Sociedade | 02-12-2023 07:00

Empresa de produção de canábis em Benavente faliu com dívida de oito milhões

Empresa de produção de canábis em Benavente faliu com dívida de oito milhões
Luís Rodrigues, empresário da construção civil, reclama uma dívida de 25 mil euros

A empresa de produção de canábis que prometia criar 600 postos de trabalho em Benavente foi à falência com uma dívida de oito milhões de euros e sem nunca ter comercializado o produto. O MIRANTE falou com um dos credores, empresário desse concelho, que ouviu muitas promessas vãs de pagamento e que hoje questiona se não se tratou tudo de um esquema para receber apoios.

A VF 1883 Pharmaceuticals, empresa que pretendia cultivar canábis para fins medicinais no concelho de Benavente e que obteve autorização do Infarmed, dependente do cumprimento de alguns requisitos, entrou em insolvência antes de começar a comercializar e deixou várias empresas a arder com milhares de euros. A insolvência foi solicitada por uma empresa credora, a Fluxoterm - Climatização, que reclama 140 mil euros, e o Juízo de Comércio de Santarém declarou-a a 23 de Novembro de 2022. Ao todo são oito dezenas de credores, entre os quais está a empresa de construção civil de Luís Rodrigues, da Barrosa, concelho de Benavente, que reclama uma dívida de 25 mil euros. Os trabalhos foram executados em 2022 e consistiram na construção de balneários, gabinetes, casas-de-banho, edificados nos 261 hectares na Herdade do Porto Seixo, onde a empresa pretendia instalar dez pavilhões de secagem e seis estufas.
Luís Rodrigues diz não ter esperança de reaver a totalidade do dinheiro, ciente de que “não há património para dar cobertura a oito milhões de euros que a empresa tem de dívida”. Mas nem sempre foi assim. Em 2021, ano em que a empresa de Luís Rodrigues foi seleccionada para construir os edifícios de apoio, havia a promessa de trabalho contínuo entre seis a dez anos. Conta que chegaram a dizer-lhe para “abandonar as outras obras” que tinha em curso e para não aceitar novas, tal seria o trabalho que teria na herdade.
Durante uns tempos o empresário acreditou na prosperidade da empresa de canábis apesar de haver sinais de alerta que ignorou. No primeiro trabalho efectuado, em Março de 2021 (um gabinete para arquivo), houve um atraso e muitos “atirar de culpas” entre quem lá trabalhava. “Um passava a culpa para o outro: ou era o director financeiro ou era a secretária”, conta, acrescentando que inclusive “o dono” lhe disse que tinha sido a secretária a perder a factura. Muitas vezes, prossegue, só pagavam quando Luís Rodrigues lhes dizia que não iria continuar a obra. “Havia promessas atrás de promessas”, diz.
Em 2022 os problemas começaram a ser mais notórios quando os projectos de construção e os materiais a utilizar começaram a ser alterados para outros menos dispendiosos. “Foi aí que comecei a reparar que não havia dinheiro, as construções eram descabidas”. As portas a instalar passaram de novas a umas reaproveitadas - em alumínio - que o administrador da empresa tinha em sua casa, assim como as janelas. Até para cobrir o gerador que tinha chegado da Holanda, e que “dava para alimentar Benavente inteira”, já não se iria construir uma estrutura em condições, mas uma pequena divisão com cobertura em chapa simples. “Houve uma fase em que pensei que seria muita ingenuidade do dono da empresa. Mas hoje tenho as minhas dúvidas se não foi tudo um plano de receber créditos, apoio do Estado e dinheiro de investidores e depois rebentar com tudo. Porque nada produzia”, afirma Luís Rodrigues.

Produto nunca chegou a ser comercializado

A VF 1883 Pharmaceuticals, ligada a uma multinacional canadiana, nunca chegou a conseguir comercializar as plantas de canábis produzidas em estufa, situação que terá contribuído para o seu fim. Luís Rodrigues conta que o produto das primeiras plantações acabou por ser “destruído no local”. O projecto da VF 1883 Pharmaceuticals, empresa com sede em Amarante, foi anunciado em Benavente, em 2019, com pompa e circunstância. Na altura, os promotores falavam em 250 postos de trabalho directos na primeira fase num total de 600 empregos quando estivesse concluído.
O pedido de licenciamento das instalações foi feito por José Alves Inácio, proprietário da herdade que é agora um dos credores a reclamar uma dívida de 192 mil euros. O processo demorou algum tempo, até porque, segundo o presidente da Câmara de Benavente, Carlos Coutinho, o espaço estava classificado como agrícola, mas acabou por ser aprovado pelo executivo municipal em Agosto de 2020.

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