Nos Bombeiros do Entroncamento trabalha-se muito com poucos recursos e apoios
Os Bombeiros Voluntários do Entroncamento são constituídos por homens e mulheres que se entregam à causa e trabalham diariamente para garantir o bem-estar da população. O MIRANTE conversou com dois operacionais que deram o seu testemunho de como é pertencer a um efectivo onde o trabalho de equipa faz a diferença. Presidente da associação sublinha excelente trabalho com poucos recursos e apoios.
Os bombeiros têm sido desvalorizados com o passar dos anos e é preciso reconhecer mais o esforço que fazem pelo bem-estar das populações. Esta é a opinião de Bruno Rodrigues e Erica Gonçalves, bombeiros na corporação do Entroncamento. O MIRANTE conversou com os operacionais em vésperas da noite de Natal, um dia como outro qualquer para os dois bombeiros, uma vez que o passaram a trabalhar e longe das famílias. Bombeiro desde 2014, Bruno Rodrigues passou a quinta noite de Natal consecutiva ao serviço, deixando em casa a filha e a esposa. Erica Gonçalves, de 19 anos, está a cumprir o primeiro ano como voluntária, tendo entrado para a associação do Entroncamento no dia 1 de Setembro de 2023. “É difícil passar o Natal separada da família, mas quando temos familiares que nos apoiam e entendem torna-se mais fácil” admite.
Ambos entraram para os bombeiros por influência familiar. A mãe de Bruno Rodrigues ainda é operacional em Lisboa, de onde é natural, tendo cumprido cinco anos de serviço naquela corporação antes de se mudar para o Entroncamento. Erica Gonçalves decidiu ser bombeira no Entroncamento para seguir as pisadas do pai, que também já ali foi operacional. A jovem, natural de Abrantes, decidiu dedicar um ano ao voluntariado na associação antes de ingressar no ensino superior, no curso de medicina. “Apesar de estar mais na central, faço um pouco de tudo. Achei que seria benéfico para a minha carreira experimentar e estou a adorar até agora”, garante, com um sorriso no rosto.
Bruno Rodrigues faz parte da emergência médica e tem o curso de técnico de ambulância e socorro. Para Bruno Rodrigues o lema dos bombeiros “vida por vida” reflecte na perfeição o espírito vivido dentro do quartel, onde as palavras de ordem são, entre outras, sacrifício e trabalho de equipa. Erica Gonçalves nota cada vez mais que o papel de bombeiro na sociedade é de extrema importância. “Por vezes a nossa presença, em determinadas ocorrências, é o suficiente para tranquilizar as pessoas” afirma. No entanto, ambos afirmam que o bombeiro tem vindo a ser desvalorizado com o passar dos anos. “Só se lembram de nós no Verão, na altura dos incêndios. No resto do ano há a ideia generalizada e errada de que só fazemos um ou outro serviço de transporte pontual” lamenta Bruno Rodrigues. Erica Gonçalves acrescenta: “por vezes falo com os meus amigos e quando lhes explico todos os serviços que fazemos durante o ano ficam surpreendidos”, revela.
Quanto aos casos mais marcantes que tiveram pela frente, Erica Gonçalves recorda a tentativa de suicídio de uma jovem da sua idade. Admite que deixar de lado as suas emoções para prestar socorro é um dos grandes desafios de ser bombeira. Bruno Rodrigues aponta duas situações: pela positiva o primeiro parto doméstico que realizou; pela negativa um acidente rodoviário em que foi obrigado a avaliar o estado das vítimas e de onde resultou a morte de uma criança de oito anos. “Fui acompanhado pelo psicólogo nos dias seguintes. Foi uma situação muito dura. Durante alguns dias nem conseguia olhar para a minha filha, por me lembrar da criança”, desabafa, emocionado.
Trabalho de excelência com poucos recursos e apoios
Carlos Amaro é presidente da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários do Entroncamento há três anos, tendo tomado posse no mês de Dezembro de 2023 para mais três anos de mandato. O dirigente afirma que tem sido uma gestão difícil, com poucos fundos e recursos parcos. Explica que quando assumiu a presidência, o principal objectivo foi tentar melhorar o que existia. “Durante os três anos de mandato estivemos sempre focados na comunidade e no controlo de custos operacionais. Uma das prioridades foi também a formação e melhoria das competências dos funcionários, para dignificar o corpo”, explica a O MIRANTE, acrescentando que o apoio das autarquias são importantes mas que precisam de ser mais bem definidos, uma vez que não chegam para ter as condições ideais de trabalho e melhores equipamentos.
Carlos Amaro lamenta que o modelo de bombeiro voluntário esteja a cair em desuso. “Há cada vez menos pessoas dispostas ao voluntariado, é um problema geral, não só do Entroncamento. Somos obrigados a recorrer, muitas vezes, a profissionais e isso representa mais custos. O modelo do bombeiro voluntário está a ficar esgotado”, lamenta o presidente da associação. Para os próximos três anos de mandato, a ambição é melhorar o equipamento de protecção individual, novo fardamento, rentabilizar as funções, apostar na formação e competências académicas dos bombeiros e melhorar o parque de viaturas de socorro.