Sociedade | 10-12-2023 18:00

Cidadãos de Torres Novas são os novos guardiões do rio Almonda

Cidadãos de Torres Novas são os novos guardiões do rio Almonda
Guardiões do rio Almonda, que concluíram a sua formação em Novembro, levaram a cabo mais uma acção pensada para melhorar a qualidade ambiental no rio

Grupo de voluntários está a desempenhar um importante papel na monitorização e protecção das linhas de água do concelho de Torres Novas, em especial do rio Almonda. Vigiam, limpam, estabilizam as margens e procuram recuperar a ligação da população ao rio. O MIRANTE acompanhou uma manhã de trabalho dos oito guardiões do rio.

A manhã fria do último sábado de Novembro podia ser de descanso, mas os guardiões do rio Almonda escolheram fazer a diferença e mobilizaram-se para mais uma acção de monitorização e protecção, dessa vez no açude do Moinho da Cova, na cidade de Torres Novas. Pedro Neves, o guarda-rios do município – profissão que foi formalmente extinta mas que começa a ser recuperada – orienta os voluntários para a realização de uma faxina viva, uma técnica de engenharia natural para estabilização das margens através da colocação de estacas-vivas atadas por cordas, enquanto outros recolhem, para sacos, o lixo que vão encontrando junto à margem.
Neste projecto inovador do município de Torres Novas, que se insere numa estratégia alargada de cuidar do rio Almonda e das restantes linhas de água, todos trabalham em prol do mesmo: monitorizar e vigiar os cursos de água para identificar eventuais irregularidades, como a alteração à quantidade ou coloração, aparecimento e propagação de plantas invasoras, focos de poluição, desabamento das margens e, não menos importante, voltar a aproximar a população torrejana do rio. “É um desafio muito interessante porque houve um afastamento geral nas últimas décadas das pessoas relativamente ao espaço natural e assim é uma forma de trazer as pessoas de volta ao rio”, diz a O MIRANTE o vereador com o pelouro do Ambiente, João Trindade, enquanto os guardiões tratam de fixar com prumos de madeira as estacas-vivas na margem do açude, que irão estabilizar a margem e melhorar a acção drenante.
Além destas actividades, que realizam em conjunto e com o apoio de técnicos municipais, cada um assumiu um compromisso individual, ou seja, escolheu uma área do território que pretende preservar, levar pessoas a conhecer e desempenhar acções, desde a recolha de resíduos, plantação de árvores, à realização de percursos, explica o vereador. Marco Espírito-Santo, um dos oito voluntários, comprometeu-se a limpar o Largo Lamego, um troço do rio que passa dentro da cidade “e que está muito poluído”. Preocupado com a escassez de água doce no planeta, o voluntário, de 45 anos, conta que decidiu juntar-se ao projecto acreditando que cada um, com pequenos gestos, pode fazer a diferença e ajudar a construir um mundo melhor. “É uma causa que vale a pena. O nosso intuito é chegar a população ao rio e mantermos o bom que temos. O rio é uma riqueza que a cidade tem”.

Sensibilizar e recuperar a ligação ao rio
Marco Espírito-Santo foi, desde que se lembra, frequentador das zonas ribeirinhas do concelho de onde é natural. Fosse para convívios em família ou com amigos, fosse para lançar o isco ao rio e esperar que fosse mordido por um peixe. “Desde pequeno que faço pescarias no rio, sempre tive ligação. Antigamente os nossos pais e avós eram mais ligados ao rio do que nós somos, foi-se perdendo”, lamenta.
Maria José Fialho, 62 anos, a única mulher entre os guardiões, concorda e acrescenta que são muitos os que gostam de ver as zonas ribeirinhas cuidadas, mas poucos os que fazem algo para as manter assim. “As pessoas precisam de saber cuidar” e ter noção da importância dos rios e das suas zonas envolventes para o ecossistema, defende, sublinhando que é algo que deve ser cultivado desde a infância nas escolas e no seio das famílias. Apaixonada pela natureza, diz encontrar no rio, em especial no barulho da água a correr, “o conforto psicológico” que lhe propicia bem-estar. Espera também, agora que aprendeu técnicas para proteger e cuidar das linhas de água, conseguir motivar outros a trilharem o mesmo caminho.
À excepção de um pai e de um filho, os restantes guardiões não tinham qualquer ligação entre si antes de aceitarem integrar o projecto e participarem nas formações ministradas por Pedro Teiga, doutorado em Engenharia do Ambiente pela Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, que lhes deu os conhecimentos necessários para continuarem a zelar pela qualidade dos rios. Consciente de que não iria ser fácil atrair cidadãos para um projecto de voluntariado ambiental, até porque “nunca é fácil conseguir pessoas que estejam dispostas a despender do seu tempo para uma causa comum”, João Trindade acredita que estes oito “serão os primeiros de muitos” guardiões que, tal como os membros da Associação Viver Almonda, ajudam o município a proteger e cuidar do rio.
Além deste projecto, o município está a apostar em obras de renaturalização, como a que está a decorrer no açude de Moinho da Cova com financiamento da Agência Portuguesa do Ambiente, a construir um espaço dedicado a uma zona de banhos no Almonda, e prepara-se para realizar um plano de gestão das linhas de água e reforçar a equipa com um segundo guarda-rios.

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