Sociedade | 15-12-2023 18:00

“Projecto de Santarém foi mal tratado pela Comissão Técnica Independente”

“Projecto de Santarém foi mal tratado pela Comissão Técnica Independente”
Carlos Brazão é o rosto mais conhecido do projecto para um aeroporto internacional no concelho de Santarém, Torres Novas e Alcanena

Os promotores do projecto Magellan 500 entendem que a análise da Comissão Técnica Independente, que indicou Benavente e Vendas Novas como opções viáveis para o novo aeroporto, foi feita com base no método “Alice no País das Maravilhas”. Carlos Brazão diz, em entrevista a O MIRANTE, que o projecto do aeroporto em Santarém foi mal tratado e levanta dúvidas quanto à ética e isenção de alguns intervenientes no processo de avaliação.

Os promotores do aeroporto Magellan 500, em Santarém, dizem que a Comissão Técnica Independente (CTI) usou o método de análise “Alice no país das maravilhas”, ao comparar um projecto que foi desenhado com base nas infraestruturas actuais, como o de Santarém, com os projectos de Vendas Novas e do Campo de Tiro da Força Aérea, em Benavente (também designado por opção Alcochete), associados a realidades virtuais como a terceira travessia do Tejo ou a ferrovia de alta velocidade, que ainda não se sabe quando sairão do papel. Carlos Brazão, que tem sido o rosto do projecto, concorda que isso foi “comparar alhos com bugalhos” e que, “numa primeira leitura”, parece-lhe que “o projecto de Santarém foi mal compreendido e tratado, de forma geral, pela CTI”. Acrescenta que isso será objecto da pronúncia a que oportunamente darão visibilidade pública.
Em entrevista por escrito a O MIRANTE, no rescaldo da apresentação do relatório preliminar da CTI que considerou Benavente e Vendas Novas como as duas opções viáveis para o novo aeroporto, Carlos Brazão questiona também as “razões aeronáuticas”, alegadas pela CTI, de suposta incompatibilidade do aeroporto em Santarém com a actividade da base área militar de Monte Real. “(…) no primeiro relatório da CTI, de 27 de Abril, esse tema foi classificado como “resolúvel”, indicando uma implícita aceitação da solução apresentada”. E, continua, “tampouco o relatório da NAV consubstancia o apressado veredicto de “inviabilidade” da presidente da CTI, ao escrever na sua página de conclusões: “deverão ser definidos os cenários de espaço aéreo para esse efeito, os quais terão de ser reavaliados através de estudos específicos para o efeito”.
Questionado sobre se a CTI, ou pelo menos alguns dos seus membros, estariam comprometidos com a solução do Campo de Tiro da Força Aérea em Benavente, Carlos Brazão responde que “as notícias dos últimos meses, bem como o próprio relatório preliminar, apontam infelizmente nessa direcção”. E acrescenta: “Venho de uma carreira em empresas internacionais, estritas com os aspectos éticos e de conflitos de interesse, onde por exemplo algumas das contratações da CTI seriam totalmente inaceitáveis”.
Defendendo que Santarém é o único projecto capaz de servir eficientemente não só a região de Lisboa como todo o centro de Portugal entre o Tejo e o Mondego, onde vive mais de metade da população do país - o que “não foi devidamente tido em conta pela CTI “ - o engenheiro não deixa de estranhar o aparecimento, já a meio do processo, das opções Vendas Novas, Poceirão e Rio Frio, que inicialmente não entravam nas contas do Governo. “Levámos cerca de três anos, com apoio de empresas com larga experiência, a validar e desenvolver o projecto do aeroporto de Santarém. Estranhamos que em três meses a CTI tenha sido capaz de validar três novas localizações para grandes aeroportos, sem apoio de experiência comparável. É que em Portugal não se constroem aeroportos há mais de 60 anos”, observa.

Batata quente nas mãos do próximo Governo
A demissão do actual Governo e a realização de eleições legislativas em Março de 2024 lançam um manto de imprevisibilidade sobre o futuro próximo. Por isso perguntámos a Carlos Brazão se ainda tem esperança que um novo Governo possa rever e reabrir o processo, ou se dificilmente poderá fugir às recomendações técnicas da CTI. “Qualquer novo Governo terá dificuldade em lidar com uma recomendação de empenhar mais de 20 mil milhões de euros dos contribuintes, quando há soluções alternativas de custo zero para o Estado, que tanta necessidade tem de investimento noutras áreas como a Saúde”, responde.
“Estamos a falar de oito mil milhões de euros para o aeroporto de Alcochete, mais uns seis mil milhões para as infraestruturas de acesso, mais a recém-anunciada 4ª travessia do Tejo … Como os custos e os prazos sempre derrapam, estaremos a falar provavelmente de mais de 20 mil milhões de euros ao longo de 12-15 anos. E, como ficou visto pelas entrevistas subsequentes da presidente da CTI, sem ideia de como se pode financiar a não ser com dinheiro dos contribuintes, e essencialmente sem retorno, já que se encontra em zona concessionada”, enfatiza Carlos Brazão.
A intenção dos promotores do Magellan 500 era implementar a fase 1 do projecto em cinco anos e meio, o que já incluía o processo de compra dos terrenos no concelho de Santarém. A presidente da CTI manifestou, no entanto, dúvidas de que o aeroporto em Santarém pudesse estar a funcionar dentro de um prazo de cinco ou sis anos, como foi anunciado. O que leva Carlos Brazão a concluir que há quem tenha “dificuldades em compreender que um consórcio privado pode trabalhar eficientemente”.

Mais Notícias

    A carregar...
    Logo: Mirante TV
    mais vídeos
    mais fotogalerias

    Edição Semanal

    Edição nº 1694
    11-12-2024
    Capa Vale Tejo
    Edição nº 1694
    11-12-2024
    Capa Lezíria/Médio Tejo