trabalhar e ficar com eles”, recorda bem disposto. A homenagem terminou com uma demorada salva de palmas e junto da sua família. No final todos quiseram cumprimentar o colega e amigo.

SNS atravessa momento menos bom

Fausto Pereira falou do Serviço Nacional de Saúde (SNS) e admitiu discordar de quem diz que o SNS está moribundo. “Estamos a atravessar um momento menos bom. Não há falta de médicos, acontece é que estes nem sempre estão nos mesmos locais onde estão os doentes. Vamos ter um pensamento positivo e pró-activo de todos os intervenientes e decerto que esta fase do SNS vai passar e acabará por sair reforçado”, sublinhou.

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