Sociedade | 27-12-2023 18:00

Médica que trabalhou sem receber em Assentis lamenta forma como processo foi conduzido

Júlia Rebelo trabalhou mais de uma centena de horas sem ser ressarcida. Fala num processo conduzido “em cima do joelho” e rejeita culpas pela falta de emissão de factura. Assunto foi debatido na Assembleia Municipal de Torres Novas.

A médica Júlia Rebelo, que aceitou dar consultas aos utentes da freguesia de Assentis através do programa Bata Branca, lamentou a O MIRANTE a forma como o processo da sua integração no projecto foi conduzido mostrando alguma amargura por ter sido tratada de forma “arrogante” e “hostil” simplesmente por tentar reclamar dinheiro que lhe era devido pelas horas de trabalho. “Comecei a trabalhar em Outubro e nunca recebi, nem tenho nada assinado. Foi tudo muito à pressa para começarem o projecto, feito em cima do joelho, mas pensei que pelo menos fossem pagar, pelo menos uma parte, mas não, não me pagaram nada”, disse a profissional de saúde que trabalha no Hospital de Tomar do Centro Hospitalar do Médio Tejo.
Embora estivesse ciente do atraso da assinatura do protocolo Júlia Rebelo garantiu que nunca lhe foi explicado no início, nem pela Misericórdia de Torres Novas nem pela câmara, que esse facto pudesse levar a atrasos no pagamento. Admitindo que o que a atraiu para este projecto foi a parte económica, diz que assim que começou a questionar o atraso no pagamento foi tratada com arrogância.
Sobre a justificação dada pelo presidente da Câmara de Torres Novas, Pedro Ferreira, para não ter havido pagamento por parte da autarquia (15 euros/hora a somar aos 27 euros/hora pagos pela ARS), Júlia Rebelo garante que apenas recebeu os dados para a emissão da factura à Misericórdia a 12 de Dezembro. “O presidente enviou-os na terça-feira. Não me disse o valor nem para onde enviaria”, disse adiantando que facturou as 155 horas que trabalhou e enviou o documento para a Misericórdia e câmara municipal.
Saída da médica debatido na assembleia municipal
A saída de Júlia Rebelo do projecto Bata Branca, noticiada na edição de 14 de Dezembro de O MIRANTE, foi assunto na Assembleia Municipal de Torres Novas, realizada a 18 de Dezembro, com o eleito João Silva, também presidente da Assembleia de Freguesia de Assentis, a questionar se o Bata Branca é para continuar para lá de 2023 e se vai ou não oferecer garantias de que vai haver médico – de forma estável – naquela freguesia. Júlio Costa, da CDU, afirmou que a falta de médicos é um problema que cabe ao Governo resolver e que medidas como o projecto Bata Branca visam apenas “colocar um penso rápido para esconder feridas abertas”.
“Temos que nos mentalizar que enquanto não houver médicos de forma regular estamos sempre sujeitos a um médico que parte porque apanha melhor”, disse, em resposta, o presidente do município, lembrando que, além do Bata Branca, Torres Novas tem um pacote de incentivos à fixação de médicos de família.
Pedro Ferreira afirmou ainda, e fez questão de mostrar, que a factura da médica chegou ao município a 12 de Dezembro para ser enviada à Santa Casa da Misericórdia. “Como é que iam pagar antes?”, questionou, sublinhando que a mesma entidade já tinha pago ao médico da Chancelaria, que continua ao serviço através do Bata Branca, dando a entender que no caso de Assentis a falha foi da médica. O autarca adiantou que a nova médica que vai substituir Júlia Rebelo já visitou o posto médico de Assentis e que o Bata Branca é para continuar para lá de 2023.

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