Bombeiros denunciam retenção de ambulâncias nos hospitais por falta de macas
Denúncia chegou através dos Bombeiros de Castanheira do Ribatejo, que tiveram o socorro em risco por causa de ambulância retida mais de 24 horas num hospital, mas é transversal à região.
Liga dos Bombeiros quer aplicação de taxas extra, já o ministro da Saúde defende um sistema que evite reter macas de ambulâncias nos hospitais.
Macas, ambulâncias e bombeiros retidos longas horas nos hospitais são problema recorrente na região ribatejana que provoca uma diminuição da capacidade de socorro à população. A situação foi recentemente denunciada a O MIRANTE pelo comandante dos Bombeiros Voluntários de Castanheira do Ribatejo, Bartolomeu Castro, que na tarde de 4 de Janeiro não tinha tripulação disponível para responder a ocorrências de socorro pré-hospitalar devido à retenção de meios nos hospitais em Setúbal e Vila Franca de Xira.
Segundo o comandante, uma das ambulâncias chegou a ficar retida mais de 24 horas no Hospital de São Bernardo, em Setúbal, porque a unidade hospitalar não libertava a maca da viatura que tinha transportado o doente. A juntar a isso, disse, “parece que querem que os bombeiros sirvam de maqueiros a transportar os doentes de serviço em serviço porque dizem que não sabem operar com as macas” das ambulâncias.
A retenção de ambulâncias, que a 4 de Janeiro fez com que durante algum tempo os Bombeiros de Castanheira do Ribatejo não tivessem meios de socorro disponíveis, é problema igualmente sentido na Póvoa de Santa Iria, a cidade mais populosa do concelho de Vila Franca de Xira. “Existe retenção de ambulâncias e macas, nomeadamente no Hospital de Vila Franca de Xira e no Hospital de Santa Maria. É uma situação recorrente”, adianta o comandante dos Bombeiros Voluntários da Póvoa de Santa Iria, António Carvalho.
300 euros por sete horas de retenção
O comandante dos Bombeiros da Póvoa de Santa Iria respondia a O MIRANTE a 8 de Janeiro, dia em que a Liga dos Bombeiros Portugueses (LBP) discutiu, em reunião do conselho executivo, a aplicação de taxas aos hospitais pela retenção de macas de ambulâncias que ultrapassem a primeira hora, que está incluída no transporte do doente urgente. A proposta, segundo explicou o presidente da LBP, António Nunes, prevê a aplicação de uma taxa suplementar de 50 euros nas primeiras duas horas para além da hora inicial, de 100 euros no segundo bloco de duas horas e de 150 euros no terceiro bloco de duas horas, ou seja, uma penalização que pode chegar aos 300 euros por sete horas.
António Carvalho explica que, por si só, a maior afluência de doentes ao serviço de urgência nesta altura do ano leva a “uma maior cadência no transporte de doentes” e, por vezes, a “um esgotamento da capacidade de resposta”. No entanto, ressalvou, os Voluntários da Póvoa de Santa Iria têm, de forma geral, conseguido assegurar a resposta.
No Médio Tejo, mais precisamente em Torres Novas, os bombeiros têm também conseguido garantir a resposta, mas porque, sublinhou o comandante, dispõem de seis ambulâncias de socorro. Até porque nessa zona, abrangida pelo Centro Hospitalar do Médio Tejo, também não é raro haver retenção de ambulâncias por mais de uma hora, sobretudo no Hospital de Abrantes, indicou José Carlos Pereira, acrescentando que chega a ser feita uma “triagem” às ambulâncias que estão há mais tempo retidas para que possam ser libertadas primeiro que outras.
Uma das situações que dificulta ainda mais disponibilidade de meios é, sublinhou, o facto de os hospitais de referência não terem nalguns dias alguns serviços disponíveis, o que obriga a que as ambulâncias tenham que seguir para outros hospitais, inclusive noutros distritos. “Já tivemos que ir para Lisboa porque a pediatria estava fechada em Torres Novas”, adiantou.
A aplicação de taxas defendida pela LBP deve-se à ocorrência de centenas de casos de doentes que têm ficado à espera de atendimento nos hospitais nas macas dos bombeiros ou até mesmo dentro das ambulâncias, o que impede a utilização das viaturas de socorro para outros episódios de urgência. A LBP abordou a medida em reunião com a direcção executiva do Sistema Nacional de Saúde, realizada a 9 de Janeiro, dia de fecho desta edição. Um dia antes já o ministro da Saúde, Manuel Pizarro, veio considerar incompreensível que os hospitais não encontrem um sistema para evitar a retenção de macas dos bombeiros rejeitando que o problema esteja generalizado a todo o país.