Vírus da SIDA ainda gera estigma e preconceito
No Hospital Distrital de Santarém há cerca de um milhar de pessoas com VIH positivo, vírus que causa a SIDA.
A primeira reacção de uma pessoa quando recebe a notícia de que está infectada é de medo, sobretudo entre os mais jovens, que receiam as alterações que a doença pode trazer à sua vida. Mais de 90% dos novos casos são por transmissão sexual atingindo homens e mulheres de diversas faixas etárias. Entrevista com o director da Unidade de Doenças Infecciosas do Hospital Distrital de Santarém, Fausto Roxo, a propósito do Dia Mundial de Luta Contra a SIDA.
Cerca de um milhar de pessoas com seropositividade para VIH (Vírus da Imunodeficiência Humana), com idades entre os 18 e os 90 anos, de ambos os sexos, são seguidas na Unidade de Doenças Infecciosas do Hospital Distrital de Santarém (HDS). O número de novos casos tem-se mantido estável de ano para ano, o que leva, a um aumento progressivo do total de casos seguidos. Os dados são do médico Fausto Roxo, director da Unidade de Doenças Infecciosas do HDS, Fausto Roxo, numa conversa com O MIRANTE para assinalar o Dia Mundial de Luta Contra a SIDA, que se comemora a 1 de Dezembro.
A Unidade de Doenças Infecciosas do HDS é a única que faz o seguimento da doença por VIH no distrito de Santarém desde 1990 e também recebe pacientes de outras zonas do país. O VIH/SIDA já é considerado uma doença crónica como, por exemplo, a diabetes ou hipertensão, por isso o médico alerta para a importância de um diagnóstico precoce. “Quando o diagnóstico é feito antes do aparecimento de sintomas a pessoa pode iniciar logo a medicação e evitar o aparecimento de qualquer complicação. Tal como nas outras doenças crónicas a esperança de vida é semelhante à da população geral desde que tome a medicação regularmente”, explica o médico.
Apesar dos “enormes progressos” na terapêutica e conhecimento da infecção, Fausto Roxo confirma que o estigma e preconceito contra os doentes não foram eliminados. “Isto deve-se a um grande desconhecimento por parte da população em relação às formas de transmissão da doença, levando a um afastamento e medo ‘do outro’ e do desconhecido. Estes comportamentos discriminatórios acontecem em todas as idades e grupos sociais, inclusivamente dentro da família, o que é especialmente dramático para as pessoas infectadas”, lamenta o médico.
O director da Unidade de Doenças Infecciosas do HDS explica que a primeira reacção de uma pessoa quando recebe a notícia de que está infectada com VIH é de medo, sobretudo nos mais jovens, que receiam as alterações que a doença pode trazer à sua vida. “O trabalho inicial da nossa equipa passa por fornecer toda a informação disponível e certificar-nos que a pessoa vai fazer a terapêutica para evitar complicações”, realça. Fausto Roxo afirma que sendo uma doença ligada a comportamentos pode haver tendência para culpabilização sobretudo entre casais. Também cabe à equipa médica, sublinha o director, eliminar a palavra culpa numa situação que ninguém contrai voluntariamente.
Nas consultas da Unidade de Doenças Infecciosas do HDS existem diversas reacções de doentes, como a do indivíduo de meia idade que pensa que vai ficar internado durante muito tempo ou do jovem que vai à consulta acompanhado dos pais após um comportamento de risco. “O seguimento da maioria destas pessoas faz-se em ambulatório ficando o internamento reservado às complicações, que vão sendo cada vez menos frequentes. Queremos evitar os diagnósticos tardios, feitos a partir de uma complicação. Estas situações continuam a surgir pelo que sublinho a importância da necessidade do rastreio e diagnóstico precoce”, alerta Fausto Roxo, acrescentando ser importante reactivar as campanhas publicitárias nos órgãos de comunicação social para informar a população.
90% dos novos casos de VIH são de transmissão sexual
Actualmente mais de 90% dos novos casos são por transmissão sexual atingindo homens e mulheres em todos os escalões etários. Nos mais jovens predomina a transmissão entre homens que têm sexo com homens; acima dos 40 anos a transmissão é sobretudo entre heterossexuais. Segundo Fausto Roxo, a infecção por VIH não está relacionada apenas com grupos específicos normalmente discriminados como prostitutas, homossexuais e toxicodependentes. Atinge ambos os sexos de todos os grupos sociais e profissionais.
É recomendado que toda a população faça o teste VIH/SIDA pelo menos uma vez na vida e sempre que se considere ter havido um comportamento de risco. As formas de transmissão são três: sexual; sanguínea, a partir de contacto com sangue contaminado; e materno-fetal (da mãe para bebé durante a gravidez ou o parto. “Consideram-se comportamentos de risco as relações sexuais sem uso de preservativo e o contacto com sangue contaminado. É de salientar que a utilização do preservativo protege não apenas da doença VIH, mas também de outras doenças sexualmente transmissíveis”, refere Fausto Roxo.