Advogada Tânia Reis e consultor forense condenados a penas de prisão
A advogada de Alverca, Tânia Reis, que defendeu Rosa Grilo, foi condenada pelo tribunal a prisão com pena suspensa por um crime de favorecimento pessoal por estar envolvida na plantação de provas na banheira do triatleta Luís Grilo. Defesa pode recorrer.
O Tribunal de Vila Franca de Xira alinhou-se com o que já pedia o Ministério Público e condenou no final de Novembro a advogada de Alverca, Tânia Reis, que defendeu Rosa Grilo, a seis meses de prisão com pena suspensa. Também o consultor forense e ex-agente da Polícia Judiciária, João de Sousa, foi condenado, neste caso a um ano de prisão com pena efectiva. Foram ambos condenados pela prática, em co-autoria, de um crime de favorecimento pessoal, por terem plantado provas na casa onde o empresário e triatleta Luís Grilo foi assassinado pela esposa e pelo amante desta, na tentativa de conseguirem a libertação ou a absolvição de Rosa Grilo em tribunal que, como se sabe, acabou por ser condenada à pena máxima de 25 anos de cadeia.
Tânia Reis e João Sousa, recorde-se, chamaram as autoridades e a comunicação social dias antes do julgamento de Rosa Grilo terminar para relatar que tinham encontrado dois fragmentos de projécteis e invólucros na banheira da moradia onde vivia o casal, tentando dessa forma dar força à teoria de que o crime fora cometido por outras pessoas.
Para o tribunal ficou provado que Tânia Reis e João de Sousa quiseram descredibilizar a actuação da Polícia Judiciária mas sem sucesso, já que nas diversas deslocações à casa do casal Grilo, nas Cachoeiras, em Vila Franca de Xira, nenhum dano existia na banheira da casa-de-banho nem nenhum invólucro de bala se encontrava no interior da gaveta da cómoda ou do guarda-jóias.
A juíza que assina a sentença, Catarina Silva, considerou a culpa dos arguidos “muito intensa” e que estes agiram “com o propósito de plantar vestígios, de forma a serem criadas dúvidas quanto à investigação” realizada pela Judiciária e, com isso, iludirem a actividade probatória “de forma a beneficiar Rosa Grilo suscitando dúvidas quanto à sua culpabilidade e visando prejudicar a boa administração da justiça”.
Pior, para o tribunal, foi terem negado todos os factos de que eram acusados, “denotando total ausência de sentido crítico face à ilicitude das suas condutas” não tendo mostrado arrependimento. O tribunal considerou que todas as buscas na casa de Luís Grilo foram feitas com grande minúcia e que se aqueles objectos estivessem nos locais indicados “com toda a certeza os órgãos de polícia criminal encontrá-los-iam”. A juíza considerou que ao chamar os jornalistas ao local após a alegada descoberta dos vestígios permitiu alimentar o que disse ter sido um “circo mediático”.
Defesa pode recorrer
Sobre Tânia Reis, o tribunal valorou o facto de não possuir antecedentes criminais e estar inserida social e profissionalmente para concluir que a censura do facto e a ameaça de prisão “realizam de forma adequada e suficiente” as finalidades da punição, pelo que o cumprimento da pena foi suspensa.
Medida diferente foi tomada em relação a João de Sousa, onde pesou o facto de já ter cumprido no passado uma pena de prisão efectiva após ter sido condenado por um crime de corrupção passiva, um crime de violação de segredo profissional e um crime de recebimento indevido de vantagem. Os arguidos ainda poderão recorrer da sentença. Os advogados de defesa contestaram a interpretação que o Ministério Público fez dos factos, pediram a absolvição e sublinharam que os arguidos nunca pretenderam promover manobras dilatórias ou impedir a boa prossecução da justiça no processo do homicídio do triatleta Luís Grilo.
Uma advogada mediática
Tânia Reis é um rosto conhecido em Alverca por ter sido, sobretudo, advogada de vários protagonistas de homicídios que chocaram o país. Além de Rosa Grilo, também defendeu Diana Fialho (que matou a mãe adoptiva no Montijo), Kelly Oliveira (a mãe que matou os dois filhos em Alenquer) e Maria Malveiro, que matou e desmembrou o namorado no Algarve. Agora é também a advogada de Olegário Borges, o avô de Vialonga suspeito de ter morto a neta à facada e que está ainda a correr termos na justiça.
Em entrevista publicada em 2014 em O MIRANTE, Tânia Reis dizia que a honestidade e o sigilo profissional eram as maiores virtudes de um bom advogado. Nasceu no hospital militar da Lapa, em Lisboa, mas desde a infância que vive no concelho de Vila Franca de Xira. Optou pela profissão quando estava a terminar a escola secundária. A área criminal sempre a fascinou, muito por influência da família - tinha tios militares e também o pai era militar. “Quando já era advogada cheguei a concorrer para inspectora da Polícia Judiciária mas não passei nos testes físicos”, confessava. Não saber o que poderia acontecer no seu dia-a-dia era algo que a desafiava. “Não é qualquer pessoa que tem estofo para isto”, confessava, na conversa que pode ser lida na edição online de O MIRANTE.