Um projecto pioneiro que visa a reabilitação dos ecossistemas ribeirinhos
O GEOTA, através do programa Rios Livres, trabalha para promover, proteger e reabilitar os ecossistemas ribeirinhos portugueses. Num seminário realizado no Politécnico de Santarém apresentaram-se soluções para proteger um recurso natural que está constantemente ameaçado pelas barreiras que o Homem cria.
Como tornar o rio e os desafios à sua conservação e reabilitação um tema interessante e motivador foi a proposta que o programa Rios Livres, do Grupo de Estudos e Ordenamento do Território e Ambiente (GEOTA), lançou a jornalistas, autarcas e especialistas na área como tema de debate, que decorreu na quinta-feira, 14 de Dezembro, no Instituto Politécnico de Santarém. Com painéis abrangentes e dinâmicos, debateu-se a necessidade de “promover, proteger e restaurar os rios em prol das pessoas e da natureza”.
Ana Catarina Miranda apresentou o programa começando por afirmar que os ecossistemas ribeirinhos são dos mais biodiversos e os mais intensamente afectados pela actividade humana. A bióloga, que faz parte de uma equipa composta também por Regina Falcão e Lígia Vaz Figueiredo, referiu que em Portugal existem cerca de 13 mil barreiras (barragens e açudes) que alteram o fluxo natural dos rios e impedem, entre outras coisas, a migração das espécies, o transporte de sedimentos e a conectividade entre habitats. “Os programas governamentais continuam a promover novas barragens ao longo do país. É preciso capacitar os municípios relativamente às boas práticas de reabilitação fluvial”, vincou, acrescentando que existem no país muitas barreiras obsoletas que têm impacto ecológico negativo.
Projecto pioneiro no Alviela
O projecto “Rollin’Rivers” é pioneiro na promoção de uma mudança comportamental e da reabilitação dos ecossistemas ribeirinhos e da conectividade fluvial em Portugal. Integra pessoas, conhecimento e acção para promover o bom estado ecológico dos ecossistemas ribeirinhos, em linha com as directrizes e estratégias europeias em prol da ação climática. A sub-bacia do Alviela é vista como laboratório de estudo.
No local, num troço de 100 metros do rio Alviela, realizou-se a recuperação da conectividade fluvial e da galeria ribeirinha, tendo sido o GEOTA a primeira organização de ambiente em colaboração com municípios a remover uma barreira em Portugal. “Foi o primeiro passo para a implementação de uma estratégia nacional de remoção sistemática de barreiras obsoletas”, explicou Ana Catarina Miranda. “É prioritário reaproximar as comunidades dos rios na sua envolvência, promovendo oportunidades recreativas, culturais e artísticas, incentivando também a criação de mecanismos participativos de maior proximidade”, sublinhou. A Agência Portuguesa do Ambiente, os municípios de Santarém e Alcanena são alguns dos parceiros estratégicos deste projecto.
À margem/Opinião
Um seminário que não deixou ninguém indiferente
O workshop promovido pelo GEOTA é um bom exemplo de como é possível, assim haja vontade, de sensibilizar e motivar pessoas e entidades para uma cidadania activa. Entre muitas informações partilhadas, falou-se do facto de “cada um euro investido na reabilitação dos rios é equivalente a oito euros em benefícios, como o abastecimento de água, alimentos, controle de cheias”, entre outros. Falou-se também do projecto Alviela 7.7, que prevê a reabilitação de sete quilómetros no rio Alviela e 700 metros no rio Centeio, afluente do Alviela. O projecto envolve um investimento total de 840 mil euros e pretende diminuir o impacto das cheias e a minimização de riscos de inundações.
Nicolau Ferreira, do jornal Público, falou sobre jornalismo ambiental, e os trabalhos terminaram com uma mesa-redonda onde se debateu como os media locais e regionais podem contribuir para a participação pública e na salvaguarda dos ecossistemas ribeirinhos. O MIRANTE foi um dos intervenientes numa conversa onde se abordaram assuntos como a intervenção na ribeira de Rio de Moinhos, o facto da Renova ter vedado o acesso à nascente do rio Almonda, em Torres Novas, entre outros.