Sociedade | 10-01-2024 15:00

A professora do Tramagal que tem ajudado a salvar vidas

A professora do Tramagal que tem ajudado a salvar vidas
Verónica Ferreira tem histórias de salva vidas que são pouco comuns e que a fazem concluir que está sempre onde é precisa

Verónica Ferreira é uma professora do Tramagal que está há sete anos colocada em Santarém. Ao longo da sua vida já prestou, por mero acaso, primeiros socorros a vítimas de acidentes, tendo o último sido ao motociclista abalroado junto ao Convento de São Francisco, em Santarém.

Verónica Ferreira, 46 anos, é mãe e professora e defende a formação em primeiros socorros em todas as escolas e que as caixas de primeiros socorros devem estar visíveis e abertas ou com chaves por perto. A professora de primeiro ciclo, natural do Tramagal, e colocada em Santarém há sete anos, tirou formação em primeiros socorros, socorros pediátricos e tem ajudado a salvar vidas em vários acidentes, por mero acaso. O caso mais recente foi o do motociclista abalroado por uma carrinha de caixa aberta na rotunda junto ao Convento de São Francisco, em Santarém, a 11 de Dezembro.
No dia do acidente, Verónica Ferreira estava de carro a caminho de uma pastelaria no centro histórico de Santarém. Quando se deparou com o aparato, procurou logo intervir e nem teve tempo de retirar a mala de primeiros socorros do carro, tendo de recorrer ao que tinha à mão. Usou um batom para conseguir tirar uma aliança, uma folha para perceber se respirava com esforço e uma lanterna para ver se as pupilas estavam dilatadas. Mas o primeiro passo foi ver se a vítima estava consciente e identificar-se. Explica que consegue ter a percepção do nível de consciência pelas perguntas que vai fazendo e que mantêm o acidentado consciente. Verificou a pulsação, desabotoou a camisa e o cinto para respirar melhor e desatou os atacadores dos sapatos para permitir uma melhor circulação do sangue. “É muito importante que confiem em nós e que saibam o que estamos a fazer”, vinca. Segundo a socorrista formada na Cruz Vermelha de Abrantes, é também importante obter informações sobre potenciais doenças e medicação e transmiti-las aos bombeiros.
Os casos que mais marcaram Verónica em todo o seu percurso foram dois falecimentos que não conseguiu evitar: o de uma criança de sete anos em Alpiarça que atravessou a estrada a correr; e o seu primeiro grande susto, há cerca de 20 anos, com um homem de idade que sofreu um ataque cardíaco no metro em que seguia e que conseguiu reanimar por momentos com respiração boca-a-boca. O acidente ocorreu quando regressava da escola em São João do Estoril, no concelho de Cascais, onde esteve colocada. “Achava que o tinha recuperado e que, entretanto, chegava alguém com oxigénio”, recorda emocionada, revelando que tem presentes os gritos dos passageiros em pânico a perguntar por médicos e enfermeiros nas carruagens e que ficou algum tempo na estação de comboios de Santarém a digerir toda a situação.
A professora que “está sempre lá”
Verónica Ferreira sofria de hipoglicemia e desmaiava com frequência no secundário, em Abrantes. O seu historial e uma das viagens que realizou com a turma de comboio, acompanhados por um membro da Cruz Vermelha, despertaram-na para a importância dos primeiros socorros e começou como voluntária a dar auxílio em hospitais, peregrinações a Fátima, festas e eventos. Hoje admite que o que mais a irrita “são as pessoas que param nos acidentes para olhar e tirar fotos e que por vezes provocam outros acidentes”. Em Dezembro último socorreu um homem de 31 anos, em Almeirim, num acidente idêntico ao que aconteceu em Santarém. O maior desafio, conta, foi acalmar a vítima, preocupada com a mota que ficou partida ao meio, único meio para se deslocar para o trabalho; e com a esposa grávida prestes a dar à luz em Santarém.
A professora de primeiro ciclo é mãe de um rapaz com 21 anos e de duas raparigas, uma com 18 e outra com oito. Os primeiros socorros foram úteis para salvar o filho de um engasgamento com esparguete e uma das filhas com um crepe quente. No seu dia-a-dia já se deparou com um alcoólico caído, desmaios em supermercados e nas escolas. O mais comum são os sangramentos no nariz, onde se comete o erro de inclinar a cabeça para trás, diz. Verónica Ferreira reforça que a informação das doenças e necessidades da crianças devem ser passadas a professores e funcionários, que têm obrigação de saber actuar perante cada situação. De futuro vai inscrever-se na formação sobre desfibrilhadores e inscreveu-se no curso de primeiros socorros psicológicos. Entre episódios menos bons, destaca, em jeito de despedida, na conversa com a jornalista, um momento caricato num restaurante em Abrantes, onde estancou com cinza de um cigarro o sangue de um colega de mesa que se cortou num copo. “Estou sempre lá”, remata.

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